O Parque Savoia, na Rua na Vitorino Carmilo, 458, Campos Elísios (a mesma
onde nasceu Amácio Mazzaropi), sempre me encantou pela arquitetura romântica e elegante. Sobretudo me fascinavam seus jardins internos, secretos e
interditados. Todos fomos criança, sabemos que invadir jardins proibidos é uma compulsão
irresistível.
Já escrevi algumas vezes sobre esta intrigante construção no Blog Paulistando (http://www.paulistando.com.br/2013/03/parque-savoia-lugares-de-outra-sao-paulo.html). Especulava sobre seus mistérios e inventava moradores fictícios, poderia ser o esconderijo paulista para um remake do Sherlock Holmes. Nas minhas caminhadas, as vezes desviava para passar por lá, só para apreciar a fachada, atiçando a vontade de cruzar as grades de ferro e adentrar nos jardins e alamedas da ‘vila’ italiana.
No começo deste ano (2014), descobri que o proprietário, Sr. Salvatore Iungano, participava de alguns grupos do Facebook de que fazia parte, trocamos algumas mensagens e revelei meu desejo. Fui convidado a visitar o parque por dentro. Aceitei agradecido, em junho de 2014 atravessei os portões do paraíso escondido. Entre outras heranças tenho uma avó romana, fiquei siderado com a riqueza de Cultura e História ítalo-paulista guardada na vila.
Antes de começar a falar das maravilhas do Parque Savoia
gostaria de parabenizar o Sr. Salvatore Iungano que – ‘apesar’ das erráticas
leis de tombamento e preservação – mantem este monumento arquitetônico praticamente
sozinho, com muito esforço e dedicação pessoal. É um pedaço de passado embalsamado
e protegido com carinho.
Minha surpresa começou no átrio (debaixo do terraço pergolado da
foto), nele estão gravadas quatro citações ou divisas latinas que ilustram muito
bem o secular peso da sabedoria romana e italiana. Influências que, na virada
do século passado, fecundaram e enformaram a sóbria e refinada cultura paulista, principalmente nas artes plasticas. Vale a pena examinar cada um dos dísticos com atenção, para resgata-los
do esquecimento.
1. Pro aris et
focis – para casa e lareira.
Quem entra no vestíbulo, á sua frente, lê esta frase, que significa ‘pelos
nossos altares e lares’, ou com maior amplitude, ‘por Deus e pelo pais’. Refere-se
aos valores mais sagrados de cada comunidade, virou lema de famílias,
regimentos militares e ligas estudantis pelo mundo afora.
2. Caeli enarrant gloriam Dei, et opera manuum ejus annuntiat firmamentum – Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Do lado direito, o Salmo 19.1 (xviii na foto), parte da liturgia católica, uma declaração explicita de crença no ilimitado poder de Deus.
3. Juris
praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere sum cuique tribuere (Ulpianus
lib. i) – Os preceitos do direito são estes: viver
honestamente, não prejudicar o outro, dar a cada um o que é seu. Do lado esquerdo do átrio, uma declaração
de princípios, fundada no mais alto Direito Romano.
4. Angulus ridet – um ângulo que sorri. Quem se
despede do Parque Savoia se encanta com este fragmento de verso, que significa ‘um
cantinho feliz’, ‘um recanto bucólico’. Não tem como discordar do poeta
Horácio.
Este enclave
italiano na Barra Funda, quase Campos Elísios, então o bairro mais sofisticado
de S. Paulo, nasceu do sonho de um empreiteiro polonês casado com uma
senhora italiana. O nome – Parque Savoia – foi dado em homenagem à dama e à antiga casa
real de Itália. A intenção era deixar um patrimônio estável aos descendentes
para que eles pudessem preservar o bem e usufruir do aluguel.
Construído em
1939, o arquiteto do conjunto de residências para alta classe media foi o engenheiro
Arnaldo Maia Lello, já famoso, porque em 1929 havia
projetado o belíssimo Teatro Paramount, no futuro, a casa dos Festivais de MPB.
Durante algum tempo o plano do
casal europeu funcionou bem, porém, por volta de 1980, a vila estava num estado
calamitoso, quase um cortiço. O Sr. Iungano precisou de paciência e persistência
para retomar e reformar as 14 unidades e dar uma destinação mais nobre ao
conjunto. De início pensou em locar as casa apenas para escritório de arquitetura, porém, com
o tempo, aceitou também profissionais liberais e produtoras artísticas.
