segunda-feira, 18 de novembro de 2019

5 Tons de Riplay



Patricia HIghsmith está entre meus assassinos intelectuais prediletos. Num time em que 5 ou 9 matadores participam de uma corrida em rodizio Pat agora está com o bastão por causa da anunciada minissérie que revisitará toda a Ripliad - as cinco novelas com o personagem Tom Ripley.

Depois de uma carreira secreta da autora em HQ (e quase namoro com Stan Lee) rápido virou ícone do cinema. Em 1951 Alfred Hitchcock filmou seu plot ‘Pacto Sinistro' e ela ganhou fama. O primeiro Ripley foi publicado em 1955, em 1960 já migrou para a sala escura. Por cinco vezes o criminoso irresistível e simpático foi transportado paras as telas.

1960 - O Sol por Testemunha / René Clément / Alain Delon
(Plein soleil / Purple Noon)

1977- O Amigo Americano / Wim Wenders / Dennis Hopper
Der amerikanische Freund


1999 O Talentoso Ripley / Anthony Minghella / Matt Damon
(The Talented Mr. Ripley)

2002 - O Retorno do Talentoso Ripley / Liliana Calvani / John Malkovich
(Ripley's Game)

2005 Ripley no Limite / Roger Spottiswoode / Barry Pepper
(Ripley Under Ground)


Não estou com a maioria, mas, desse quinteto agridoce, prefiro o filme de 1999. O velho Malko tem uma caixa de mágicas, combina magnificamente a crueldade amoral e impessoal do herói com sua construída elegância dúbia e sua inquieta inadequação social. A mão de Liliana Cavani é firme e delicada. Além de muitas óperas tem na lista ‘O Porteiro da Noite’, uma biografia de São Francisco e uma minissérie sobre a quântica vida de Einstein.

O quinto na minha avaliação é Wim Wenders, apesar do Ripley de chapéu cowboy homenageando James Dean.

Rigorosamente as tramas de Pat Highsmith não são novelas policiais, porque antecipadamente sabemos que o assassino é Ripley. Também, em geral, os crimes acontecem por acaso, oportunidade, necessidade e de forma não planejada. A curtição e fissura é transferida para as peripécias de Tom tentando arranjar as coisas para escapar da cadeia e se dar bem. Sim porque ele sempre se dá bem e despudoradamente torcemos para isso.

Tom Ripley é fora dos padrões, não tem (e nem sente falta) da dimensão moral, sua consciência e adaptável (num dos filmes diz que seus remorsos duram três dias). Contudo não é perverso, tem e respeita uma rigorosa ética pessoal: 
mesmo que de forma retorcida a vítima precisa ter merecido o castigo. Praticar um crime é somente um incidente, um aborrecimento operacional, desses que resolvem definitivamente as coisas. Suas transgressões são como as mentiras sociais que utilizamos no dia a dia. Inevitáveis para contornar longas explicações e fugir da intransigência e grosseria latentes das relações humanas. Ao longo dos filmes acabamos aceitando essa lógica enviesada e concordando com ele. 

A vida é mais porosa do que parece, porque depois de ler o tijolo de 800 páginas - ‘A Talentosa Highsmith’ de Joan Schenkar - ficamos na dúvida quem é mais complexo: a dúbia criatura ou a oscilante criadora. Vamos ver o que a série dirá?

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

10 FILMES SOBRE A ARTE DA FALSIFICAÇÃO


Gosto de filmes sobre roubos e falsificações de obras de artes, especialmente envolvendo pinturas. Quase sempre são inteligentes, inesperados e intrincados. Enredos criativos e intrigantes repletos de surpresas, reviravoltas, nós e sofisticadas ‘pegadinhas’ na trama.

Outro dia, conversando com amigos, me desafiaram a fazer a lista dos dez melhores. Concordei em aceitar a aposta, mas avisei que as regras que utilizaria para definir o conjunto seriam as mais elásticas, tolerantes e abrangentes possíveis. Como se não houvessem limites.

Abaixo a lista, ordenado pela minha apreciação pessoal. Recomendo todos.

