A expectativa de vida (no Brasil) é de 75 anos, e crescendo.
A quantidade de homens e mulheres bonitos e saudáveis, com mais de 50 anos,
sem relacionamentos ‘sérios / explÍcitos’ – difícil encontrar a palavra certa - é imensa,
talvez maior do que o contingente de jovens.
Porém, na Literatura e outras fabulações (cinema,
novelas, séries), parece que a idade limite para envolvimentos emocionais e
sensuais prazerosos e estimulantes é de 50 anos. Nessa matemática sobram mais de 30 anos para o papel de tios e tias com envolvimentos envergonhados, clandestinos ou, e pior, não
valorizados.
Outro dia li um interessante policial argentino, Betibú – que virou filme (aquém do livro), escrito por uma mulher, Claudia Piñeiro (58 anos), com um casal romântico inesperado.
Uma
escritora de mais de 50 anos, desgostosa da profissão, mãe de dois filhos adultos, divorciada e mortalmente ferida pelo último parceiro. Cada vez mais assediada pelas celulites e gordurinhas
indesejadas, com o peito e a bunda meio caídos. O homem era um velho jornalista
sessentão, aposentado e, também, desiludido com os rumos de sua carreira. A barriga já era capaz de
vencer qualquer cinto por vários furos de deselegância. O amor maduro, cheio de desejos e antecipações, do inesperado par romântico era muito bem construído, com carinho, doçura e sutileza.
Contudo, na cena final, me espantou a reversão de expectativas. Quando os amantes,
tomados pela paixão, correm para o apartamento de um deles, a autora, que conduzia bem a narrativa com sensibilidade, verossimilhança e delicadeza, decidiu narrar o
encontro imaginando como uma nebulada sequência filmada. cambiando os personagens por astros
de Hollywood. Começou genial, acabou banal.
Quase parei de ler. Vergonha ou sacanagem de Claudia Piñeiro? Queria amantes imperfeitos, com sobrepeso, estrias e cabelos grisalhos. Somos maioria e há um carinho especial nisso, nesta fase.
Vejo multidões de pessoas, intelectualmente ativas, esbanjando bom gosto e sabedoria, correndo, malhando e fazendo regime para se manter saudável. Contudo, infelizmente, ainda amarradas – emocional, sentimental e sexualmente nos quadros de referências da juventude delas próprias, anos 60/70. Naqueles tempos um cinquentão já se era irreversivelmente velho. Hoje isso é apenas o início da outra metade da vida. Quem sabe a melhor parte.
Será que estamos todos desiludidos e desgostosos, fadados a consumir histórias de sonhos e valores juvenis. Tesões reciclados, permitidos apenas se relembrados?