- Óóóbem!!!
[Chamo-me
Holbein, tirado dos pintores alemães renascentistas Hans (pai e filho), nome
que se pronuncia no Brasil de várias maneiras: no Rio de Janeiro diz-se
Ôllbeim, fechando-se o Ó e encompridando o som do L; em São
Paulo, Rólbem, com o H aspirado; em Santa Catarina, os alemães
catarinenses pronunciam meu nome de forma correta: Olbáin.]
Ouço um
segundo grito e tremo; reconheço a voz autoritária de meu pai a externar
intensa raiva. Na ocasião eu jogava bilhar no bar da esquina, divertimento que
meu pai proibira. E eu só fora para o bar depois de certificar-me de que ele
tomara o bonde para o Centro da cidade; e já se passara quase uma hora. Pô, o
que seria desta vez?
Subi os dez
degraus da escada que dava para a água-furtada onde meu pai construíra sua
alcova-totem: um cômodo separado e isolado do resto da casa. Assim que me viu,
inquiriu, ríspido:
- Onde você
esteve ontem à boquinha da noite? – Estive na casa do colega de classe, Paulo
Airton – respondi tímido e titubeante. – Fui estudar com ele Matemática. Vamos
ter prova amanhã.
- Paulo
Airton, né? Você chama o “Curral das Éguas” (a antiga zona do baixo meretrício
de Fortaleza) de casa do Paulo Airton?! Perguntou gritando, já possesso. E aí
acertou-me um tapa na cara; aguentei firme. Eu já me considerava um homem, e aprendera
no meu sertão do Vale do Jaguaribe com um ex-cabra de Lampião, que homem não
chora, grita!
Foi a última
e mais humilhante surra que sofri; meu pai bateu-me tanto que cansou; então
agredi-lhe a moral, mordaz e vingativo: - Cansou, velho? E rápido desci os dez
degraus da íngreme escada.
Pôxa vida!
Eu já tinha 15 anos, pelos pubianos, testosterona até o gogó, prepúcio rompido
pela prática diária da masturbação; e não fora ao “Curral” para trepar mas, em
companhia de alguns colegas da rua, só para conhecer como era a “zona” da qual
tanto ouvíamos falar pelos colegas mais velhos.
Então, por
que a surra?
Sem poder
evitar (a incontida força do inconsciente?) acode-me a tétrica imagem da horda
primeva das tribos primitivas dos aborígenes australianos, mito escolhida por
Sigmund Freud para seu livro “Totem e Tabu”; situação em que os filhos
castigados matam o pai tirânico para pôr fim à horda patriarcal. Interpretam os
psicanalistas: “... o fato de devorarem o pai fazia com que os filhos se
identificassem com ele, e, assim, adquirissem parte de sua força.”
Pudera! Eu
me constituíra o “queridinho” de minha mãe; era seu confidente, e seu factótum;
pau para toda obra. Meu pai ao surrar-me quem sabe estivesse, sem o saber, a
defender sua predominância sobre a fêmea da família... Minha visita à “zona”
acendera-lhe a desconfiança... do fim da família patriarcal!
Os Outros Seis
Os Outros Seis
Picasso
GUERNICA - 1937
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Salvador Dali
A Persistência da Memória - 1931
Edward Munch
O Grito - 1910
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Rene Magritte
O Filho do Homem - 1964
Frida Kahlo
A Coluna Partida - 1944
Gustav Klint
O Beijo (Amantes) - 1908
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