quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Sete Quadros Quânticos - O BEIJO (AMANTES)



Mais ou menos disfarçado como o beijo de Gustav Klimt.
Escondido atrás da porta via Nazinha beijar seu homem.
Fugaz, roubado de surpresa, era o aniversário de Anita.
Tinha eu cinco anos de idade, muita vida para um pobre cearense.
Éramos noivos, casaríamos um ano após, e só pegara em sua mão!
O homem de Nazinha abraçava-a com força, puxando-a pela cintura.
Trouxera-lhe um mimo; para fazer fita joguei-o de cima do burro.
Nazinha entregava-se inebriada aos carinhos afoitos do homem!
O pequeno pacote caiu, o relógio saiu da caixa, espatifou-se.
Não sabia que aquele agarrado era carinho; mais parecia briga.
Anita ficou triste, chorou. Prometi: no próximo sábado trarei outro.
Agarradinhos os dois gemiam; e eu não sabia por que sofriam tanto.
 Se é uma coisa que sempre me perturba é choro de mulher.
No resfôlego, olhos fechados, mãos ávidas buscavam escaninhos...
No sábado seguinte trouxera-lhe outro presente. Agradeceu.
De repente Nazinha levanta a saia, embaixo nenhuma calcinha.
Os encontros dos sábados deviam-se às distâncias geográficas.
O homem foi à porta do quarto e olhou para os dois lados.
Ela em Amassabarro, ele em Cobral Brasil. Três léguas de distância!
Não viu ninguém. Voltou. Abaixou as calças, membro ereto. Grande!
Que cobria em lombo de burro: calo na bunda. Sacrifício!
O homem encostou Nazinha contra a parede, e penetrou-a. Um grito!
Sacrifício para compensar o qual ele pediu a ele um beijo. Negou, pudica.
Do esconderijo tremi de medo: estava a maltratar Nazinha?
Pediu então um copo d’água. Anita adentrou a casa e foi buscá-lo.
Agucei os ouvidos: não eram gritos e sim gemidos. Ela pedia algo.
Caneco de barro. Ao devolver o copo, rápido roubou um beijo.
O quê Nazinha pedia com insistência? Pedia: enfia mais!
Anita tremeu toda, lágrimas nos olhos: soluçava. Casta e pura!
Enfia mais! Enfia mais! Enfia... Mais... Assim! Assim! Ai, vou gozar!
- Por que choras, Meu Amor? Não fiz nada de errado. Somos noivos.
Deu um gemido tão forte, e mais outros e outros mais; desfaleceu.
- Minha mãe avisou sobre o perigo de beijos; podem até engravidar.
Desfaleceu não! De repente levantou-se, baixou a saia, agradeceu.
- Sua mãe é mal-amada, casou por imposição do pai dela.
- Você é bom com mulher – disse. – Vamos nos dar muito bem.
- Para que desfigurar um santo ato divino? Que até na Bíblia está!
- Você inda não viu nada. Na cama sou bem melhor. Jogo o jogo.
- Diz Pe. Marcondes que Bíblia é livro proibido. Bom é o Catecismo!
- Mas que jogo você joga? Por acaso a cunilíngua?
- Pe. Marcondes nunca leu a Bíblia; jamais aprendeu o Latim.
De onde eu estava ouvi bem claro: - Também a cópula anal?
- Tá nos Salmos da Sagrada: “Sejam os teus seios como os cachos...
- Oh! como gozo pelo traseiro: é intenso e longo.  Vamos de novo?  
 ... da vida e o aroma da tua respiração como o das maçãs.
Pera aí, Meu Bem; dá um tempo! Em pé cansa demais.
... Os teus beijos são como o bom vinho.”

Gustav Klimt: por que disfarçar Der Kuss?