A vila é tombada desde 2009 e, por causa de sua visual inusitado, já
foi cenário de diversos comerciais, programas (Castelo
Rá-Tim-Bum) e novelas. O Sr. Iungano cuida pessoalmente
da gestão, manutenção e preservação dos edifícios. Atualmente evita ceder o
lugar para gravações, não quer atrapalhar o sossego e os negócios dos
locatários. Pelo mesmo motivo não permite carros nem estacionamento nas
alamedas arborizadas. Sábias decisões, deve ser delicioso trabalhar naquele ambiente bucólico.
Por tudo isso, cruzar os portões do
Parque Savoia é como fazer uma viagem no tempo e no espaço. Voltar ao passado e
se transportar para a Europa, para as antigas cidades florentinas. Chafarizes, brasões,
jarrões, colunas, caramanchões, arcos, azulejos pintados, canteiros, jardins,
silêncio e perfume. Parece um paraíso restaurado, só faltam ninfas bailando e faunos tocando flauta.
Parque Savoia - 1940 (via Acervo Acrópole e João José Basso)
Fonte e Jardins
Brasões e Medalhões
Caramanchões de colunas
Fachadas (1)
Fachadas (2)
Fachadas (3)
Alamedas e Jardins
Vasos, Colunas e Detalhes
Fonte e Azulejos Pintados
Saida
Parque Savoia - 1940 (via Acervo Acrópole e João José Basso)
Fonte e Jardins
Brasões e Medalhões
Caramanchões de colunas
Fachadas (1)
Fachadas (2)
Fachadas (3)
Alamedas e Jardins
Vasos, Colunas e Detalhes
Fonte e Azulejos Pintados
Saida
PARQUE SAVOIA
ResponderExcluirParabens!!
ResponderExcluirQuando for a SP, farei uma visita ao lugar!
Vá mesmo, vai gostar do lugar.
ResponderExcluirLugar encantador e maravilhoso, cresci nesta região...e era apaixonada pelo local!
ResponderExcluirObrigada pela visita Sonia Pozzi.
ResponderExcluirNão tive a tua sorte de conhecer o lugar desde criança, mas me apaixonei a primeira vista.
Estou planejando escrever um conto ambientado lá.
Douglas Bock
muito lindo
ResponderExcluirObrigado pela visita, Sandra Mainardi. Um Oásis de paz, tranquilidade e bom gosto.
ResponderExcluirCaro Douglas,
ResponderExcluirTudo bem?
Esse lugar é sensacional - e perfeitamente conservado! Que beleza!
Fico feliz que você tenha entrado e explorado.
Fico, também, muito curioso de saber como são (ou eram) os interiores das casas!
Abração, Christian Pruks
Passei anos arrumando um jeito de entrar no Parque Savoia, até conhecer o proprietário. É o Salvador Iungano que, sozinho e sem ajuda, restaurou e cuida pessoalmente do lugar.
ResponderExcluirAcho que saber como as casas eram por dentro, só com uma máquina do tempo. Atualmente são escritórios de arquitetura, contabilidade e produtores culturais. Trabalhar lá e como estar em um terraço aberto para o interior da Itália.
Um abraço.
Lindo lugar.
ResponderExcluirObrigada por postar.
Obrigado pela visita e comentário Marcia Custódio.
ResponderExcluirÉ, visitando agora, o Parque Savoia, exclamo agora, "Lugar como este não há". Muito bom aprender no Blog Paulistando como a cultura italiana nos legou um paraíso como este, para que tenhamos paradigmas de pensamento latino, beleza e arte. Obrigado pelo post, Douglas Bock.
ResponderExcluirConheci o dono, Carlos, conversei longamente com ele e fiquei impressionado com seu esforço para preservar este pequeno tesouro paulista das explosões imobiliárias.
ResponderExcluirQdo criança na década de 70 uma tia morava no pensinato q ficava ao lado da laje aonde estiam as roupas ficava admirando a Vila uma vez assiste a una entrevista do Cantor Ritchie na Vila Savóia.
ResponderExcluirLugar Ímpar em SP
Alírio Sutanis, esta 'villa' é um dos tesouros de S. Paulo. Uma maravilha, espero que saibamos preserva-la.