1) Thomas Crown, A Arte do Crime (1999) / John McTiernan

(The Thomas Crown Affair)

2) O Melhor Lance (2013) / Giuseppe Tornatore

(La migliore oferta)

3) Minha Obra-Prima (2018) / Gastón Duprat

(Mi obra maestra)

4) Tim's Vermeer / Teller

5) Beltracchi - A arte da Falsificação / Arne Birkenstock

(Beltracchi - Die Kunst der Fälschung)

6) Ripley no Limite (2005) / Roger Spottiswoode

(Ripley Under Ground)

7) Um Golpe Perfeito (2012) / Michael Hoffman

(Gambit)

8) Toda Arte é Perigosa (2019) / Dan Gilroy

(Velvet Buzzsaw)

9) Grandes Olhos (2014) / Tim Burton

(Big Eyes)

10) Tudo Pela Arte (2019) / Giuseppe Capotondi

(The Burnt Orange Heresy) 

Aprecio especialmente as dicas para boas falsificações, são muito úteis, inclusive para a Literatura. Minha mania e prazer tem motivo, estou escrevendo uma série contos/missivas que chamo de ‘Cartas Possíveis’. São correspondências que poderiam ter acontecido entre dois personagens famosos da História ou da Literatura.

Por exemplo, uma carta de Lovecraft para Borges, outra de Carolina (mulher de Machado de Assis) para Eça de Queiroz ou, a mais recente, de Ricardo Reis (o heterônomo de Fernando Pessoa) para Mario de Andrade.

Esses filmes estão repletos de boas dicas de mistificações.






sábado, 5 de outubro de 2019

PARA ENTENDER H.P.LOVECRAFT



H.P. Lovecraft está entre os principais atratores estranhos da Cultura Pop. Em torno dele – e por causa de sua maciça criatividade – gravitam milhares de obras, franquias e movimentos, em quase todas as modalidades artísticas: Literatura, Jogos, Cinema, HQ... Entretanto a verdadeira importância do autor e a vária abrangência de sua obra que não são ainda completamente conhecidas. 

Por causa disso gostei muito do livro Relances vertiginosos do desconhecido: a desolação da Ciência em H.P.Lovecraft. É inovador, destemido e inesperado em dois aspectos decisivos.

Ponto um. O turvo mestre é apresentado considerando o panorama, as referências e as circunstâncias históricas em que viveu e trabalhou, porém a autora nos mostra HPL inserido na grande Literatura do início do século XX. Ressaltando que, apesar da maioria de seus escritos terem sido publicados apenas nas revistas pulp fiction que veiculavam a Literatura mais popular de sua época, os questionamentos científicos em seus contos avançam muito mais longe.

Ponto dois. A abordagem de análise do projeto literário do Horror Cósmico, proposto por HPL, se utiliza da mais avançada Filosofia disponível para tratar dos paradigmas, abrangência e limites das Ciências.

No livro, oriundo de uma tese de mestrado, o exame da trajetória de HPL é absolutamente bem documentado. Todos os enunciados e deduções que a autora propõe são amparados por cuidadosas citações de fontes seguras e bem conceituadas.



Assim ficamos sabendo que o Cavalheiro de Providence, mesmo vivendo numa pequena cidade da Nova Inglaterra, opera com questionamentos literários convergentes com as interrogações do magistral poeta T.S.Eliot (Nobel de 48), que, com A Terra Desolada (1922) e Os Homens Ocos (1925), revolucionou a Poesia moderna inglesa. Ambos artistas sentiram o mesmo mal-estar resultante do fim de um ciclo civilizatório. Desconforto que vai resultar na vasta quebra de padrões e ousadias das Artes Plásticas europeias.

Quando a autora discute os objetivos remotos do Horror Cósmico utiliza como guias Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, listados entre as principais balizas da Filosofia da Ciência do século passado.

Não é pouco, nem banal dar conta dessa empreitada. E ainda levamos de brinde duas detalhadas análises de um par de contos do cara: Um sussurro nas trevas e Nas montanhas da loucura.