Os Outros Seis


Picasso
GUERNICA - 1937
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Salvador Dali
A Persistência da Memória - 1931
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Edward Munch
O Grito - 1910
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Rene Magritte
O Filho do Homem - 1964
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Edward Hopper
Os Falcões da Noite (Nighthawks) - 1942
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Frida Kahlo
A Coluna Partida - 1944
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Sete Quadros Quânticos - A COLUNA PARTIDA





O humano parte a coluna porque ousou pôr-se em pé às vezes em pé de guerra algumas com pé de coelho devido ao pé-atrás da sua natureza cismática quanto a ser filho de deus ou talvez filho-família se sobre o pátrio poder fora disso quase sempre filho da mãe de outros pais que o vulgo abrevia na forma de fêdêpê prá poupar cuspe na boca sem precisar dizer fidalgo duque e príncipe mas jamais de peã do hino de invocação dos antigos gregos em homenagem a Apolo nem também do de preá primo legítimo do rato da família dos murídeos cuja carne é tão gostosa cuja caça em forja rasa fiz muito na minha infância para nos matar a fome nas muitas secas havidas foram setenta e um anos sem um único pingo d’água desde a primeira anotada pelo padre Fernão Cadim nos anos 1583 a 1585 até a última d’agora desde 2012 que não chove no sertão diabo que me carregue me proteja e se apiede de minh’alma revoltada não tão casta como deseja as sagradas escrituras mas diante da figura dessa mulher quase nua peitos rijos bicos roxos sinais de mulher fogosa na cama a coluna se ajeita quanto mais com um homem em cima eu quisera ser garoto prá enfrenta essa zinha mostrar que remédio bom prá curar mal de espinha é aquilo que você pensa mas não ousa confessar todos gostam do que tá escondido pelo manto branco de donzela imaculada inda que os riscos na pele morena possam dizer o contrário tal noiva que já vivia com o noivo apressado veste o branco no desfile da igreja e põe porém uma rosa avermelhada no seio já bulinado por outros além do noivo  Balzac  quem tem razão mulher de trinta é completa sabe de tudo fazer em geometria é grau dez em especial com as curvas da cintura para baixo na reta ao nível da cama é um deus-que-nos-acuda em ginástica ultrapassa o maior grau dos exames pois conhece posições que nenhum manual registra desde o cavalho-de-pau ao canguru-perneta e Magda que me perdoe embora perdão eu não queira para os assassinos que torturaram  artistas pintores jornalistas moças e moços no tempo das ditaduras.


Os Outros Seis


Picasso
GUERNICA - 1937

Salvador Dali
A Persistência da Memória - 1931

Edward Munch
O Grito - 1910

Rene Magritte
O Filho do Homem - 1964

Edward Hopper
Os Falcões da Noite (Nighthawks) - 1942

Gustav Klint
O Beijo (Amantes) - 1908

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sete Quadros Quânticos - FALCÕES DA NOITE (Nighthawks)





Edward Hopper batizou este quadro de Nighthawks – falcões, gaviões ou aves da noite – explicou que retratava predadores esperando pela presa. Deve ter havido alguma falha de comunicação, porque, o que vemos, é outra coisa. Quatro manequins silenciosos dentro de uma vitrine feericamente iluminada: um garçom não muito sociável, um casal alheado, juntado pelo acaso, e um homem olhando para dentro de si mesmo. Um quarteto calado, inerte, mergulhado em perplexidades e ruminando dúvidas. Tema comum em Hopper, porém, particularmente esta tela, virou ícone da incomunicabilidade moderna.

Dificuldades de comunicação foi um tema recorrente na arte do século XX, talvez este soneto estrambótico, em prosa, ajude a entender o assunto.

