No Parque da Luz – um jardim
público de 1825, o mais antigo de S. Paulo – ao lado da Pinacoteca, fica
localizada a discreta, porém exibida, ‘Ilhota das Estátuas Calipígias’.
Basta caminhar pelas sinuosas alamedas de pedestres para chegar até ela. Parece uma
miragem nas manhãs ensolaradas.
Um paraíso de moças de curvas sestrosas contrastando com dezenas de esculturas angulosas e arrevesadas que se manifestam como enigmas a serem
decifrados.
A menina de braços elevados está ‘À Procura da
Luz’ (Maria Martins, 1940); fácil
de encontrar, nas primaveras e verões é farta nas manhãs paulistas, as vezes só depois da neblina.
A outra deidade fofa é uma ‘Carregadora de
Perfumes’ (Victor Brecheret, 1924 - fundição 1998). A beldade rechonchuda já
foi uma grande dama, participou do pomposo ‘Salon d’Automne’ de Paris, em 1924.
Muita de sua carga de fragrâncias ainda hoje escapa de seus cântaros e enche de
aromas silvestres o bosque encantado.
As ‘Vênus Calipígias’ são
recorrentes no acervo clássico, representam a deusa apreciando seu próprio
bumbum, como se o avaliando. Um momento íntimo, mágico e comum. Afinal, quantas
infinitas vezes as mulheres não fazem o mesmo diante dos espelhos?
‘Calipígia’ é uma palavra de origem grega, porém, a tradução em português fica especialmente bonita, eufônica e inspirada: ‘bunda bela’. Carregando de ressonâncias africanas essa paixão nacional, decantada até por Carlos Drummond, no poema ‘A Bunda, que engraçada’.
Outra beldade de 'bunda
bela' (portanto cidadã da ilhota) que enfeita a cidade é a indiazinha apaixonada, concebida pela poeta Olavo Bilac e esculpida por William
Zadig (1920). Sonhadoramente entretida no idílio de um beijo eterno defronte à
Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Não devem jamais movê-la, é embaixatriz
da Ilhota e merece descansar onde está, protegida pelos estudantes e pelas tábuas da
lei, depois de ter sido mal falada, repudiada e expulsa de tantos lugares de S.
Paulo. Exatamente por que tinha a bundinha empinada e maliciosa.
Douglas Bock, por acaso tem uma obra de Botero?! Formas redondas e longilínea? A minha dívida é que as obras dele são exageradamente redondas.
ResponderExcluirAcho que não tem nenhuma, Carlos. Aliás, a única escultura de Botero que vi no Brasil, foi aí na sua terra. Pernambuco, Recife, Instituto Ricardo Brennand.
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