segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CAPELA DOS PATRIARCAS - MOSTEIRO DE SÃO BENTO


No meio do miolo de S. Paulo, no último andar do Mosteiro de S. Bento, lá no alto, como um campanário numa realidade alternativa, se esconde a Capela dos Patriarcasuma das mais belas, místicas e luminosas da cidade. Preservada para uso restrito do monges, internos e alunos do mosteiro, colégio e faculdade.

Um espaço isolado e reservado, com riquíssimos vitrais e lindas pinturas, que, por longo tempo, esteve fechado, interditado para reformas. Parece um pedacinho da Alemanha transportado para S. Paulo. As pessoas que o conheciam talvez já tenham esquecido, e, depois da reabertura, com restauração parcial, foi muito pouco visitado.

Um esconderijo mágico, fora do tempo e do mundo profano. Porque capelas sempre têm alguma coisa de frutas secas, guardam dentro delas um sabor agridoce, úmido, ao mesmo tempo antigo e novo; preservam o cheiro, o calor, o mistério e a frescura dos tempos passados, ou da vida eterna quem sabe, Sempre protegidas por cascas rugosas.

A capela iluminada é uma construção recatada, resguardada, de louvor e de fé. Está sobrecarregada de referências, ilustrações e citações das mais preciosas lendas e símbolos do catolicismo tradicional. Sabedoria antiquíssima, para muitos cifrada e desconhecida, mas que, silentes e dúbias, carregam as tradições mais profundas da cultura ocidental.

É impressionante como S. Paulo guarda preciosidades danbrownianasescondidas; daria para escrever dezenas de outros ‘Códigos da Vinci’. Por exemplo a cripta do Pátio do Colégio, os subterrâneos da Catedral da Sé (com os ossos de Tibiriçá, o cacique que garantiu a sobrevivência paulistana) e centenas de outras, secretas, obliteradas, em propriedades particulares, ou com acesso restrito.


Teto estrelado da Capela dos Patriarcas



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

1925 - 'OVERDUBBING' - FIM DA FIDELIDADE NAS GRAVAÇÕES


Overdubbing [...] is a technique used in audio recording, whereby a performer listens to an existing
recorded performance, and plays a new performance along with it, which is also recorded. (Wikipedia)

Por consenso, 1925 marca o fim da era de gravações acústicas, até então o processo de produção de discos utilizava exclusivamente artefatos e princípios mecânicos, sem qualquer componente elétrico ou eletrônico. O som, captado por um imenso cone, movia uma membrana; que agitava uma agulha; que cavava um sulco numa superfície de cera. A reprodução fazia o caminho inverso: a agulha percorria a trilha fazendo vibrar uma membrana que gerava o som, amplificado por um cone. Mais analógico impossível, a fissura escavada no disco guardava fisicamente a memória exata do movimento que a produziu.

Este sistema cinético demandava energia, que, no momento da captação, era fornecida pelos artistas e pelos aparelhos musicais. Por isso os cantores necessitavam ter voz potente e os músicos instrumentos possantes, tanto que virtuoses camerísticos e instrumentos intimistas não funcionavam bem. Um banquinho e um violão não serviam. Os acontecimentos musicais precisavam invadir, avassaladores e grandiloquentes, os megafones para serem corretamente registrados, por isso os cantores berravam e os conjuntos e as orquestras se comprimiam barulhentos defronte a boca maior do cone acústico.



terça-feira, 22 de outubro de 2013

7 EPÍGONOS INTEMPESTIVOS + DÉDALO

W. H. Auden
“... as coisas por eles escritas
Irão, ao pé da página, numa nota erudita,
Para uma geração mecanizada desprezar...”
Os Epígonos (trad. José Paulo Paes)



DÉDALO
Filho de Metion, construtor de brinquedos eróticos para a rainha Pasifae – a zoófila – poder copular com o touro de Poseidon; arquiteto do Labirinto, para esconder pesadelos e aberrações; e criador do homem alado, para fugir do palácio-enigma. Viveu assediado pelas Fúrias da tragédia, porque matou o homem que inventou a roda.


BORGES, J.L.
Jorge Luis Borges e quase todas as manifestações dele viveram exilados num apartamento de Buenos Aires onde desaguam os rios da América do Sul – e quiçá do mundo. Ponderando que a realidade e o mundo é um quebra cabeça incompleto, que cada peça é um Labirinto, um Aleph, um Zahir ou uma Biblioteca da Babilônia, que aliás são todos sinônimos e intercambiáveis.

JOYCE, J.
James Joyce, revisitando odisseias pelas ruas de Dublin, descobriu que as línguas são Labirintos, construídos de signos, sons, conotações e significados; que as frases são corredores que se bifurcam, trifurcam e ramificam; que as palavras são aberrações e quimeras que habitam pátios, praças e esquinas; e que os Minotauros vivem em grandes manadas silenciosas.

ESCHER, M.
Maurits Escher vive num mundo não-euclidiano e bidimensional, No estreito vão entre o real e a fantasia. Jogou fora 
o ontem, o hoje, algumas dimensões e todas as leis da Física. Porque tudo acontece junto no perene aqui-agora de suas ilustrações. Concentrado na precisão e transcendência do traço, por um lapso, virou um lápis.


SCHÖNBERG, A.
Arnold Schönberg, o dodecafônico, estudava com afã cabala e numerologia. Abominava o número sete e, como triscaidecafóbo, temia o número 13 e seus derivados. Gostava de ordem e concórdia, excessivamente. Nasceu e morreu no dia 13, numa sexta-feira, 13 minutos antes da meia noite, com 76 anos, 7 + 6. A sua última palavra foi ‘harmonia’.
Deus o que dá para fazer depois de Beethoven? Bom... Embaralhar de novo a Música?


TURING, A.
Alan Turing  Pai da Computação e da Inteligência Artificial, matemático, maratonista, homossexual e defensor dos direitos das máquinas e robôs – venceu a inteligência nazista e foi quimicamente castrado pela burrice britânica. Fã de Branca de Neve, morreu mordendo uma maça saturada de cianureto.
Tudo isso para criar o logo da Apple. Stephen Fry entrevistando Steve Jobs:
– “Mentira?"
– “It isn't true, but God we wish it were!”




HAWKING, S.
Stephen Hawking – devagar como as estrelas fixas e célere como a dispersão das galáxias – se despojou de tudo para virar mente pura e contemplar o Ser eterno e infinito. Não a divindade velada e destorcida da Teologia, mas o Deus de Espinosa que se manifesta e se confunde com Sua obra. Agora, ensina aos homens multi-conectados os segredos dos atos-pensamentos, que dilatam o Tempo e entretecem o Espaço.


WITTGENSTEIN, L.
Ludwig Wittgenstein só tinha uma certeza: ‘Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar. Assim, se dividiu em dois para ter com quem conversar. Ambos saíram em peregrinação, atravessaram o Século XX e duas guerras. Quando contavam suas aventuras as pessoas ouviam atentas, porém duvidavam do sentido das palavras.