um 
Com a expansão da urbanização, provocada pelo avanço da Revolução Industrial, as pessoas perderam suas referências milenares: a agricultura familiar; o trabalho em corporações profissionais; e a convivência em comunidades estáveis. Tudo isso foi trocado pela intimidade forçada nos transportes coletivos; ruas apinhadas; apartamentos minúsculos ou cortiços; desagregação dos grupos familiares; e tarefas segmentadas e alienantes. Aconteceu uma dolorida depuração do coletivo para produzir o individuo. No fim o ser humano isolado não tinha quaisquer parâmetros e paradigmas válidos e testados para se guiar. 
dois
 No principio do século passado, de repente, o homem se viu solto e livre, porém sem objetivos transcendentais, exceto ganhar dinheiro e consumir. Com as duas grandes guerras, o rearranjo das nações e a imigração em massa, esse sentimento de desconforto, deslocamento e contingência se agravou. Não adiantava tentar conversar com os outros, todos estavam igualmente perdidos, sofriam do mesmo mal indizível e sem cura. Cada indivíduo experimentava na alma a angústia de Kierkegaard – que é a aflição que a liberdade provoca; a náusea de Sartre – que é a cobrança íntima para encontrar um sentido para a vida; o absurdo de Camus – onde o único problema relevante é o suicídio. As pessoas mais sensíveis passavam a vida caladas e ensimesmadas, olhando para o vazio, sem saber o que dizer e como viver. Ninguém gostava de conversar sobre essas feridas incuráveis. Quase 80% dos livros e filmes ‘cabeça’, da primeira metade do século XX, falam sobre isso. 
três 
O rock‘n’roll, os hippies e as drogas romperam este impasse de desassossego pessoal. Talvez 1968 seja o marco de mudança de mentalidade. Mais ou menos, enquanto viajava para a Lua, o homem começou a aceitar e se acostumar com sua liberdade individual; procurou reinventar a integração com outros seres livres e diferentes. Aconteceram experimentos como os grandes festivais (Monterrey, Woodstock), as comunidades de convivência hippie (uma volta ao passado?) e as estrondosas turnês das bandas de rock. A Música, a Arte era o novo código, tudo se transformou em mega-evento para atrair e congregar as pessoas. Virar fã passou a ser uma forma de construir uma identidade pessoal, um modo de pertencer a um grupo, um jeito de interagir com outras pessoas.
quatro
Então inventaram o micro computador, que inaugurou um novo ciclo de isolamento, agora defronte as telas. Curiosamente, o principal evangelizador do ‘graal’ eletrônico foi um adepto da filosofia hippie: Steve Jobs. Os indivíduos não tinham mais problemas de comunicação, falavam até demais, porem interagiam com avatares e amigos virtuais. Com o avanço da telefonia móvel tornou-se possível uma ousadia impensável: a solidão individual compartilhada, porque plugada. Podia-se estar 24 horas conectado, falando com alguém, se comunicando com o mundo, contudo sem conviver com ninguém. É preciso, urgentemente, lançar o Nighthawks II, versão com novo sistema de comunicação. Nele as pessoas estariam com um celular teclando doidamente, quem sabe com seus vizinhos de bar.
 Verso estrambote 
“O Twitter não é mais do que a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até ao grunhido.”
José Saramago



Os Outros Seis Quadros Quânticos


Picasso
GUERNICA - 1937
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Salvador Dali
A Persistência da Memória - 1931
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Edward Munch
O Grito - 1910
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Rene Magritte
O Filho do Homem - 1964
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Frida Kahlo
A Coluna Partida - 1944
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Gustav Klint
O Beijo (Amantes) - 1908
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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sete Quatros Quânticos - O FILHO DO HOMEM

Douglas Bock

Para alguns o que importa são suas crenças, que se constituem suas verdades. Para esses, quem anda de ponta-cabeça não são eles, é o Mundo atual; que Charles Chaplin caricaturou de forma genial no filme “Tempos Modernos”. Não se pode compreender, dentro da filosofia aprendida de nossos antepassados, que um dos dois partidos da “democracia” estadunidense resolva, por mero capricho oposicionista, não votar o orçamento do país, do interesse do Mundo inteiro; do interesse do Mundo inteiro porque todos estamos atrelado à economia dos Estados Unidos uma vez que o dólar é a moeda internacional...

De ponta-cabeça nos termos da doutrina cristã: “não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados.” (Mateus 7:1 e 2). Porém para certos juízes surrealistas de agora, o domínio do fato, também conhecido como casuísmo da moda, quer dizer, a falta de provas nos autos pode ser substituída pela dinâmica das ocorrências; o “foi assim” perdeu vez para o “não podia ter sido de outra maneira”. A doutrina pagã da presunção do suposto.

