quinta-feira, 17 de outubro de 2019

10 FILMES SOBRE A ARTE DA FALSIFICAÇÃO


Gosto de filmes sobre roubos e falsificações de obras de artes, especialmente envolvendo pinturas. Quase sempre são inteligentes, inesperados e intrincados. Enredos criativos e intrigantes repletos de surpresas, reviravoltas, nós e sofisticadas ‘pegadinhas’ na trama.

Outro dia, conversando com amigos, me desafiaram a fazer a lista dos dez melhores. Concordei em aceitar a aposta, mas avisei que as regras que utilizaria para definir o conjunto seriam as mais elásticas, tolerantes e abrangentes possíveis. Como se não houvessem limites.

Abaixo a lista, ordenado pela minha apreciação pessoal. Recomendo todos.

1) Thomas Crown, A Arte do Crime (1999) / John McTiernan

(The Thomas Crown Affair)

2) O Melhor Lance (2013) / Giuseppe Tornatore

(La migliore oferta)

3) Minha Obra-Prima (2018) / Gastón Duprat

(Mi obra maestra)

4) Tim's Vermeer / Teller

5) Beltracchi - A arte da Falsificação / Arne Birkenstock

(Beltracchi - Die Kunst der Fälschung)

6) Ripley no Limite (2005) / Roger Spottiswoode

(Ripley Under Ground)

7) Um Golpe Perfeito (2012) / Michael Hoffman

(Gambit)

8) Toda Arte é Perigosa (2019) / Dan Gilroy

(Velvet Buzzsaw)

9) Grandes Olhos (2014) / Tim Burton

(Big Eyes)

10) Tudo Pela Arte (2019) / Giuseppe Capotondi

(The Burnt Orange Heresy) 

Aprecio especialmente as dicas para boas falsificações, são muito úteis, inclusive para a Literatura. Minha mania e prazer tem motivo, estou escrevendo uma série contos/missivas que chamo de ‘Cartas Possíveis’. São correspondências que poderiam ter acontecido entre dois personagens famosos da História ou da Literatura.

Por exemplo, uma carta de Lovecraft para Borges, outra de Carolina (mulher de Machado de Assis) para Eça de Queiroz ou, a mais recente, de Ricardo Reis (o heterônomo de Fernando Pessoa) para Mario de Andrade.

Esses filmes estão repletos de boas dicas de mistificações.






sábado, 5 de outubro de 2019

PARA ENTENDER H.P.LOVECRAFT



H.P. Lovecraft está entre os principais atratores estranhos da Cultura Pop. Em torno dele – e por causa de sua maciça criatividade – gravitam milhares de obras, franquias e movimentos, em quase todas as modalidades artísticas: Literatura, Jogos, Cinema, HQ... Entretanto a verdadeira importância do autor e a vária abrangência de sua obra que não são ainda completamente conhecidas. 

Por causa disso gostei muito do livro Relances vertiginosos do desconhecido: a desolação da Ciência em H.P.Lovecraft. É inovador, destemido e inesperado em dois aspectos decisivos.

Ponto um. O turvo mestre é apresentado considerando o panorama, as referências e as circunstâncias históricas em que viveu e trabalhou, porém a autora nos mostra HPL inserido na grande Literatura do início do século XX. Ressaltando que, apesar da maioria de seus escritos terem sido publicados apenas nas revistas pulp fiction que veiculavam a Literatura mais popular de sua época, os questionamentos científicos em seus contos avançam muito mais longe.

Ponto dois. A abordagem de análise do projeto literário do Horror Cósmico, proposto por HPL, se utiliza da mais avançada Filosofia disponível para tratar dos paradigmas, abrangência e limites das Ciências.

No livro, oriundo de uma tese de mestrado, o exame da trajetória de HPL é absolutamente bem documentado. Todos os enunciados e deduções que a autora propõe são amparados por cuidadosas citações de fontes seguras e bem conceituadas.



Assim ficamos sabendo que o Cavalheiro de Providence, mesmo vivendo numa pequena cidade da Nova Inglaterra, opera com questionamentos literários convergentes com as interrogações do magistral poeta T.S.Eliot (Nobel de 48), que, com A Terra Desolada (1922) e Os Homens Ocos (1925), revolucionou a Poesia moderna inglesa. Ambos artistas sentiram o mesmo mal-estar resultante do fim de um ciclo civilizatório. Desconforto que vai resultar na vasta quebra de padrões e ousadias das Artes Plásticas europeias.

Quando a autora discute os objetivos remotos do Horror Cósmico utiliza como guias Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, listados entre as principais balizas da Filosofia da Ciência do século passado.

Não é pouco, nem banal dar conta dessa empreitada. E ainda levamos de brinde duas detalhadas análises de um par de contos do cara: Um sussurro nas trevas e Nas montanhas da loucura.

Curiosamente as duas histórias terminam recomendando cuidado com os limites e responsabilidades da Ciência. Não espanta que seja o mesmo alerta com que Wittgenstein – apontado como um dos quatro grandes filósofos do século passado – encerra seu livro mais importante, Tractatus logico-philosophicus, de 1922. “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”.