quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

AUSÊNCIA DE SIRIUS

Por volta de 74/75 era muito difícil acompanhar e entender o que acontecia. Os jornais vigiados saiam trucados e censurados, com receitas de bolos e cantos de Camões nas páginas políticas. Boatos e notícias incertas, provocativas e exageradas prosperavam. Passávamos muitas noites na USP conversando e discutindo Filosofia, Literatura e Política.

Nos meses frios baixava uma neblina que cobria o campus inteiro com um manto de irrealidade. Parecia  a metáfora perfeita para nossas inquietações: ávidas, ansiosas, excessivas e desfocadas.

Esperando o ônibus circular, era como estar suspenso no meio de um aglomerado estelar. Horas surreais. A Cidade Universitária inteira se vestia de brumas, leitosas, impenetráveis e ofuscantes. Somente alguns edifícios e solitários postes de iluminação eram visíveis.

Ausência de Sirius resultou num poema nublado e descontínuo  uma ode oclusa. Cifrado, repleto de ecos, ressonâncias, aliterações e rimas internas. Cheio de reiterações, repetições e retomadas. Talvez por isso valha a pena ser lido.

Foi publicado num jornal xerocado chamado Exegese do Óbvio. Nome de um poema do meu primeiro livro, na coletânea: Sol Na Garganta (clique>>).


Texto Completo: AUSÊNCIA DE SIRIUS
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Passeando no Bosque dos Bispos

Para tomar um café no 'Giramundo' (Rua Marconi) ou 'Floresta' (Copan) o melhor caminho é cruzar o Bosque dos Bispos. Um capão com alamedas sombreadas que cobre a Praça Dom José Gaspar, entre a Biblioteca Mário de Andrade e a Galeria Metrópole. Existe uma história interessante sobre este local, uma lenda urbana ramificada em várias versões.

Enquanto trabalhava no Monumento às Bandeiras Victor Brecheret, nas horas vagas, esculpia seu famoso 'Fauno'. O Prefeito Prestes Maia viu o modelo em terracota e calculou que ficaria muito bem acomodado no parque que planejava construir nos fundos da Biblioteca Municipal. Queria atender o desejo do Arcebispo – Dom José Gaspar, que morreria num acidente de avião, em 1943, junto com Cásper Líbero – expresso na cessão do terreno, sugerindo que preservassem ás arvores, porque gostava de orar na sombra delas.

O 'Fauno' foi para o local escolhido, bem atrás do prédio da Biblioteca Municipal. Mas o povo achou que era um deus pagão e começou a receber prendas e velas votivas. Aquela devoção não agradou os paulistanos que começaram a resmungar: “Bem ali! No gazebo! Na sombra das árvores onde bispos e arcebispos oravam e liam seus breviários? Parece provocação!” 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

DILEMA LUNAR - 'Em Português'

A vibrátil e ubíqua escritora e poetisa portuguesa Ana Júlia Machado (de Vianna do Castelo) – por brincadeira – transliterou meu poema ‘Dilema Lunar’ (do livro 64 Dilemas <Clique>) para um 'dialeto' lusitano, um jeito de falar mais clássico e castiço.

O resultado ficou belo, intrigante e instigante, outra poesia, quase outra língua, cambiante como a Lua e misterioso como o Oceano. Inaudito, cheio de espantos, surpresas, sugestões e assombros.