Quando René Magritte, talvez envergonhado com a sem-vergonhice do Mundo, resolve cobrir o rosto de um retrato que pintara com uma maçã, é considerado um cara esquisito! Logo e significativamente a maçã que, quando comida por sugestão de Eva a mulher mereceu a maldição de padecer os sofrimentos do parto; e a terra, essa coitada que somente produzira a macieira em que frutificou a maçã, pegou a sobra da ira do Senhor: “... maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.” (Gênesis 3:16 a 18).

A partir daí o Mundo se tornou injustamente distribuído. Carlos Drumond de Andrade poetou em metáfora:

“Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.”

Má sorte para o Ceará de cuja terra nem erva do campo nos é dado comer, só restou o xiquexique e o mandacaru repletos de espinhos, e os paus secos da tórrida caatinga estéril que nem para fazer casa de sapé serve. E muito cabra safado no governo.

Destino surrealista que o sábio Cego Aderaldo um dia cantaria assim:

“Só nos falta vê agora
Dá carrapato em farinha
Cobra com bicho-de-pé
Foice metida em bainha
Caçote criá bigode
Tarrafa feita sem linha.”

“Muito breve há de se vê
Pisá-se vento em pilão
Botá freio em caranguejo
Fazê de gelo carvão
Carregá água em balaio
Burro subi em balão.”


Mundo virado de cabeça para baixo ou escondido, envergonhado, por tás da maçã de Magritte; sobre cujo Mundo cordelou Patativa do Assaré quando precisou aposentar-se. Lembrava-se o vate matuto do que lhe dissera, com pose de Escrivão, o burocrata do INSS:

“E me disse que só dava
Pra fazê meu apusento
Com coisa que eu só achava
No Antigo Testamento.
Eu que tava prazentêro
Mode recebê dinhêro,
Me disse aquele iscrivão
Que precizava dos nome
E também dos subrinome
De Eva e seu marido Adão.”




Os Outros Seis


Picasso
GUERNICA - 1937
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Salvador Dali
A Persistência da Memória - 1931
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O Grito - 1910
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Os Falcões da Noite (Nighthawks) - 1942
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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sete Quadros Quânticos - O GRITO

Douglas Bock


O berro estrondeou até a última das casas da rua modesta sem calçamento nem saída; tom de voz em registro barítono quase a alcançar o Dó-5; que chegou feito estampido aos meus ouvidos de jovem de 15 anos.

- Óóóbem!!!

[Chamo-me Holbein, tirado dos pintores alemães renascentistas Hans (pai e filho), nome que se pronuncia no Brasil de várias maneiras: no Rio de Janeiro diz-se Ôllbeim, fechando-se o Ó e encompridando o som do L; em São Paulo, Rólbem, com o H aspirado; em Santa Catarina, os alemães catarinenses pronunciam meu nome de forma correta: Olbáin.]

Ouço um segundo grito e tremo; reconheço a voz autoritária de meu pai a externar intensa raiva. Na ocasião eu jogava bilhar no bar da esquina, divertimento que meu pai proibira. E eu só fora para o bar depois de certificar-me de que ele tomara o bonde para o Centro da cidade; e já se passara quase uma hora. Pô, o que seria desta vez?

Subi os dez degraus da escada que dava para a água-furtada onde meu pai construíra sua alcova-totem: um cômodo separado e isolado do resto da casa. Assim que me viu, inquiriu, ríspido:

- Onde você esteve ontem à boquinha da noite? – Estive na casa do colega de classe, Paulo Airton – respondi tímido e titubeante. – Fui estudar com ele Matemática. Vamos ter prova amanhã.

- Paulo Airton, né? Você chama o “Curral das Éguas” (a antiga zona do baixo meretrício de Fortaleza) de casa do Paulo Airton?! Perguntou gritando, já possesso. E aí acertou-me um tapa na cara; aguentei firme. Eu já me considerava um homem, e aprendera no meu sertão do Vale do Jaguaribe com um ex-cabra de Lampião, que homem não chora, grita!

