sexta-feira, 10 de abril de 2015

SP – CAPITAL MUNDIAL DO GRAFITE?


Pesquisando para esta crônica fiz duas consultas no Google: “grafite São Paulo” e “pichação São Paulo”As telas iniciais das duas buscas eram curiosas, previsíveis, reveladoras, e de várias formas, auto explicativas.  

Faz muito tempo – bem antes do Haddad e Doria – S. Paulo gosta de se proclamar como a ‘Capital Mundial do Grafite’. Talvez por causa da fama de alguns grafiteiros paulistas pelo mundo, talvez pela quantidade e variedade das intervenções que cobrem as paredes e muros da cidade.

Pelas respostas do Google parece que o senso comum tem uma percepção consolidada das diferenças entre 'grafite' e 'pichação', embora seja difícil definir conceitualmente cada uma dessas intervenções. Aliás a língua portuguesa é uma das poucas em que estes dois segmentos estão separados. Os grafiteiros mencionam, com certo orgulho, que a pichação paulista tem até uma assinatura própria o ‘pixo reto’. Aqueles escritos ininteligíveis com letras estilizadas, quase sempre de traços retos que cobrem as paredes da cidade. Todas as vezes que encontramos este ‘estilo’ em qualquer lugar do mundo é porque o pulso paulista pulsou lá.

Muitos ‘artistas urbanos’, do Brasil e do mundo, passaram por S. Paulo para deixar seus registros. Existem roteiros, conhecidos pelas tribos grafiteiras e divulgados na internet, para apreciar peregrinar por essas intervenções. Um dos circuitos mais cult são os mosaicos do artista francês ‘Invader’(baseados no antigo jogo eletrônico Space Invaders), hoje famoso. Infelizmente suas obras estão sendo surrupiados e levadas para galerias e apartamentos antenados, logo desaparecerão da ruas.

O grafite, ou pichação, foi inventado junto com as paredes. Os muros de Pompéia já estavam grafitados, e basicamente com slogans parecidos com os atuais, de denuncia ou reivindicação.

‘Arte de rua’ (street art), ‘arte urbana’ ou grafite começou a ser melhor definido e estruturado a partir das Manifestações de Paris/68, quando foi largamente utilizado e divulgado. No Brasil começou como simples forma de marcar território (lembra do ‘CÃO FILA KM 26'?) e se tornou uma das formas de resistência contra Revolução de 64.

O principal argumento dos artistas de rua é a inadequação dos museus e galerias – fechados e seletivos – como canais de divulgação dos trabalhos gráficos mais avançados. Por isso invadem e tomam os espaços das ruas, acessíveis para qualquer pessoa, para toda a população, gratuitamente e o tempo todo.

Grafite e uma arte transitória, algumas fotos tiradas durante minhas caminhadas:

a) Av. Consolação e Rua Augusta 
As lendas urbanas dizem que estes rosto esquálidos são obra de um grafiteiro carioca em visita a SP.

b) Avenida Nove de Julho e Rua Augusta 
Intervenções do 'Invader'
- Alguns dos mosaicos estão sendo retirados das paredes e montados em outros suportes para decoração de interiores.


c) Conexão do Minhocão com Av. Consolação


d) Avenida Nove de Julho

OUTROS ARTIGOS SOBRE GRAFITE EM S.PAULO


GRAFITES INVADER – Veja Antes Que Acabe



GRAFITES DA AUGUSTAÇÃO 







quarta-feira, 8 de abril de 2015

DUAS CATARINAS


Catherine Deneuve de Paris  do Cine Bijou e de muitos corações  como as santas, Catarina de Siena e Catarina de Alexandria , era bonita e inteligente na mesma medida. E ambos os atributos foram determinantes para a consecução dos destinos de todas as três.  

A beldade francesa começou como atriz de comédias e musicais românticos, porém logo se transformou em referência cultural e símbolo sexual planetário.

Catherine Fabianne Dorléac emprestou seu corpo, coração, mente e sensibilidade para ilustrar todos os tons e papéis que colorem e ocupam as mulheres pelo mundo afora, sempre com verossimilhança e autenticidade.

Foi a fêmea fatal e a dona de casa normal, e ás vezes a instável e perigosa mistura das duas. Deslumbrante em cada performance, todos os diretores se apaixonavam e viam nela a mulher ideal para suas histórias, teses e divagações.

A eterna musa de Yves Saint Laurent e o rosto mundial do Channel Nº 5. Além da Marianne, a figura oficial da República da França, a mais feminina das nações.


Katharine Hepburn de Connecticut  das tardes nos cinemões e das sessões da tarde  foi poderosa como as rainhas-herdeiras, Catarina de Médicis e Catarina da Rússia, todas absolutas durante seus longos reinados, muito além do bem do mal.

Chegou à maturidade junto com o cinema, aprendeu que o sucesso é feito de dubiedades e persistências, de luzes, sombras e mistérios; que é preciso mudar e se reinventar de acordo com os acenos do público.

Cometeu e escondeu todos os pecados da velha Hollywood, até o mais proibido deles, a homossexualidade. Ou não, até hoje seus biógrafos – amigos e inimigos – estão incertos. Contudo seu melhor papel romântico foi como a ‘outra’ de Spencer Tracy, um homem casado e problemático. Uma parceira dedicada e confiável, até o último dia.

Conheceu apogeus e eclipses na carreira. Foi 'o veneno das bilheterias' e acumulou 12 indicações para o Oscar. Ganhou o primeiro aos 27 anos e outros três (68, 69 e 82), depois dos 60, já como uma atriz anciã, Há muito entronizada como a rainha-herdeira do reino de Hollywood, por voto direto das plateias do mundo.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

CCBB - PICASSO E A MODERNIDADE (OUTRA VEZ)

É preciso, imprescindível mesmo, visitar a mostra do CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil – “PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA  Obras da Coleção do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia”, porque ver o trabalho do minotauro sempre é enriquecedor. 

Entretanto, atropelando o poeta Drummond, acho que me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas, sobretudo porque talvez esteja ficando ‘over’ demais - uma saturação - de novo explicar e ilustrar o desenvolvimento da arte moderna através do genial espanhol.

Com certeza Picasso foi o artista plástico mais importante do século passado. É impensável a História da Arte Moderna sem o espanhol, mas existem tantas outras vozes, com inesperadas modulações próprias, que necessitam ser mais ouvidas. É recomendável visitar a mostra várias vezes, e dedicar muito mais atenção ao complemento do que à coleção protagonista.

Por exemplo, se deliciar com as poucas obras expostas de Joaquim Torres-Garcia, talvez o artista sul americano com maior trânsito entre os efervescentes europeus. Aquele mesmo pintor que em 8 de julho de 1978 perdeu mais de 80 obras – uma tragédia para sua Fase Construtivista, que durou duas décadas – no incêndio do MAM do Rio. Catástrofe que abaixou todas as notas internacionais de segurança museológicas do Brasil.

Estacionar um longo tempo frente aos não-picassos e fluir às telas de Juan Gris, um pintor de vida breve, morreu com 40 anos, mas que deixou registrado um viés cubista delicado e reflexivo.

Picasso? Bem é impossível não nota-lo.