Ouvindo comentários sobre o Oscar 2015 levei um choque de desfibrilador. Uma jornalista de Moda, comentando sobre os desfiles no ‘tapete vermelho’, argumentava que as atrizes optaram por vestidos mais contidos e minimalistas porque não queriam parecer ‘frívolas’.
O primeiro espanto foi a escolha do adjetivo ‘frivola’ em 2015, me pareceu datado e disfuncional. O segundo choque veio junto com uma questão: mas o
‘tapete vermelho’ não é o símbolo icônico da frivolidade?
Parece que não. Ou não mais. As divas, lideradas por Cate
Blanchett, reclamavam que no ‘tapete vermelho’ são questionadas apenas sobre
roupas, modas e joias; raramente indagam acerca dos seus trabalhos nos filmes.
Será que será? Apesar de passarem semanas escolhendo modelos,
em verdadeiros conselhos estratégicos de guerra, não querem conversar sobre o
que estão vestindo, usando e exibindo?
Desfibrilador de novo. O que estava acontecendo? As moças estavam
repudiando a frivolidade como um comportamento reprovável ou reinvidicando a frivolidade como uma atitude socialmente aceitável, tanto que nem era mais preciso conversar sobre ela?
Fui no dicionário conferir e repensar 'frivola' e 'frivolidade'.
Fui no dicionário conferir e repensar 'frivola' e 'frivolidade'.
Dá para apostar que todos homens e mulheres que
gostam de ler, em algum nível de consciência, têm objeções à ‘mulher frívola’, Foram séculos de propaganda e doutrinação. “Marcela
amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”. Este é o modelo temido da mulher frívola, repetido por Machado de Assis em ‘Memorias Póstumas’ e por toda a literatura
romântica e realista, brasileira e mundial. A mulher leviana, fútil, falsa e
interesseira era o demônio. Só perdia para a cortesã. E quase sempre se
confundia com ela.
Mas exatamente o que é uma ‘mulher frívola’? A mais repetida
crítica endereçada ao contingente feminino na Literatura, Teatro, Cinema e Televisão? Artes-espelhos nas quais os atos humanos são analisados?
Pesquisando definições e descrições das 'mulheres frívolas', dá
para isolar dois componentes no conceito:
a) fútil e consumista; b) volúvel e leviana. E normalmente ‘a’ implica em ‘b’. Mas não é necessária esta conexão, nem verdadeira estatisticamente.
A consequência ‘volúvel e leviana’ acontece em tramas que tendem ao trágico ou ao dramático. Para contrabalancear, nos romances, novelas e filmes, também existem incontáveis
mulheres ‘fúteis e consumistas’ que vivem felizes e fazem a felicidade dos maridos. Talvez a peça ‘Casa de Boneca’ seja um clássico porque desmonta
as falácias desse mecanismo.
Voltando ao Oscar – o melhor lugar do mundo e o mais ressonante microfone para discursos arrevesados ou disparatados. Quem sabe as atrizes, representando as mulheres
que trabalham e se sustentam (e segundo várias pesquisas, com melhores resultados
do que os homens) estejam apenas reivindicando o direito de serem fúteis e consumistas. sem serem discriminadas ou recriminadas.
O que as vezes significa fazer simplesmente o que gostam. Afinal trabalham muito para comprar o que querem. Como os homens, quando viram colecionistas obsecados ou assistem horas de esportes na TV.
O que as vezes significa fazer simplesmente o que gostam. Afinal trabalham muito para comprar o que querem. Como os homens, quando viram colecionistas obsecados ou assistem horas de esportes na TV.
Sobre o segundo componente do conceito ‘mulher frívola': a leviana e
volúvel? Bem isso é igual ao ‘homem galinha’ faz parte dos acertos e desacertos
da vida, nesta nova reengenharia dos casais com poderes e direitos iguais.