Foi a última e mais humilhante surra que sofri; meu pai bateu-me tanto que cansou; então agredi-lhe a moral, mordaz e vingativo: - Cansou, velho? E rápido desci os dez degraus da íngreme escada.

Pôxa vida! Eu já tinha 15 anos, pelos pubianos, testosterona até o gogó, prepúcio rompido pela prática diária da masturbação; e não fora ao “Curral” para trepar mas, em companhia de alguns colegas da rua, só para conhecer como era a “zona” da qual tanto ouvíamos falar pelos colegas mais velhos.

Então, por que a surra?

Sem poder evitar (a incontida força do inconsciente?) acode-me a tétrica imagem da horda primeva das tribos primitivas dos aborígenes australianos, mito escolhida por Sigmund Freud para seu livro “Totem e Tabu”; situação em que os filhos castigados matam o pai tirânico para pôr fim à horda patriarcal. Interpretam os psicanalistas: “... o fato de devorarem o pai fazia com que os filhos se identificassem com ele, e, assim, adquirissem parte de sua força.”

Pudera! Eu me constituíra o “queridinho” de minha mãe; era seu confidente, e seu factótum; pau para toda obra. Meu pai ao surrar-me quem sabe estivesse, sem o saber, a defender sua predominância sobre a fêmea da família... Minha visita à “zona” acendera-lhe a desconfiança... do fim da família patriarcal!



Os Outros Seis


Picasso
GUERNICA - 1937

Salvador Dali
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sete Quadros Quânticos - A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA

Douglas Bock


Estou convencido de que a memória não se desfaz nem se disforma, pelo contrário, corporifica-se, ganha contorno, permanece, e permanece com os humanos até o dia da morte, amém: intacta, integral, ainda que não constante; já não é mais uma linha acumuladora ascendente nem também desacumuladora descendente; passa a ser senoidal, parte vívida, parte adormecida; o que está adormecido é, não foi, nem é um vir a ser: é, simplesmente é! Até pode estar guardada na parte negativa da senoide, mas lá está, faz parte da integral memória de cada um; chama-se inconsciente!

O neurocientista Michael Gazzaniga descobriu que o hemisfério esquerdo do cérebro dos humanos, “uma de suas finalidades precípuas é encontrar uma razão de ser para o que é percebido. Se não houver uma razão, isto é, se não dispuser de dados que instruam seu raciocínio, procurará as razões de qualquer maneira, e para isso lançará mãos de dados anteriores, fazendo falsas conexões e reproduzindo lembranças distorcidas...” (Andrade, V.M., in “Um diálogo entre a Psicanálise e a Neurociência”). Então, por que o gênio Salvador Dali lançou mão de “falsas conexões” e “lembranças distorcidas” na sua obra pictórica em a qual usa e abusa de um exímio desenho?       

Ora, na minha opinião a “tragédia” de Dali, que lhe punha a sério a esse homem não tão sério, era o esquecimento; talvez a tomar o olvido como uma falta grave cujo pecado era preciso purgar; e Dali tentou purificá-lo desfigurando-o; assim como o marido traído desfigura o rosto de sua cara-metade com um golpe de navalha... O gênio narcíseo insubmisso é contrariado por sua tanatomania também narcísea e genial; resultado: figurou desfigurando. Genial concepção da sensatez do meio-termo: o relógio quase liquefeito sustentado pela árvore sem vida; a consubstanciação da ilusão do quase-quase.

Os humanos somos sempre um quase-quase: o rico a querer ser cada vez mais rico numa fereza sem-fim: do lucro comum ao lucro máximo, deste ao lucro máximo e imediato; da exploração do homem pelo homem à exploração de todos os homem por um único homem; Harry Truman a pousar de deus atribuindo-se o direito de matar de uma vezada só milhares de pessoas; exploração contra de todas as nações por uma única nação; Estados Unidos versus o resto do Mundo, e assim a tornar-se palmatória; que pode invadir, matar, e também pode mortificar via pressão econômica ou torturar na prisão de Guantánamo quem ousar se manifestar contra o seu poder de fogo.