Curiosamente as duas histórias terminam recomendando cuidado com os limites e responsabilidades da Ciência. Não espanta que seja o mesmo alerta com que Wittgenstein – apontado como um dos quatro grandes filósofos do século passado – encerra seu livro mais importante, Tractatus logico-philosophicus, de 1922. “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”.

domingo, 7 de julho de 2019

A MAGNITUDE DA 'ÚLTIMA CEIA'


Os grandes museus da Europa vivem lotados, é difícil apreciar bem e com tranquilidade quaisquer dos grandes obras primas e ícones: 'Monalisa', 'A Ronda Noturna', 'As Meninas', 'Guernica'... Uma salutar exceção é a ‘Última Ceia’ de Leonardo da Vinci,

O mais conturbado (e talvez mais reproduzido) dos trabalhos de Leonardo não se encontra em nenhum museu, é um afresco imenso pintado na parede do Refeitório da Igreja de Santa Maria delle Grazie em Milão. Uma imensa tela de cinema, tem 8,80 metros de largura por 4,60 de altura. Ocupa uma parede inteira de um vasto salão.

A obra pode ser confortavelmente apreciada por causa do inteligente esquema montado pela igreja mantenedora. São formados grupos de (+-) 15 pessoas que podem permanecer sozinhos 15 minutos dentro do refeitório. Tempo suficiente para se deliciar com a fantástica criação do Mestre de Vinci.

Estas precauções são para evitar multidões (como as que lotam a Capela Sistina), a agitação poderia comprometer a fragilidade do aventuroso afresco, vulnerável às variações de temperatura, iluminação e qualidade do ar.

A visitação é feita em media luz e os ingressos são poucos e precisam ser reservados com muita antecedência. Contudo vale a pena o privilégio de ver aquela maravilha milagrosamente preservada, com cuidado, atenção e vagar. Trata-se de um dos pontos de torção da representação de imagens na cultura ocidental. A montagem da cena, com todos os comensais do mesmo lado da mesa, virou um modo de mostrar reuniões adotado pelo Teatro, Fotografia e Cinema.

A pintura tem uma história acidentada, começando pelas inadequadas escolhas de técnicas pictóricas adotadas pelo Mestre Leonardo. O salão passou por guerras, foi estábulo, uma porta invadiu o espaço da pintura e os pés dos personagens foram decepados ao longo do tempo. Calamitosas restaurações foram permitidas, contudo, ainda, e apesar dos percalços, continua sublime.

Ficar defronte um quadro desse magnitude é um ponto de torção na compreensão da relação entre o tamanho da obra e a proposta do artista. Intuir que uma parte importante do efeito que o autor pretendeu produzir está na amplitude. Não adianta ver fotos, reproduções, filmagens, nada substitui a sensação de apreender o impacto da grandeza da pintura, conviver com o original e poder apreciar ao vivo o efeito que a vastidão da  obra provoca. 

segunda-feira, 22 de abril de 2019

CONTOS DE AUDIOFILIA - eBook

(- audiofilia = ouvir música com equipamentso de alta qualidade -)

Publicado em 2013 em papel (quase esgotado) com um interessante prefacio da Holbein Menezes, o Decano da Audiofilia Brasileira
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15 histórias falando dos excessos, extravagancias e descaminhos das pessoas envolvidas com o hobby da Audiofilia. A vida cotidiana tornada incomum por causa paixão pelos equipamentos de som.
** Três falam do dia a dia dos audiófilos. N’O Céu dos Audiófilos' Deus é convocado para decidir. Em 'Diana Krall Não Tem Culpa' e 'O Bushido de Shobim e o Castelo de Som' Suzette e Inês tentam resgatar os maridos abduzidos pelas delícias da Audiofilia.
** Quatro narrativas tratam dos excessos de amor pelo hobby. 'Wagner Croesus – Uma omissão na História da Audiofilia' é sobre a megalomania sonora. 'O homem que Ouvia ‘Cacos’ conta um caso de perfeccionismo maníaco. 'O Cafofo do Dr. Aluízio' empilha causos, engodos e ambiguidades. 'O Audiófilo da Sala das Esferas' explora bizarrices: quantas pessoas existem dentro de um audiófilo?
** 'Mãe Gracinha de Fúcsia e o ‘Terreiro' da 46th St' e 'Uma sala para Nina Simone' falam das mulheres envolvidas com a Audiofilia.
**  Outro quarteto de contos aborda singularidades da Historia da Música. 'Newton, Handel, a Lady e a Pinga do Alberg'. encontro dos gênios da Física e da Música. ‘Ménage à trois’ com Clara Schumann' imagina dois triângulos amorosos onde a grande pianista é o vértice. ‘Belle de jour’ e ‘A noiva do vento’ sobrepõem Catherine Deneuve, a esposa infiel de Buñuel, e Alma, a esposa de Mahler, num caso de amor juvenil. 'Nexo azul' brinca com os enigmas da produção da histórica gravação de Jazz: A Kind of Blue.
** Por fim 'Buda no Sweet Pont e 'O Inexorável Avanço das Flores de Sal' arriscam enredos extraordinários envolvendo personagens e motivos invulgares magicados pela sutil arte da Audiofia.


