terça-feira, 29 de julho de 2014

O Lado Ensolarado da Rua dos Ingleses


No lado ensolarado da Rua dos Ingleses – no topo dos Morro dos Ingleses  – no longo quarteirão entre o Teatro Ruth Escobar e a Rua dos Franceses, preservados e coloridos se exibem nos dias de sol.  Entre eles o Museu Memória do Bixiga e a Miguel Giannini Óculos, o famoso esteta ótico das celebridades e autoridades (ficção e política). Nos tempos  eleitoreiros, os comitês partidários aproveitam e também invadem a ladeira com comitês (ficção e política de novo).

Vale a pena caminhar e olhar para os dois lados da rua. Exceto pela estridência dos coloridos, impensáveis para os paulistanos antigos, que eram muito mais discretos e sóbrios, com um pouco de imaginação pode-se voltar no tempo uns 70 anos atrás, vivenciar uma cidade mais pedestre.

Na ótica do Miguel Giannini – impecavelmente preservada, inclusive as portas e janelas originais, de madeira de lei – existe um museu de óculos antigos com surpresas inesperadas. O Miguelzinho é o cara, além de preservar o prédio, faz um magnífico trabalho social para jovens carentes. Alguns deles  de paletó e gravata  frequentam estreias no Municipal para aprender a valorizar a arte.

Se, depois do passeio, acometer um impulso irreprimível para adquirir antiguidade  nos domingos  basta descer a bela e pouco cuidada escadaria para Rua Treze de Maio e visitar a Mercado de Pulgas da Praça Dom Orione. Antes de iniciar a descida da escada, aprecie a vista do Centro Velho, vale a pena.

Infelizmente nas foto – e isto é mal política e horrenda ficção – persiste a fiação suspensa. Serve como tarja preta de protesto contra a incompetência de nossos políticos municipais, estaduais, federais e muitos mais.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

BIXIGA E AS DOBRAS DO TEMPO

No Bixiga – que esnoba o pomposo nome de Bela Vista - acontecem coisas esquisitas, espantosas e inexplicáveis. Parece que nele o passado insiste, resiste e persiste. Se esconde e retorce para não morrer e ser enterrado.

Suas ruas antigas guardam com zelo e carinho as sementes de todas as 'paulistanices'. Adoniram e a miscigenação permanente dos migrantes e nativos. Os antiquários; a casa que acolheu as loucuras e insanidades de Dona Yayá. Além dos teatros antigos e resilientes.

O bairro que – dois séculos atrás (1819) - acolheu e abrigou Saint-Hilaire, o mais simpático e otimista dos cronistas estrangeiros que visitaram S. Paulo, deve ficar dentro de uma sutil dobra do Tempo. Dentro deste território mítico aconteceu a invenção do 'paulistano' típico. Um bolsão irreal costurado com agulhas mágicas e linhas esquisitas. Com limites indefinidos e geografia incerta.

É possível, por exemplo, fazer uma viagem no tempo na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, número 1308 e encontrar dois sobradinhos vizinhos recém reformados



Parece que a onda de revivescência dos sobradinhos é cíclica, alguns meses atrás registrei a revitalização de um quarteirão inteiro da Rua Maria José, esquina com a Brigadeiro Luís Antônio. O post teve mais de 500 mil visualizações, ninguém acreditava, diziam que era montagem.



Por causa de seus ares – não cores – novecentistas, talvez na Rua dos Ingleses exista um portal para o passado. Porque as vezes os raios do Sol iluminam uma ladeira inteira, ideal para se ‘paulistar’. Lá perto do Teatro Ruth Escobar, atrás das cantinas da Rua Treze de Maio e no alto da escadaria da Praça Dom Orione, onde repousa um busto de Adoniram. Em torno do poeta, aos domingos, acontece um mercado das pulgas onde são comercializadas as escamas dos tempos idos.


Como tem fronteiras móveis o Bixiga ocupa um lugar privilegiado na geografia paulistana. No sentido norte-sul fica entre a Avenida Paulista e o Centro Velho. No sentido leste-oeste divide a Liberdade e Aclimação de Higienópolis e Cerqueira Cesar. Considerando o mapa e as facilidades de acesso, não existe melhor ponto para se morar, é perto de tudo, mas diferente de todos os outros lugares.

Andando pelo Bixiga esta sanha de restauração parece um pouco com um despertar do Realismo Fantástico, depois de cem anos de sonhos deslembrados.

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terça-feira, 8 de julho de 2014

O Longo Viaduto Santa Efigênia



Por cima de tudo uma longa passarela – com motivos vermelhos, pretos e brancos, cores da bandeira – que atravessa e extravasa o vale inteiro, ligando duas catedrais: Matriz Paroquial Nossa Senhora da Conceição - Santa Ifigênia e Basílica Nossa Senhora da Assunção - Mosteiro de São Bento.

O via é enfeitada pelos postes de iluminação de S.Paulo, um orgulho paulistano, que as lendas dizem ser um dos mais belos do mundo. Entre os cenários mais clicados da cidade, tema de ensaios fotográficos de grandes artistas, por causa das instigantes grades de proteção do viaduto.

Inabalável, suportando tudo, resiste a multe encaixada estrutura de aço do viaduto, admirada pela grandiosidade dos três longos arcos e pela lógica e leveza do desenho. Fabricado na Bélgica, entre 1910 e 1913, desembarcado no porto de Santos e transportado pela São Paulo Railway.

Embaixo, tocando o chão, ficam as sapatas, os firmes pilares de toda a obra de arte, construídos por uma empresa alemã para garantir a sustentação, equilíbrio e nivelamento perfeito da vasta estrutura de aço. Cem anos de garantia, vencidos em 2013.

Embaixo de tudo, silente e invisível, corre o Rio Anhangabaú (‘rio do mau espírito’ / Teodoro Sampaio ou ‘água da face do diabo’ / Eduardo de Almeida Navarro) que, como os automoveis, amedrontava e ameaça a saúde da população. Por isso, ambos – carros e córrego – agora jazem enterrados sob o imenso palco das comemorações cívicas e manifestações políticas.

Será que S.Paulo conseguiu vencer o dianho?