Os imperialistas não são o preguiçoso cavalo gelatinoso de Dali, são de fato as blasfêmias estadunidense com “dez chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia” (Apocalipse 13:1); nomes plurais como búfalos, florestas, índios, negros, latinos, mulçumanos e comunistas.

Tudo isso na cabeça de um quase louco!


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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sete Quadros Quânticos - GUERNICA





Sigmund Freud descobriu que os humanos temos instintos opostos: um de vida (que ele chamou de Eros), e um de morte (que ele não chamou de Tanatos). Para Freud, porém, “Instinkt” é o “ego” dos animais não-humanos enquanto Ego é o “Instinkt” do animal humano. Tais dois instintos são os fundamentos do nosso existir.

Para conceituar a estrutura mental humana a psicanálise freudiana buscou morfemas na mitologia grega. Os mitos gregos denominavam Nona, o que tece o fio da vida, Décima, o que cuida da sua extensão e caminho, e Morta, o que corta o fio da vida. Mas em vez de utilizar os morfemas gregos Freud preferiu o designativo Ego (para Nona), Superego (para Décima) e Id (para Morta).

Conforme as ideias de Freud, a continuidade da vida na Terra só tem sido possível porque há existido equilíbrio entre esses dois instintos. Caso prevalecesse o instinto de vida sobre o instinto de morte, o ser humano seria acometido de síndrome narcísica e a existência humana entraria em turbulência e correria o risco de desaparecer. Coisa semelhante aconteceria se predominasse o instinto de morte.

As guerras são um modo (perverso) de manter em equilíbrio esses dois instintos. A obra “Guernica” é a expressão mais consagrada de uma guerra (porque assinada pelo gênio de Pablo Picasso). A tela foi pintada a óleo; é tida como representativa do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco.

Mas enquanto em Guernica morreram apenas alguns milhares de gente, as estimativas do primeiro massacre por armas de destruição em massa sobre uma população civil apontam para um número total de mortos a variar entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação. A maioria dos mortos era civil (Wikipédia); em apenas poucos minutos!

Guernica praticou-se pelo efeito de pulsões de dois criminosos, Francisco Franco e Adolf Hitler, ambos ateus; mas a carnificina de Hiroshima e Nagasaki deveu-se a uma fria ordem de um evangélico, o presbiteriano Harry Truman. Aqueles dois representavam o ódio racista; Truman, a cobiça capítalista! Geralmente essas carnificinas são praticados por monstros que aqui e ali surgem no ser humano fazendo com que ele se torne genocida, causador de guerras, assassino serial, político predador e coisas do gênero, pois enquanto o instinto de vida é bem acolhido como parte da nossa “boa natureza estragada pela cultura”, o de morte é olhado como um inimigo oculto dentro de nós, esperando sua oportunidade para cravar suas garras.

Ancestralidade: “... a indignação do Senhor está contra todas as nações, e o seu furor contra todo o exército delas; ele os destinou para a destruição e as entregou à matança.” Isaias 34:2)

Portanto, Vida e Morte, Construção e Destruição fazem parte de nossa natureza e são necessárias à nossa existência.

Está na Bíblia!



Os Outros Seis


Salvador Dali
A Persistência da Memória - 1931
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Edward Munch
O Grito - 1910
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Rene Magritte
O Filho do Homem - 1964
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Edward Hopper
Os Falcões da Noite (Nighthawks) - 1942
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Frida Kahlo
A Coluna Partida - 1944
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O Beijo (Amantes) - 1908
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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

1929 - A AUDIOFILIA NA 'ERA DO RÁDIO'


A Era do Rádio – ‘Golden Age of Radio’ , 'Old-time Radio', ou ‘Radio Days’ (como no filme de Woody Allen) – segundo os cronistas, aconteceu entre 1925 e 1950, e alcançou o auge nos anos 30 e 40. No Brasil, começou e acabou um pouco mais tarde, porém teve desdobramentos, consequências e significados, sociais, políticos e culturais, semelhantes.

