sexta-feira, 23 de junho de 2023

2023/maio/15 – Castel del Monte - Puglia / Itália


Vi fotos do ‘Castel del Monte’, muitas. Me espantava sempre o arrojo e a modernidade da arquitetura, a desafiante beleza da construção.

Precoce, porque foi construído em 1280, uma excrescência frente aos ‘riscos’ e desenhos dos outras fortificações daquela época.

 Não existe nenhum castelo como ele. Na verdade não deveria nem ser chamado de castelo. Não possui cozinha, nem estrebaria, nem depósitos de alimentos. Seus sistemas de defesas são belos, mas ineficientes.

É uma joia, um jogo de xadrez octogonal, uma escultura, um relógio de sol, um enigma, a replica em pedra de uma coroa, um desafio de Geometria.

A concepção é atribuída a Frederico II da Suábia, por acaso grande amigo de Leonardo Fibonacci, que brincava com sementes de infinitos, por isso incontáveis dúvidas persistem, multiplicando-se.

Infelizmente, no dia que consegui visita-lo, choveu imensamente. Quem sabe tenha sido um aviso. Devo mantê-lo na memória assim onírico, nebulado, envolto em brumas e neblinas.


domingo, 18 de junho de 2023

2023/maio/28 – Reggio Calabria / Italia

Para conhecer os fantásticos e incomparáveis ‘Bronzi di Riaci’  – do século VII a.C. - é preciso atravessar incontáveis camadas de Tempo e viajar para a unha do dedão da Itália: Reggio Calabria, cidade resiliente, tatuada por terremotos.

No mundo inteiro existem cinco estátuas helênicas de bronze completas, duas delas (as melhores, já visitei as outras três) resistem no Museu Nacional da Magna Grécia.

Porque são tão raros os bronzes clássicos? Porque existem tão poucos?

Por causa do material. São de bronze. Nas guerras antigas os primeiros escolhidos para virarem armas. Estas duas obras de arte salvaram-se porque permaneceram – até ontem, 16 de agosto de 1972 - quietas e submersas, a 6/8 metros, numa praia do Mar Jônico, sul da Itália. Naufrágio, descarte de peso? Anda não sabemos a verdade inteira. 

Foram descobertas por um mergulhador amador guiado pelo acaso.

O mais importante, porém, vai além desse enredo de Indiana Jones, está nas próprias obras.

Fiquei longo tempo apreciando essas duas excrescências maravilhosas, são impressionantes. Não sei se a qualidade artística delas foi ou será algum dia alcançada novamente? Acho que não. Cada nervo, torção, gesto, zona corporal é perfeita. E, pode-se descartar o acaso, as tramas da sorte nos deram duas, uma confirma a outra.


segunda-feira, 12 de junho de 2023

2023/mai/18 – Ceglie Messapica – Puglia/Italia

Passei trinta dias (maio/23 inteiro) de carro, visitando o litoral da Itália. De Veneza a Sorrento/Capri. Barriga da perna, tornozelo, calcanhar e pé da bota. Com o desmesurado privilegio de poder degustar a variada e viciante cozinha da península.

Isso não é pouco, nem fácil. Agora cada vez que pedir um prato italiano, preciso considerar que tenho registrado na cabeça um paradigma, talvez imbatível.

Porém – o inesquecível – foi uma ‘lasanha a carbonara’ que os deuses me serviram em Ceglie Messapica, cidade de menos de 20 mil habitante, entre Monopoli e Brindisi.

Devo esse favor – aproveito para agradecer – à Poste Italiane. Estávamos perdidos vagando pelas ruas desertas de Ceglie Messapica, sob o sol do meio dia, quando um carteiro que nos observava resolveu intervir.

- ‘Posso aiutarli?

Respondemos num brasiliano do Brás.

- ‘Estamos procuramos um buono restaurante’

- ‘Ti dirò cosa mi piace di più.’ E nos ensinou a chegar lá.

Erámos os únicos clientes, avisado, o dono esperava de mesa posta.

Italiano? Na dúvida sempre peço lasanha. Era simples, sem molho, sem nada, as camadas da divina massa italiana eram intercaladas por recheios de queijos e temperos e sobravam tostadas de todos os lados.

Comi devagar, economizei e não reparti com ninguém.