quarta-feira, 10 de abril de 2019

DUNAS - Lynch e Villeneuve e Rachael


Faz muito tempo estamos ansiosos pelo Duna de Villeneuve, recentemente liberaram um trailer, que todo mundo assistiu. Me pareceu um bom momento para rever e revisitar o Duna antigo, de 1984, dirigido por David Lynch

Lembrava de um semi desastre atrapalhado e esquisito, provocado por desencontros, desacertos e desmedidas. Um gozo anunciado que nunca acontece. Nem a força da belíssima história concebida por Frank Herbert, revivida com um luminoso e competente elenco, com atores experimentes, estrelados, e de comprovado apelo e capacidade, conseguiram salvar o filme inteiro. Uma receita que não deu certo, camarões cozidos com casca de batatas e óleo de rícino, que nem a porção (spice) teve o poder de redimir.

Até Sean Young – a Rachael dos 'Blade Runner's de 1982 e 2017 – como Chani, a bela namorada de Paul Atreides, está perdida e esfarelada na produção. Uma atriz belíssima, quando entra em cena sempre é o ponto vermelho da mira laser, atrai todos os olhares. Antecipando a replicante perfeita, seu rosto mítico parece compreender e prever tudo. Transmite fragilidade, empatia, solidariedade e sabedoria absoluta, vai além do destino do herói e da trama. Mas é atriz de silêncios eloquentes, para sequências de poucas falas, ótima para sugestões e promessas.

Uma princesa de contos de fadas, cujo arco emocional inteiro se resume no beijo. Certamente faria imenso sucesso como modelo para pintores dos séculos XVIII e XIX. Contudo um poeta já explicou isso tudo, antes e melhor: “beleza é fundamental”.

Não é impossível – pelo que antecipa o trailer – que a versão antiga seja reavaliada.

terça-feira, 26 de março de 2019

Anarquistas – Um Exercício de Moralidade


Anarquistas – Guerra Civil Espanhola – Um Exercício de Moralidade’.
Era o nome da monografia que escrevi, em maio de 1996, para o Curso ‘História Ibérica I’, do Prof. José Carlos Sebe Bom Meihy, no Departamento de História da USP.

Consegui nota nove e alguns comentários do mestre (publicados junto com a monografia, abaixo).

No trabalho revisitava quatro pontos:
– a Guerra Civil Espanhola como principal e maior conflito de conscientização politica do século XX;
– dificuldades dos acordos firmes entre Anarquistas (libertários, individualistas e moralistas) e Comunistas (movimentos de massas);
– o Anarquismo como uma pulsão endêmica, ou alarme de perigo iminente, que as pessoas têm contra a massificação e excesso de autoridade; e
– presença do Anarquismo na Internet em 1995.

Foi boa ideia abordar a Internet e sondar sua abrangência em maio de 96. Na ocasião fiz duas buscas no ‘AltaVista’ (o Google daqueles dias) com dois argumentos: ‘anarchism’ e ‘spanish civil war’. Refazendo as pesquisas em março de 2019, foi interessante confrontar os resultados (ver acima).
  
Será que na Internet ainda existe espaço para o Anarquismo? Redes Sociais são a estera dos Anarquistas?

Texto completo: Anarquistas – Um Exercício de Moralidade 

Anarquistas - Um Exercício de Moralidade 



quarta-feira, 20 de março de 2019

Casas Suspensas da Rua Genebra – Tudo pode mudar


A Rua Genebra – uma homenagem a Dona Genebra de Barros Leite (1783-1836), esposa do Brigadeiro Luís Antônio de Souza e de José da Costa Carvalho – agora é descontinua para carros, porque foi cortada pela Rua (antes avenida) Dona Maria Paula, sogra do seu filho (Barão de Souza Queiróz) e meio paralela a Rua Francisca Miquelina, sua filha. Uma região familiar, quase um mapa genealógico.