No mundo da Audiofilia, no meio dos 20 os números começaram a despencar, o comércio de ‘victrolas’ e discos virou uma flamejante batalha de marketing, repleta de promoções e liquidações. Estas ações agressivas retardaram o impacto das ondas do Rádio, mas a crise estourou junto com a Grande Depressão. A mudança de comando e rumos foi assinalada por uma negociação emblemática: a aquisição, em outubro de 1929, da Victor Talking Machine Company pela RCA-Radio Corporation of America.

Até o Wall Street Crash  através de diversos ‘selos’ e empresas associadas  Victor era uma potência, líder mundial na produção de toca-discos e discos gravados. Mantinha sob contrato os mais famosos artistas da época, principalmente da Música Clássica, o mais ‘audiófilo’, sofisticado e lucrativo segmento do mercado (vide: 1913 – Quanto gastavaum audiófilo com o sistema?  e   1925 - 'Overdubbing – Fim da fidelidade nas gravações)


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CAPELA DOS PATRIARCAS - MOSTEIRO DE SÃO BENTO


No meio do miolo de S. Paulo, no último andar do Mosteiro de S. Bento, lá no alto, como um campanário numa realidade alternativa, se esconde a Capela dos Patriarcasuma das mais belas, místicas e luminosas da cidade. Preservada para uso restrito do monges, internos e alunos do mosteiro, colégio e faculdade.

Um espaço isolado e reservado, com riquíssimos vitrais e lindas pinturas, que, por longo tempo, esteve fechado, interditado para reformas. Parece um pedacinho da Alemanha transportado para S. Paulo. As pessoas que o conheciam talvez já tenham esquecido, e, depois da reabertura, com restauração parcial, foi muito pouco visitado.

Um esconderijo mágico, fora do tempo e do mundo profano. Porque capelas sempre têm alguma coisa de frutas secas, guardam dentro delas um sabor agridoce, úmido, ao mesmo tempo antigo e novo; preservam o cheiro, o calor, o mistério e a frescura dos tempos passados, ou da vida eterna quem sabe, Sempre protegidas por cascas rugosas.

A capela iluminada é uma construção recatada, resguardada, de louvor e de fé. Está sobrecarregada de referências, ilustrações e citações das mais preciosas lendas e símbolos do catolicismo tradicional. Sabedoria antiquíssima, para muitos cifrada e desconhecida, mas que, silentes e dúbias, carregam as tradições mais profundas da cultura ocidental.

É impressionante como S. Paulo guarda preciosidades danbrownianasescondidas; daria para escrever dezenas de outros ‘Códigos da Vinci’. Por exemplo a cripta do Pátio do Colégio, os subterrâneos da Catedral da Sé (com os ossos de Tibiriçá, o cacique que garantiu a sobrevivência paulistana) e centenas de outras, secretas, obliteradas, em propriedades particulares, ou com acesso restrito.


Teto estrelado da Capela dos Patriarcas



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

1925 - 'OVERDUBBING' - FIM DA FIDELIDADE NAS GRAVAÇÕES


Overdubbing [...] is a technique used in audio recording, whereby a performer listens to an existing
recorded performance, and plays a new performance along with it, which is also recorded. (Wikipedia)

Por consenso, 1925 marca o fim da era de gravações acústicas, até então o processo de produção de discos utilizava exclusivamente artefatos e princípios mecânicos, sem qualquer componente elétrico ou eletrônico. O som, captado por um imenso cone, movia uma membrana; que agitava uma agulha; que cavava um sulco numa superfície de cera. A reprodução fazia o caminho inverso: a agulha percorria a trilha fazendo vibrar uma membrana que gerava o som, amplificado por um cone. Mais analógico impossível, a fissura escavada no disco guardava fisicamente a memória exata do movimento que a produziu.

