Nesta casa sem graça, comum e
camuflada – Rua Gama Cerqueira, 154 / Cambuci – morou Alfredo Volpi, talvez o
maior pintor brasileiro. Durante muitos anos ali foi seu atelier, de lá saíram milhares de obras primas (entre 3 a 5 mil), hoje imensamente valorizadas. Entretanto, nenhuma placa homenageia o mais ilustre
e fiel morador do bairro.
Muitos críticos, prêmios e
estudos recentes têm apontado e consagrado o ítalo-paulistano como o mais
criativo e revolucionário pintor nacional. Na Bienal de 1953/54, aquela que
exibiu Guernica e mudou a geografia da Arte no Brasil, a indicação do melhor
artista foi dividida entre Volpi e Di Cavalcanti. A contagem da votação registrou 8 a
1 para Di, mas como o ‘1’ era Herbert Read – a grande autoridade internacional
especialmente convidada – então a eleição previamente combinada (conforme relata
Décio Pignatari), teve que ser reformada para um empate. Os 'modernistas' nunca
engoliram direito esta nova matemática.
Curioso o percurso de Volpi.
Começou como pintor de parede e decorador das mansões paulistas; em 1912 cometeu sua primeira tela; em 1940
integrou o Grupo Santa Helena; só em 1953/54, quando premiado pela 2ª
Bienal, virou figura nacional.
No princípio era um paisagista
naïf, pintou marinhas, casarios, fachadas e barcos, no meio disso eclodiram as
bandeirinhas, que viraram sua marca registrada. Através delas tornou-se um
mestre colorista e um refinado abstrato parônimo.
Coincidência intrigante, as
bandeirinhas são contemporâneas da Bossa Nova e do Cinema Novo. Um portal estético-temporal aberto que permitiu ao Brasil ousar um jeito diferente e inesperado, com formulas simples, de resolver as eternas e inextrincáveis equações da Arte.
Contudo o ‘ingênuo’ Volpi foi muito mais além,
surfando na onda da guerra fria inventou a sofisticada e
engajada série ‘Ogivas’, que dialoga com a possibilidade do colapso
armamentista e o perigo do Armagedom provocado. Ou seja, pensou no mesmo
horizonte de eventos dos outros grandes movimentos artísticos mundiais da época.
Uma exposição acontecida em
Londres em junho/julho 2016 – no viés de novas reavaliações – questionou se Volpi seria mesmo ‘naÏf’. Interessantes tempos, talvez a fama do pintor cresça ainda mais no
futuro, numa rota alterada e amplificada. Deixando para trás as chaves e
avaliações da Semana de 22.
Publicação relacionada:
7 MESTRES BRASILEIROS - ALFREDO VOLPI
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muito bom...
ResponderExcluirObrigado pela visita e comentário, Sonia.
ResponderExcluirA genialidade dele está em persistir num tema com criatividade, de forma que podemos identificar o autor sem considerá-lo repetitivo! As suas pinturas trazem à tona a ingenuidade de quem as admira, então nós é que deveríamos ser considerados "naïf"...
ResponderExcluirWilson Colocero, obrigado pelo comentário. Volpi estudou muito Giotto, era um colorista fantástico, sua pintura ficou clássica, começava com a preparação do pigmento. Seus quadros, mesmo quando parecem iguais, variam imensamente nas cores.
ResponderExcluirUm marchant amigo meu, certa me me disse que as famosas bandeiras de Volpi eram baseadas na vista que ele tinha da Vila dos Ingleses.
ResponderExcluirValeria a pena conferir.
Paulo Daneu, Tudo Bem? Obrigado pela dica, mas deve ser uma lenda urbana.
ResponderExcluirSou fissurado no Volpi, considero um dos 7 maiores pintores brasileiros. Tenho várias gravuras dele nas minhas paredes, uma delas adquirida da filha do pintor. Faz tempo comprei o CD com todas suas obras conhecidas.
As ‘bandeirinhas têm três origens conhecidas e confirmadas por ele:
a) Festas de S. João.
b) Enfeites de barcos de pescadores (aparecem em centenas de marinhas dele no litoral paulista.
c) Uma idealização das fachadas coloniais.
Curiosamente no tempo da Guerra Fria, as bandeirinhas se transformaram em ogivas atômicas.
Veja esta imha gravura da Série Ogivas. https://www.youtube.com/watch?v=3SgPfUToooc