Pequena, tem apenas três quarteirões, um do lado do Centro e dois no miolo do velho Bixiga.

As residências da foto – no quarteirão do meio - são remanescentes das primeiras décadas do século XX. Até os anos 50 enfeitavam o topo de uma pequena colina do lado ímpar da Maria Paula, tinham portas ao nível da rua e vista para o centro da velha S.Paulo. Porém, depois da construção do Edifício Planalto (1953) e as intervenções da Prefeitura para oferecer melhores facilidades urbanísticas, as casas, de repente, ficaram suspensas, feito gaiolas dependuradas no alto de um paredão, longe da rua. Acesso difícil. Então começou o longo período de decadência.

O bom é que, surpreendentemente, nos últimos dois anos – como mostram as fotos – melhoraram muito. É bom ver S.Paulo criando jeito e juízo.

Gostaria de agradecer a Alexandre Giesbrecht, de quem emprestei a foto antiga, e recomendar seu excelente artigo: ‘As casas suspensas da Rua Genebra’.

sexta-feira, 15 de março de 2019

3 Edifícios do 'modernista' Gregori Warchavchic


Para aqueles que conhecem o rosto de S. Paulo tem traços marcantes, feições bem definidas e belezas sutis, austeras e discretas. Para estes é fácil gostar e até se apaixonar pela cidade.

Nossa urbe não possui acidentes geográficos espetaculares, como rios, montanhas, praias... Até a tímida Colina de Piratininga – razão da fundação da vila - foi aplainada, engolida por garagens e subsolos dos prédios ou obliterada pelas ruas e construções.

Porém alguns arquitetos souberam inventar, sobrelevar e ressaltar um certo perfil, charme e caráter paulistano. Um bando ousado, diverso e admirável. Pelo prazer de relembrar pode-se falar de Ramos de Azevedo, multiplicado e omnipresente; Christiano Stockler das Neves do Edifício Sampaio Moreira e da Estação Júlio Prestes/Sala S.Paulo;  Copan e as outras três obras de Niemayer; casal Siffredi e Bordelli do Hotel Hilton e das Galerias do Rock e Nova Barão; o colorista extravagante Artacho Jurado dos prédios Louvre, Viaduto e Planalto, para ficar no eixo São Luiz/Maria Paula. Dezenas de artistas que estão por aí, nos prédios e nos livros..

Contudo, quem ousou intervir no jeito Belle Époque da jovem e ansiosa metrópole, dando a ela vieses e escândalos modernistas, foi Gregori Warchavchic. Um arquiteto ucraniano, com especialização na Itália, que migrou para Brasil e se casou com uma herdeira Klabin. Seus primeiros projetos foram as três casas modernistas, a da Vila Mariana, Rua Santa Cruz, 325, e as duas do Pacaembu, Rua Itápolis, 961 e Rua Bahia 1126.

Construídas entre os anos 1928/30 provocaram agito. Foram assumidas como continuação da Semana de Arte Moderna. Le Carbusier visitou e elogiou a residência da Rua Itápolis. Lúcio Costa convidou o autor para dar aulas na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro.


Warchavchic viveu até 1972, aparentemente ativo. É curioso porém, depois disso tudo – comparado a outros arquitetos paulistas – deixou exígua obra construída, pouco apareceu na paisagem paulista. Além das três Casas Modernistas, projetou algumas poucas residências, a sede do Clube Paulistano e o ginásio do Hebraica.

Quanto a edifícios, apenas minguados três.

# 1940 – 
[2] Edifício Mina Klabin na Avenida Barão de Limeira, 1006 – prédio de 5 andares com um visual ainda moderno, limpo e sóbrio, recebeu o nome de sua esposa.

# 1953) – [3] Edifício Cicero Prado na Avenida Rio Brando 1703 – uma construção de 21 andares em formato de ‘U’, perto do viaduto sobre a linha de trem. Tem visual diferenciado. Certamente quem já passou por ele se espantou com a sofisticação e ousadia do projeto arquitetônico. Continua uma bela proposta, ‘um outro jeito de morar', Artacho Jurado aprovaria.