Este sistema cinético demandava energia, que, no momento da captação, era fornecida pelos artistas e pelos aparelhos musicais. Por isso os cantores necessitavam ter voz potente e os músicos instrumentos possantes, tanto que virtuoses camerísticos e instrumentos intimistas não funcionavam bem. Um banquinho e um violão não serviam. Os acontecimentos musicais precisavam invadir, avassaladores e grandiloquentes, os megafones para serem corretamente registrados, por isso os cantores berravam e os conjuntos e as orquestras se comprimiam barulhentos defronte a boca maior do cone acústico.



terça-feira, 22 de outubro de 2013

7 EPÍGONOS INTEMPESTIVOS + DÉDALO

W. H. Auden
“... as coisas por eles escritas
Irão, ao pé da página, numa nota erudita,
Para uma geração mecanizada desprezar...”
Os Epígonos (trad. José Paulo Paes)



DÉDALO
Filho de Metion, construtor de brinquedos eróticos para a rainha Pasifae – a zoófila – poder copular com o touro de Poseidon; arquiteto do Labirinto, para esconder pesadelos e aberrações; e criador do homem alado, para fugir do palácio-enigma. Viveu assediado pelas Fúrias da tragédia, porque matou o homem que inventou a roda.


BORGES, J.L.
Jorge Luis Borges e quase todas as manifestações dele viveram exilados num apartamento de Buenos Aires onde desaguam os rios da América do Sul – e quiçá do mundo. Ponderando que a realidade e o mundo é um quebra cabeça incompleto, que cada peça é um Labirinto, um Aleph, um Zahir ou uma Biblioteca da Babilônia, que aliás são todos sinônimos e intercambiáveis.

JOYCE, J.
James Joyce, revisitando odisseias pelas ruas de Dublin, descobriu que as línguas são Labirintos, construídos de signos, sons, conotações e significados; que as frases são corredores que se bifurcam, trifurcam e ramificam; que as palavras são aberrações e quimeras que habitam pátios, praças e esquinas; e que os Minotauros vivem em grandes manadas silenciosas.

ESCHER, M.
Maurits Escher vive num mundo não-euclidiano e bidimensional, No estreito vão entre o real e a fantasia. Jogou fora 
o ontem, o hoje, algumas dimensões e todas as leis da Física. Porque tudo acontece junto no perene aqui-agora de suas ilustrações. Concentrado na precisão e transcendência do traço, por um lapso, virou um lápis.


SCHÖNBERG, A.
Arnold Schönberg, o dodecafônico, estudava com afã cabala e numerologia. Abominava o número sete e, como triscaidecafóbo, temia o número 13 e seus derivados. Gostava de ordem e concórdia, excessivamente. Nasceu e morreu no dia 13, numa sexta-feira, 13 minutos antes da meia noite, com 76 anos, 7 + 6. A sua última palavra foi ‘harmonia’.
Deus o que dá para fazer depois de Beethoven? Bom... Embaralhar de novo a Música?


TURING, A.
Alan Turing  Pai da Computação e da Inteligência Artificial, matemático, maratonista, homossexual e defensor dos direitos das máquinas e robôs – venceu a inteligência nazista e foi quimicamente castrado pela burrice britânica. Fã de Branca de Neve, morreu mordendo uma maça saturada de cianureto.
Tudo isso para criar o logo da Apple. Stephen Fry entrevistando Steve Jobs:
– “Mentira?"
– “It isn't true, but God we wish it were!”




HAWKING, S.
Stephen Hawking – devagar como as estrelas fixas e célere como a dispersão das galáxias – se despojou de tudo para virar mente pura e contemplar o Ser eterno e infinito. Não a divindade velada e destorcida da Teologia, mas o Deus de Espinosa que se manifesta e se confunde com Sua obra. Agora, ensina aos homens multi-conectados os segredos dos atos-pensamentos, que dilatam o Tempo e entretecem o Espaço.


WITTGENSTEIN, L.
Ludwig Wittgenstein só tinha uma certeza: ‘Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar. Assim, se dividiu em dois para ter com quem conversar. Ambos saíram em peregrinação, atravessaram o Século XX e duas guerras. Quando contavam suas aventuras as pessoas ouviam atentas, porém duvidavam do sentido das palavras.