quarta-feira, 29 de junho de 2016

Coluna Testemunha do Colégio Sion


Passo sempre por lá nas minhas caminhadas, toda vez me encanta a coluna-testemunha no longo muro do Colégio Nossa Senhora de Sion, no último quarteirão da Avenida Higienópolis, que vai da Rua Aracaju até a Rua Rio de Janeiro.

São ao todo 28 colunas, 27 delas absolutamente iguais, cobertas por reboco e pintadas de amarelo. Uma delas, porém – a sexta da esquerda, ou a vigésima terceira da direta – é de tijolos aparentes, num arranjo artístico. Logo, diferente de todas as outras.

A explicação mais óbvia é que se trata de um registro testemunho de uma antiga versão do muro. Preservada para ilustração das pretéritas reedificações ou expansões havidas.

Mas será apenas isso? Para leitores de Dan (Código Da Vinci) Brown, como eu, o prosaico é sempre suspeito. Quem dera fosse o indício, pista de um mistério intricado, uma daquelas e lendas semiverdadeiras que envolvem os fundamentos da história mítica da cidade.

A coluna singular é um belo exemplo de alvenaria antiga, tijolos assentados com engenho e arte, sugerindo ideias, inventando formas. Uma arte infelizmente em processo de esquecimento, como a serralheria, a marcenaria fina e outras.

Alguém arrisca um palpite? Uma tese cabalística?

Os números (se contei certo) são 28 colunas. Nesta ordem, sentido Pacaembu: 5 / 1(a coluna suspeita) / 22.

Algum segredo dorme debaixo dela?

Sempre que posso adiro à lenda.














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Agradecimento.

Gostaria muitíssimo de compartilhar a foto postada por Martin Jayo na minha timeline do Facebook. Um antigo cartão postal mostrando o muro do Colégio Sion de tijolos aparentes. Comprovando assim  que a coluna isolada é mesmo um monumento testemunho do estilo da versão pretérita da construção.

"Martin Jayo Parece ser mesmo um testemunho de versões anteriores do muro."  



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Novo Agradecimento.

A Arnaldo Bruno que apontou as semelhanças entre o antiga coluna do Colégio Sion e os muros que ainda hoje cercam a Santa Casa de Misericórdia, também em Higienópolis.


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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Os Clássicos – Borges Pessoa Machado

Jorge Luis Borges, num pequeno artigo, ‘Sobre los Clásicos’, o último do livro ‘Otras Inquisiciones’, afirma que cada país ou cultura elege uma obra de referência para representar aquela nação ou povo. Então passa a lê-la como se fosse uma criação supranatural, uma revelação. Acreditando que cada frase, cada palavra tem um significado especial, capaz de dizer muito mais do que seu contexto ou seu registro no dicionário.

Também
avança que um livro se torna um clássico não pelas suas qualidades literárias intrínsecas, mas pela reverência com que é lido e cultuado por um determinado povo.

Numa série de conversas radiofônicas em 1984 (Borges em Diálogos / Rocco) pondera que o livro escolhido acaba enformando o espírito da nação. Divaga que o clássico adotado pelos argentinos para inspirá-los foi ‘Martin Fierro’, de Hernández, um poema gauchesco que conta a historia de “um desertor, um malvado, um assassino sentimental”. Para o país, talvez, uma melhor opção teria sido adotar ‘Facundo: Civilización i Barbárie’, de Sarmiento, que valoriza a ideal de civilidade e democracia.

É produtivo pensar pela chave proposta por Borges, correlacionando o clássico nacional e o espírito do país.

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Tomando Portugal, o grande clássico lusitano sempre foi 'Os Lusíadas’, a saga de um povo orgulhoso, exíguo, navegante e conquistador. Porém, parece que está sendo substituído pelos versos de Fernando Pessoa. Um poeta plural, de vozes diversas e variados pontos de vista. Um autor cosmopolita, com uma obra inacabada, não publicada em vida, que ainda hoje esta sendo descoberta e consolidada.

Quem sabe Portugal esteja migrando para Fernando Pessoa porque se vê como uma nação em reconstrução.

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O clássico que o Brasil consagrou como guia foi Machado de Assis, mais precisamente seus cinco grandes romances, os últimos que escreveu. E entre eles, especialmente, ’Dom Casmurro’.

Estranha seleção, porque o autor é um mulato que emula e defende os valores da alta classe média. Estoico, resignado, fatalista, irônico e desapaixonado. Que rejeita terminantemente a paternidade, para evitar deixar as mazelas humanas como herança para seus descendentes. Seu principal livro fala de uma relação naufragada por causa de um mistério ocluso, nebuloso e indecidido.

No livro ‘Ao Vencedor as Batatas’ de Roberto Schartz, um especialista em Machado de Assis, um dos principais capítulos chama-se: ‘Ideias Fora de Lugar’. Um título inquietante, cheio de augúrios e premonições.

Tem aparecido novos candidatos ao posto de clássico nacional: ‘Macunaíma’  o herói sem nenhum caráter, ‘Grande Sertão: Veredas’  a narrativa de um amor ambíguo, ou, quem sabe, Drummond?

É interessante pensar aonde cada um desses livros levaria o Brasil.


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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sobrados da Rua Maria José / Bixiga

Meio milhão de views!!!  e  ???

Em 15/05/2014, nas minhas caminhadas, passeando pelo Bixiga, fotografei um conjunto de sobrados recém-restaurados. Para ver como eram no passado procurei o endereço no Google Maps (Rua Maria José, equina com a Av. Brig. Luis Antonio) encontrei a imagem antiga, de Fev/2010, estavam completamente em ruínas.

Surpreendido com a diferença, resolvi publicar as duas imagens lado a lado. Antes, envergonhado com a obscena fiação exposta do Bixiga, uma catástrofe pendurada, retirei estes artefatos indesejados da foto mais recente.


Fotografia original Maio/2014


Me espanta o alcance desta postagem. Periodicamente as fotos são redescobertas e acontece um novo surto de curtição. Atualmente já passa dos 500 mil views, 50 mil curtidas e 10 mil comentários.

No excelente site ‘São Paulo Antigo’ existe uma longa postagem sobre a restauração desta vila, infelizmente sem detalhes da história da construção, datado de 08/Julho/2009. Curiosamente, segundo o Google, em 2010, os sobrados ainda estavam em ruínas.



Atualmente todos os sobrados estão ocupados por pequenas empresas e estúdios.


Gostaria muito de visitar algum deles, como aconteceu em outra joia paulista restaurada e preservada: Parque Savoia.