# 1958 – [1] Edifício Santa Margarida na Rua Martins Fontes 159 – modesto e escondido. Trata-se de um conjunto de dois edifícios interligados com fachadas para as ruas Martins Fontes e Álvaro de Carvalho, com garagens lojas e sobrelojas. Tem linhas neutras e comuns, nada denuncia a ‘paternidade famosa’. 

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Queria agradecer ao Matteo Gavazzi (Estadão), que no artigo ‘Um Warchavchik na Rua Martins Fontes’ despertou minha atenção para esta peculiaridade no portfólio do Gregori Warchavchic.


LInk para o artigo de Matteo Gavazzi

Link para as obras de Gregori Warchavchic 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Edifício dos Terraços de Cinema


Quase todos os prédios de Higienópolis têm histórias interessantes, são obras de arquitetos famosos – usavam o bairro como galeria, vitrine para exibição dos seus (deles) talentos. Por isso sempre acabamos descobrindo novas curiosidades envolvendo estes ‘palácios’. 

O Edifício Domus, na esdruxula confluência em ‘U’ das ruas Sabará, Marquês de Itu e General Jardim tem muitas peculiaridades. Os apartamentos são imensos, um por andar, quase 500 m2. Seus arquitetos – Ermanno Siffredi Maria Bordelli – eram formados em Milão e vieram tentar a vida em S.Paulo. Fizeram sucesso, além do Domus e do ex Hotel Hilton (a torre circular que compõe o triangulo ‘magico’ com Itália e Copan), construíram também a Galeria do Rock (ou, oficialmente, Centro Comercial Grandes Galerias), o 'Le Village' (em frente do Espaço Itaú de Cinema), a Nova Barão e o Centro Comercial Bom Retiro. Observem bem, todos conjuntos têm a mesma 'cara'.

Contudo, a curiosidade maior que intriga os caminhantes atentos do bairro é o inusitado desenho dos terraços do Edifício Domus, que envolvem os vastos apartamentos do prédio. Somente entendi o mistério da referência estranha e inusitada quando meu filho, que trabalha com cinema, me revelou o segredo da esquisitice: ‘são rolos de película de antigos filmes de celuloide’.

Na virada dos anos 50/60 o Cinema Italiano, por causa do Neo-Realismo, estava em voga, voando alto, era o principal ‘ismo’. O casal de arquitetos era milanês e fã da sétima arte, por isso resolveu desenhar os terraços homenageando o talento de Fellini, Visconti, Antonioni, Pasolini...

O problema é que agora, cada vez que passo por lá, me dá saudades da Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Claudia Cardinale, Sylva Koscina...

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Série ATROFIA - Caatinga Pós Apocalíptica




Dia 12 de janeiro assisti no MIS (Museu da Imagem e do Som) o episódio piloto da 'Série ATROFIA', seguido por um debate entre o público e os realizadores.

Proposta intrigante. Num futuro indefinido os efeitos colaterais (desconhecidos ou escondidos) de alguns medicamentos provocam uma regressão na capacidade cognitiva de 80% da população, como consequência a produção de bens e serviços do mundo é colapsada. A cena é pós-apocalíptica, num universo decadente, ressequido e desolado vagam os ‘atrofiados’, solitários ou em manadas. Interessados somente em comer, principalmente seus semelhantes. Os poucos ‘salvados’ tentam permanecer vivos e sãos. Também, se possível, garantir a esperança e os sonhos, desejos e valores da civilização.

Não é uma distopia nova, o cinema – desde que ganhamos o superpoder da destruição em massa – têm visitado com prazer, temor e terror esta possibilidade. A 'Série ATROFIA', entretanto, neste novo enfrentamento do tema, apresenta três novidades instigantes.

1. Os ‘atrofiados’ estão vivos, são seres humanos, não zumbis. Pode-se mata-los? Aí reside o cerne da conturbada questão da reivindicação de humanidade. Pergunta que perpassa, por exemplo, a saga Blade Runner.

2. A 'Série ATROFIA' projeta que a paisagem do mundo depois do fim será parecida com a Caatinga. Uma aposta sábia, avisada e promissora. Caatinga e um bioma estranho e único, só existe no Brasil. Não é absurdo argumentar que a Caatinga seja um tesouro visual nacional.

