A vida de Dona Yayá pode ser contada como uma ópera em dois atos, allegro e adágio. Na primeira parte [32 anos] foi uma heroína romântica, corajosa e ousada. Depois, no longo e arrastado final [42 anos] se transformou numa louca autodestrutiva internada no seu manicômio particular. Yayá jamais conheceu a felicidade plena.
O longo castigo de quatro décadas aconteceu na Casa da Dona Yayá, aquela na Rua Major Diogo, 353. Um monumento preservado e visitável, um museu mantido pela USP. Entretanto, lá, D. Yayá não viveu, apenas ficou confinada.
Antes da tragédia, a famosa dama paulista, Sebastiana de Melo Freire, de Mogi das Cruzes, residiu e perseguiu a felicidade no seu Palacete na Rua 7 de Abril. Onde, hoje, se erguem a Galeria das Artes e a Galeria Sete de Abril, que dão passagem para a Praça Dom José Gaspar, e também para a Biblioteca Mário de Andrade. A jovem dama enlouquecida acabou deixando uma marca definitiva na cultura paulista: a USP herdou sua fortuna; a Biblioteca Municipal, por longo tempo, funcionou na mansão onde morava antes do confinamento; e a Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade, recém inaugurada, ocupa um pedaço de seus antigos jardins.
Enquanto lúcida foi guerreira, se sobrepôs aos castigos e, por 12 anos, buscou bravamente sua realização pessoal. Promovia saraus com as amigas do Colégio Sion, frequentava e patrocinava artistas plásticos, se divertia armando ‘pegadinhas’ de pastel com algodão dentro para convidados incautos. Viajou muito pela Europa.
No tempo em que ainda era novidade, abusada dirigia desvairada seus dois automóveis pela paulicéia e pelas toscas estradas do interior paulista. Pioneira da fotografia, montou um laboratório em casa, porque gostava de retratar santos. Nunca teve namorado, temia pretendentes aventureiros, mas curtiu uma paixão não correspondida por Edu Chaves, o aviador aristocrata.
No tempo em que ainda era novidade, abusada dirigia desvairada seus dois automóveis pela paulicéia e pelas toscas estradas do interior paulista. Pioneira da fotografia, montou um laboratório em casa, porque gostava de retratar santos. Nunca teve namorado, temia pretendentes aventureiros, mas curtiu uma paixão não correspondida por Edu Chaves, o aviador aristocrata.
'O Grupo dos Cinco' Anita Malfatti |
No ‘Grupo dos 5’ os homens escreviam e as mulheres pintavam. Yayá poderia fotografar. Quem sabe, orientada por Mário de Andrade – mestre e inspiração para tantos no Brasil – acabaria referência cultural fazendo o registro definitivo e extensivo da iconografia religiosa brasileira.
Neste passado utópico, a Casa da Dona Yayá, na Rua Major Diogo, então, guardaria apenas sua memória fotográfica, não a triste e deprimente história de suas alucinações.
Essa é uma das matérias mais comoventes que li sobre Dona Yaya...existem poucos registros sobre ela,o que é lastimável,mas ainda há aqueles que resistem e contribuem para a permanência de sua memória.
ResponderExcluirEliana,
ResponderExcluirObrigado pelos comentários.
Vejo Dona Yayá como uma heroína trágica, no sentido clássico. As provações desabavam sobre ela gratuitamente, que tentava, tenazmente, sobreviver e ser feliz.
Alguns médicos atuais, analisando os registros de suas loucuras, acreditam que sua doença era apenas depressão profunda. Hoje facilmente controlável por remédios. O que faz dela uma personagem duplamente castigada.
Douglas
Excelente registro histórico de uma sofrida alma de artista!
ResponderExcluirMuito obrigado pela visita Vólia Loureiro do Amaral Lima. a historia dessa velha dama paulista parece uma tragédia grega, um castigo. Talvez com os avanços de hoje o desfecho poderia ser outro.
ResponderExcluirEis as façanhas do tempo, o que podia ser e não foi. Ali à mão, havia uma área luminosa, caminho de salvação talvez, ou não, quem sabe, por ela Yayá pudesse adentrar e vibrar nessa luz das imagens que se revelam somente de dentro da escuridão.
ResponderExcluirVilma Silva, Dona Yayá talvez seja a grande personagem trágica paulista do último século. Uma rosa exuberante mergulhada num poço de cal virgem.
ExcluirE pensar que hoje bastariam medicamentos para controlar seus males.
Douglas Bock,que emocionante sua narrativa sobre Dona Yaya! Como saber se essa loucura não fora plantada,por interesses escusos.Quem é louca afinal? Quem incomoda?Ainda cita Jó em uma analogia brilhante. Passando por tantos vieses contrários a vida ela ainda soube a seu modo por um tempo ser feliz,estar feliz...Obrigada!
ResponderExcluirSuely Sette, é um privilégio ter leitoras sensíveis como você. A história de Dona Yayá é uma tragédia, um absurdo e uma lição. Gostei de ter percebido a citação de Jó no corpo do texto, mas o destino dela parece mesmo uma aposta do bom contra o mal.
ResponderExcluirHistória de uma mulher fantástica. Minha conterrânea de Mogi das Cruzes! Uma pena que tantos acontecimentos ruins, tiraram seu brilho... Para quem quiser saber mais sobre Dona Yayá, este link é bem objetivo: http://netleland.net/hsampa/yaya/yaya.html
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo comentário Greice
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