quarta-feira, 20 de abril de 2016

ANJO DO CASTELINHO DA RUA APA


O Crime do Castelinho da Rua Apa é a tragédia favorita dos paulistanos. Porém, o que poucos sabem, é que existe um ‘anjo’ que sobreviveu por décadas à história.

O imbróglio eclodiu em 12 de maio de 1937, uma quarta feira. Convocada, a polícia encontrou três cadáveres num palacete com torrinha na Avenida São João. A mãe (Maria Cândida Guimarães dos Reis, 73) – a vítima maior - mais dois filhos (Álvaro Cézar dos Reis, 45, e Armando Cézar dos Reis, 43). Conclui-se por assassinato duplo e suicídio, apesar das incongruências na dúbia cena dos crimes.

Naquele momento a cidade, empoderada pela industrialização, surfava numa enorme onda de crescimento. O morticínio aconteceu na região mais sofisticada de S.Paulo, os Campos Elísios, e envolvia a nata da elite bandeirante. Álvaro, o playboy, vítima ou assassino múltiplo, era um ‘sportman’ celebrado, dono de cinema, exímio e conhecido patinador e proprietário da primeira moto ‘Indian’ que estridulou pelas avenidas da paulicéia desvairante.

Talvez seja nosso mistério preferido porque deixou um castelo abandonando e em ruínas, carregado de persistentes relatos de fantasmas vagantes e intranquilos reivindicando justiça. Virou um alfinete magenta-piscante enterrado no mapa da cidade.

O Castelinho – enfim e aleluia - foi restaurado. Era a intervenção mais reclamada e exigida em todos os grupos e sites que cuidam da memória de Sampaulo.

Entretanto, o ponto mais extraordinário dessa história, a estrela de maior grandeza dessa galáxia de versões, enigmas e lendas que se expande vertiginosamente em torno do crime pela Internet, é o “Anjo do Castelinho da Rua Apa”. Uma personagem menor, comprimária nessa ópera sangrenta. Talvez seja imprescindível destacar alguma coisa radiante – além do bem e do mal - para contrastar essa desgraça tão cheia de desamor.

‘Baby’ – a Dona Maria Cândida da Cunha Bueno, namorada de Álvaro, o playboy, que foi apontado pela polícia como homicida e suicida. Era uma destas mulheres excepcionais, capazes de parir as virtudes do mundo.

Escassamente fotografada, Baby, da alta burguesia paulista, era uma libertária intrépida e prematura. Atropelava todas as convenções conservadoras da época. ‘Separada’ do marido, quando isso era proibido por Deus e pelos homens, por dez anos 'ficou’ junto com o namorado, quando esta expressão ainda nem tinha sido inventada.

Contudo, o mais espantoso da saga, foi sua absoluta fidelidade ao amado morto. Sempre defendeu a inocência do parceiro, afirmava o que o matador era o irmão mais novo, Armando, o moço 'sério, mas de espírito maligno'.

E não para aí, o mais bonito desse drama insólito é que Dona Maria Cândida da Cunha Bueno, a perpétua Baby, que viveu quase reclusa por 51 anos, tinha uma missão sagrada – desde o crime em 1937, até sua morte em 1988, com 97 anos – todo mês, dia 12, para prantear a morte do parceiro querido, levara flores no túmulo do amante, no Cemitério da Consolação.

Mais ainda, depois de morta deixou parentes encarregados desta obrigação e prova de amor, que, garantem, ainda é cumprida até hoje.



Túmulo da Família Reis no Cemitério da Consolação



Foto rara de ‘Baby’
Dona Maria Cândida da Cunha Bueno

Em 07/abril/17 na reinauguração do Castelinho da Rua Apa, Andreia Venturoso afilhada de Dona Baby comentou duas vezes esta publicação e colocou uma fotografia rara da 'Anja do Castelinho'.

Andreia Venturoso Essa história é verdadeira e dona Baby é minha madrinha de batismo, me comove sempre em lembrar, ela faleceu em 1988 com 97 anos

Andreia Venturoso Essa foto é do meu batizado em 1971! Madrinha Baby a esquerda