Talvez um dos segredos dos nossos dois grandes sucessos em Cannes, os filmes ‘Cangaceiro’ <1953> (mesmo filmado no interior paulista) e ‘Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro’ (Antônio das Mortes) <1969>, resida exatamente na exploração da Caatinga. Se aproveitaram deste visual retorcido e inusitado para impressionar e cooptar as plateias de Cannes.

3. Fotografia. A paleta de cores e as imagens do filme saturadas de cinza, brutalidade e crueza, sobrepostas à Caatinga, é quase sinergética (entra por todos os sentidos), seca, táctil e ininteligível. Mistura da aurora da Terra com o pós armagedom.

Gostei das ideias, será interessante acompanhar o desenvolvimento da história.

Os produtores informaram que já estão roteirizados os oito próximos episódios. Que sejam logo produzidos.

Abaixo a Equipe do Episódio Piloto.

Diretores                Geisla Fernandes e Wllyssys Wolfgang
Roteiristas              Geisla Fernandes, Rony Saqqara e Wllyssys Wolfgang
Dir. Produção         Fernanda Regis
Dir. Fotografia        Robério Brasileiro e Vinícius Bock
Dir. Artística            Marcio Motokane
Dir. Arte                  Ilana Coelho e Paulo Felipe
Patrocínio               Edital Audiovisual – Funcultura / Fundarpe
Audiovisuais           Cia Biruta de Teatro, Alternativa B Filmes, LA Cine e Video,
Apoiadores             Senai-Petrolina e Prefeitura Municipal de Petrolina
                                Museu da Imagem e do Som (MIS-SP)
                                Abajour Soluções


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

ONG VOCAÇÃO - Faz Diferente


Dia 10/janeiro/19 fui visitar uma ONG diferente, a ‘VOCAÇÃO’, onde uma velha amiga – Anadelli Soares Braz, uma pessoa especial que faz acontecer – é uma das coordenadoras. Entre muitas propostas de trabalho esta ONG tem uma especial, diferente e interessante que me chamou atenção: ajudar os adolescentes da periferia a conseguir o primeiro emprego. Todos nós sabemos, um  bom primeiro emprego muda tudo.

A missão declarada da ONG é mais abrangente: “A VOCAÇÃO, que nasceu com o nome de ‘Ação Comunitária do Brasil’, é uma ONG localizada na Zona Sul da cidade de São Paulo cujo objetivo é fortalecer Projetos de Vida de crianças, jovens, famílias e comunidades”. Certamente cumprem tudo o que se propuseram a fazer, mas levam nota 10 no viés do primeiro emprego.

O projetos de ajudar os adolescentes na obtenção do primeiro emprego é a chave mágica. Este é um momento decisivo, um ponto de flexão determinante para os jovens, que pode consolidar e potencializar tudo o que já foi feito antes. Um momento especial em que a esperança e a confiança são desafiadas.

Trata-se de uma ONG consolidada, esta instalada num prédio no bairro de Campo Limpo, com vasta área administrativa, salas e aulas, reuniões, palestras, cozinha e bloco industrial (fabricam e personalizam brindes). No ano de 2018, por exemplo, atenderam 30 mil crianças e quase mil jovens no segmento de primeiro emprego. Parabéns.

A manutenção básica é garantida por um grupo de empresas, porém a Anadelli explicou que o grosso da grana vem, vejam só, da Nota Fiscal Paulista.

Neste tempo em que o joio e o trigo estão misturados e é difícil separa-los, vale a pena pensar para onde vai nosso dinheiro. Meu voto foi para o Projeto VOCAÇÃO. É fácil contribuir.

Vias de aproximação da ONG VOCAÇÃO:

A Anadelli no Facebbok – Anadelli Soares Braz
 – ela adora falar (desculpe Deli)

https://risu.com.br/ongs/vocacao

Rua Amacás, 243 – Campo Limpo – Telefone 5843 2912

  

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

JANELAS CIRCULARES (Vilma Silva e Douglas Bock)


Foi um prazer e um aprendizado experimentar e me surpreender com) esta parceria com a poeta Vilma Silva.
Aprendi que a sensibilidade é muito mais elástica do que pensava.
Todos os versos e linhas em branco do meu poeminha estão envaidecidos.
Obrigado Vilma