A Capela Cristo Operário passa os dias escondida dentro dos muros de uma instituição da Ordem Dominicana, no Alto do Ipiranga, na Rua Vergueiro, 7.290. Não está interditada ao público porque celebram missas periódicas e aceitam visitas agendadas (ainda?). A igrejinha – como muitas outras – é uma dessas gemas preciosas da cultura paulista perdida nessa imensidão de cidade. Pequena e delicada é imensamente valiosa, não suportaria acesso livre e irrestrito sem regras e cuidados.
Nasceu de um projeto audacioso e instigante do Frei João Baptista Pereira dos Santos, um dominicano ligado ao movimento francês 'Economia e Humanismo'. Concebia uma utopia, desejava fundar uma ”comunidade operária autogestionária constituída em torno de uma capela e de uma fábrica de moveis”(1). Com direito a trabalho digno, educação, esportes e atividades culturais variadas (jornal, teatro, artes plásticas...). Trabalho, Diversão e Arte, com divisão dos lucros entre os participantes.
Começou com a igreja, construída em 1950 a partir de um velho armazém. Nos dois anos seguintes o espaço foi decorado graciosamente por grandes artistas. Mais de 20 obras de arte compõem o acervo da Capela. Três paredes receberam amplos e inusitados (não conheço outros) afrescos de Alfredo Volpi – o grande pintor paulista – que também criou os vitrais (2). Simples e belos, homenageiam os quatro evangelistas. Os jardins foram projetados pelo ubíquo Burle Marx. As imagens sacras são da artista russa ortodoxa Moussia Pinto Alves. A sacristia é iluminada por um vitral do concretista Geraldo de Barros (2), que também colaborou na implantação do desafio comunitário, desenhava os moveis da UNILABOR, a fábrica de móveis da comunidade. A lista de atrações é grande.
Em 1954 a UNILABOR iniciou a produção de excelentes móveis de escritório que alcançaram forte sucesso de vendas. Durou treze anos o empreendimento, em 1967 a indústria foi desativada. De alguma forma, o fim da aventura social cruza com os turbulências de 1964. Os terrenos, edifícios e, principalmente, a Capela perduraram dentro dos muros da Ordem Dominicana.
Vale a pena visitar a Capela Cristo Operário, principalmente pelos maravilhosos afrescos e vitrais de Volpi, que se distanciam de suas obras tardias – as bandeirinhas – porém retoman, numa outra volta da espiral, seus trabalhos iniciais.
Também, todos os itens do acervo – inclusive os trabalhos dos consagrados Volpi e Burle Marx – ostentam alguma coisa estranha, incomum e extraordinária. As obras foram criadas dentro de uma comunidade operária, mas com inspiração e influência do MAM e de artistas próximos a Ciccilo Matarazzo; assim o resultado final é ambíguo: por um lado parecem refinados produtos de galeria, por outro, lembram artesanatos altamente sofisticados. Existe um marca única e indelével de tímida e férrea esperança em todos eles.
(1) A História inteira da experiência, com ênfase no segmento
industrial, esta contada no livro UNILABOR – Desenho Industrial, Arte Moderna e
Autogestão Operária (Editora Senac), de Mauro Claro - Professor de Desenho Industrial da
Universidade Mackenzie.
(2) As fotos abaixo foram colhidas na visita realizada em maio de
2011.
Veja álbum completo das fotos da Capela Cristo Operário
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