quarta-feira, 27 de março de 2013

S'IMBORA COM CAMÕES

Acho bom que Camões permaneça na porta da Biblioteca Mário de Andrade, sobretudo para atrair os tímidos, indecisos e incautos. Que se mantenha sempre atento, com seu único olho bom  o outro é roto  para ajudar a propagar nossa língua, inclusive incentivando os aventureiros a também lançarem mão dela.

Afinal em Camões o meio e a mensagem se sobrepõem um ao outro, intercambiáveis. O poeta nas suas obras usava,  inventava e normatizava o falar do mar português, tudo ao mesmo tempo.

Antes dele o Português era um balburdia, sem léxico nem lógica, sem sintaxe nem prosódia. Cada autor inventava sua própria forma de expressão pessoal, e, quando dois autores coincidiam, era por mero acaso. Afinal não havia um paradigma, um modelo aceito pela comunidade inteira de bocas falantes.

'Nossa pátria é a língua portuguesa', diriam Fernandos Pessoas pluralizados em heterônimos, ou 'Comigo me desavim / sou posto em todo perigo / não posso viver comigo / nem posso fugir de mim.' alertaria Sá de Miranda, em 1481, talvez antecipando as futuras fraturas e agruras do Português.

Camões precisou escrever 8920 versos, 1115 estrofes e emparelhar milhares de rimas para explicar como a língua  de Gonçalves Dias, Bilac, Machado de Assis,  Adoniran, Chico, Caetano e cantores de Rap em geral  deveria ser e soar.

Sempre com engenho e arte.

4 comentários:

  1. Quem dera eu pudesse escrever em versos. Quem dera eu pudesse escrever e me fazer entender.Quem dera todas as palavras fossem assertivas.Expressar-se através das palavras é uma das mais difíceis artes.Parabéns Douglas Bock.

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  2. Que prazer recebe-la, Margareth Tredice, sua palavras enfeitam e valorizam este espaço.

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  3. Certa vez ouvi de um professor de Português que "se a Literatura Mundial pegasse fogo, mas sobrasse a obra de Camões, a Literatura, ainda assim, continuaria rica."

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  4. Obrigado pela atenção. Com algumas negociações eu concordaria completamente como o seu professor.

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