Desde criança molho para macarrão é o componente culinário
que mais me intriga e desafia. Quando visitava minhas tias maternas (seis), além da fome de garoto, a principal motivação era apreciar a versão particular
de cada uma delas para este componente.
Minha avó, Dona Catarina Rossi, deve ter ensinado a mesma
receita para todas as filhas, porém cada uma – com salutar rebeldia –
desenvolveu uma maneira diferente de obedecer à nona.
Tia Maria se atinha às carnes, preparadas à parte, antes de
entrar na orgia da panela.
Tia Francisca cuidava dos tomates, cozidos e despelados
manualmente antes da confraternização geral.
Dina, a tia mais séria, cuidava dos temperos, ervas
cultivadas na horta do fundo da casa, porém usados como penitência, com parcimônia e
comedimento.
Tia Onofra, homenagem ao santo beberrão, era ousada e
audaciosa, em seus molhos apareciam coisas que nunca havia comido antes. Acho
que vêm desta irmã caçula minhas infrações culinárias.
Na Colômbia cansei de comer banana: ‘patacon’ o tempo todo.
Então, durante as excursões, talvez influência peri-espiritual de minha tia
Onofra, me ocorreu que nunca tinha experimentado molho de tomate com sabor
banana. Voltei para casa determinado, resolvi avassalar.
Gosto de transgredir nos meus molhos – preparo vários inspirados
em minhas tias. Pensei muito antes de ir para a cozinha, decidi preparar um combinado de carne moída, berinjela e alcaparras. Com temperos exagerados, impensáveis para
minha tia Dina. A banana entrou no fim – como a tia Onofra que chegou temporã – semi-verdes, em rodelas, quinze minutos de
cozimento, esmagadas com a colher nas paredes da panela.
Ficou ótimo, muito além dos meus mais otimistas
prognósticos, comi dois pratos cheios, com meia garrafa de vinho. O que me sobrecarregou com o compromisso de ser rigoroso no jantar.
Vou treinar mais duas vezes antes de convidar meus queridos amigos
glutões.