terça-feira, 29 de junho de 2021

2014/abr/02 – Nara / Japão – Templo Todaiji

2014/abr/02 – Nara / Japão


O Japão sempre é intrigante e espantoso, além da multimilenar História documentada, sua cultura possui aquele curioso lapso da alteridade voluntária, quando, por mais de 200 anos – a partir do século XVII – decidiu se manter apartado da civilização ocidental. Entre muitas outras maravilhas, o acervo de gravuras japonesas é fantástico, instigante, uma representação paralela e variante da vasta imaginação do mundo.

Por isso trouxe na bagagem uma cópia, em papel de arroz, de minha fantasia predileta, o ‘Espectro do Esqueleto’, obra de Utagawa Kuniyoshi, considerado um dos criadores do Mangá. O original é um tríptico em madeira. Remete à lenda da bruxa Takiyasha convocando um esqueleto gigantesco e monstruoso para assustar a princesa Mitsukuni e seu companheiro.

sábado, 26 de junho de 2021

2016/set/30 – Provence - Meu Amigo Francês

2016/set/30 – Provence

Picasso gostava de brincar que era dono do Monte Sainte-Victoire, aquela montanha que Cézanne pintou umas 80 vezes.

Era verdade, ficava praticamente no quintal do pintor, me garantiu o ‘Nando da Cuíca’, um guia/jardineiro/paisagista francês dono de um barraco no morro de São Conrado, que alugava pelo ‘airbnb’. Todo ano passava as férias no Rio, para aprimorar sua arte e se exibir tocando Bossa Nova nas noites de Provence.

Durante umas férias em grupo no Sul da França contratava o Nando como motorista-cicerone. Tinha sido moleque e adolescente naquela região, sabia todos os atalhos, principalmente os proibidos.

Me levou para visitar o Castelo de Picasso, entramos pelos fundos. Porém o mais importante não foi isso, ganhei dois cursos de graça.

Primeiro, degustar todas as variedades de uvas francesas, escondidos, apanhadas dos pés, no fundo dos vinhedos.

Segundo, aprendi tudo sobre trufas, inclusive – e mais importante – o segredo dos carvalhos que dão essas pérolas vegetais, o que não é nem simples nem trivial.


terça-feira, 22 de junho de 2021

2004/set/23 – Bolivia - Salar de Uyuni

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2004/set/23 – Salar de Uyuni

Dos lugares fora da realidade em que já estive, nenhum é mais estranho e isolado do que o Salar de Uyuni. Parece que está guardado dentro do punho fechado do Tempo.

Levamos sete horas para atravessa-lo. Um Jeep e mais nada. Azul e branco. Só céu e sal. Silêncio e salsugem suspensa no ar, calmante, entorpecente e revigorante.

No meio dele resiste uma porção do prosaico, a Ilha do Pescado – terra escura, arenosa e cactos imensos. Curioso o contraste, serve para nos lembrar como o mínimo pode ser belo,

Para guardar esta lembrança sempre comigo, temperei minha comida com sal colhido do chão.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

2018/set/07 – Anacapri/Itália - Escadaria Fenícia

 2018/set/07 – Escadaria Fenícia

Na Ilha de Capri desci a Escada Fenícia, de Anacapri até o porto, 961 lances. Degraus altos, daqueles que exigem esforço, doem os joelhos, repuxam as costas, mas a vista compensa. Melhor tentar fazer a jornada a tarde, com brisa e sombra.

Na Ilha de Capri desci a Escada Fenícia, de Anacapri até o porto, 961 lances. Degraus altos, daqueles que exigem esforço, doem nos joelhos, repuxam as costas, mas a vista compensa. Melhor tentar fazer a jornada a tarde, com brisa e sombra.

Minha vida passou correndo por mim, em várias idades, garotas e garotos lépidos subindo as escadas. Os adolescentes mais espadaúdos se exibiam vencendo dois degraus de cada vez.

Me conformei pensando nos Fenícios, presuntivos construtores da escada. Estão em todas as costas continentais, em todas as ilhas daquele imenso mar interior, omnipresentes. Então me ocorreu uma ideia fantástica, assustadora e maravilhosa.

Será que não foram eles - os Fenícios - que aterraram o Estreito de Gilbratar  e inventaram o Mar Mediterrâneo.

Eu acredito.