Não é fácil, mas, quem for capaz de reprimir a raiva e ignorar o estrupício do Minhocão – essa feia cicatriz que deforma e estraga o rosto da cidade – poderá admirar este belíssimo conjunto de estátuas dedicado ao médico, cientista e empreendedor Luiz Pereira Barreto. As musas que o acompanham aludem à Medicina e à Agricultura, campos de atuação do homenageado. Ao lado do monumento tem um playground, onde brincam as crianças, antes chamadas de 'esperança do Brasil'. Quem dera?
Num dia de sol é suportável e até agradável a visita.
A obra de 1929 – que não combina com o Minhocão – foi concebida e esculpida por Galileo Emendabili, e está localizada na Praça Marechal Deodoro, no bairro de Santa Cecilia, não distante da Santa Casa de S. Paulo.
Jorge Amado, na panfletária e transversa trilogia ‘Os Subterrâneos da Liberdade’, fala da Praça Marechal Deodoro, de 1937, como um lugar bonito, elegante e romântico, onde casais se encontravam para namorar.
S. Paulo – com seu desmando imobiliário – não costuma preservar o ‘clima, o espírito e a personalidade’ dos lugares. Entretanto, nesta praça assassinada, talvez porque o transtorno do Minhocão afugentou novos lançamentos, o conjunto de prédios ao redor continua periclitante e miraculosamente mantido.
Se a prefeitura fizer alguma coisa, como por exemplo, enfiar o 'Minhocão' dentro de um tubo colorido e antirruído, como algumas cidades do oriente fazem com vias elevadas, a bela praça talvez tenha chance de ressuscitar.
Um detalhe intrigante e surpreendente, o conjunto estatuário não estava pichado!