ResponderExcluircomo faço para visitar esse parque pq ele sempre esta fechado
ResponderExcluiralguem sabe como faço para visitar esse parque pq ele sempre esta fechado
ResponderExcluirNão é um parque!! Atualmente vc só entra com autorização. As casas são todas ocupadas por empresas. Qualquer adulto do bairro quando criança cansou de brincar aí dentro, quando a vila ainda era aberta, portões baixos e de moradias. As casas são lindas! A principal na entrada enorme. Tem até casa com piscina. Porém o bairro de deteriorou... Na frente a noite ficam usuários de drogas e há tráfico. Na frente havia um outro grupo de casas, não com a mesma beleza, mas que foi demolida. A casa do Mazzaropi que foi mencionada por estar na mesma rua, é um cortiço aos cacos.
ResponderExcluirEsse ressuscitar de memórias proporciona uma alegria imensa a quem lê seu texto. Continue sonhando e delirando para nosso deleite. Suas crônicas são um verdadeiro exercício de preservação poética do nosso patrimônio, mesmo que a realidade nos jogue na cara as mazelas provocadas a ele pelo descaso de uns e a ganância de outros. Sou sua fã
ResponderExcluirSULAPEISAN - Muito obrigado por sua visita ao Blog e comentário. Agradeço por suas palavras. Claro que é difícil se conformar as calamidades que assolam nossa cidade, mas só poderemos enfrenta-las se guardamos uma memória da outra S.Paulo, daquela que vale a pena.
ResponderExcluirMuito lindo ! Oasis meio á SP ! Obrigado por compartilhar.
ResponderExcluirYuri Santos, muito obrigado pela visita e comentário.
ResponderExcluirDouglas Bock obrigada por compartilhar conosco sua experiência no local, amei lugar belíssimo. Pena que destruíram muitas dessas casas pra construção de prédios. Adoro esse tipo de arquitetura tao magestajo, cheio de requintes e detalhes. Parabéns
ResponderExcluirMárcia Siqueira obrigado pela visita e pelo comentário. Concordo havia uma rica e diversificad Cultura Paulista antes de 1954 que foi - e ainda esta sendo - devastada.
ResponderExcluirMorei na região alguns anos e sempre passava em frente e admirava a arquitetura, um tesouro no meio da cidade. Minha vontade era de parar e perguntar se poderia entrar para conhecer melhor. Parabéns pela reportagem e pela generosidade em compartilhar. Abraço.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário Olga Varino, é um enclave lindíssimo. Como havia escrito alguns posts sobre o Parque o proprietário me convidou a visitar.
ResponderExcluirEspetacular ! Entrei e conheci fiquei admirado pela conservação e cuidado com os detalhes ainda preservados.Parabéns
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
ResponderExcluirÉ um oásis de beleza, inteligência e tradição dentro da cidade.
Uma obra fantástica!! Passo em frente para admiralá-la ...
ResponderExcluirComo gostaria e vê-la por dentro...
Passei por lá hoje. Como beleza, o excelente estado de conservação me chamaram a atenção, tomei a liberdade de fotografar, de fora. Ao olhar as fotos pesquisei as inscrições e cheguei ao site da imobiliária
ResponderExcluirhttps://refugiosurbanos.com.br/casas-predios/vila-parque-savoia/
Vale a pena ler a descrição do Sr. Salvatore Iungano. Excelente Trabalho.
Passei minha infância e adolescência na Rua Vitorino Carmilo,421, morei entre o Parque Savoia e o casarão da família Junqueira, que ainda permanece por lá, brinquei muito no Parque Savoia, tinha amigos que moravam lá, atazanei muito o zelador do parque na minha juventude, em frente ao Parque Savoia tinha também um lindo palacete, na época diziam que morava uma família alemã muito rica, infelizmente foi demolida para construção de um prédio, a casa que eu morava com outras famílias também era muito grande, foram construções da época dos barões do café, nada mais existe, Infelizmente pouco resta da antiga Rua Vitorino Carmilo, sobrou o Parque Savoia, o casarão dos Junqueiras, o Colégio Estadual Conselheiro Antônio Prado, onde fiz meu primário.
ResponderExcluirQue história bonita.
ExcluirDouglas Bock. A História, se não registrarmos, apaga a si própria.
ResponderExcluirQ bacana!!! Eu queria conhecer. Lindo lugár e reportagem!
ResponderExcluirÉ um condomínio fechado, o proprietário lia meu blog e me convidou para conhecer.
ExcluirFui namorada do Salvatore Iungano. Não me lembro da vila e nunca a visitei. Talvez em 1076 ainda não fosse uma tarefa a qual ele se proporia. O Salvatore é uma pessoa muito especial. Cantor lírico, mas com muitos talentos para arquitetura, influência da mãe.
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