O filme ‘2001: A Space Odyssey’ completou 56 anos de lançamento, um dos destaques desta obra divisória é sua inesperada trilha sonora. Contudo, o que talvez nem todos os fãs tenham percebido, é que, lá pelos 19:45 minutos de exibição, num golpe tramado por Hall 9000, Kubrick subsome a coautoria da valsa ‘Danúbio Azul’, anteriormente atribuída só a Johann Strauss II. Sem mudar nenhuma nota, reinventa todos os vetores da música e a relança como um tema para os novos tempos espaciais e cósmicos.
A sequência-prova da apropriação da coautoria é longa e primorosamente
coreografada, dura 5:37 minutos e acontece logo depois do mais famoso ‘match
cut’ da História do Cinema: O OSSO QUE SE TRANSFORMA EM NAVE.
Com Johann Strauss II 'Danúbio Azul’ era uma valsa agitada e empolgante, romântica e majestosa, trepidante e rápida, em crescendo, de tirar o folego. Concebida para o rodopio de elegantes casais em grandes salões de pisos de madeira ou mármore com rosáceas desenhadas.
Com Kubrick se transforma numa melodia sideral, lenta, atemporal. O melhor e mais adequado acompanhamento para o sempiterno bailado dos astros, naves, galáxias, artefatos e até do eixo celeste. O som perfeito para traduzir o silêncio e o mistério interestelar.
Depois de ‘2001’, ao ouvir o tema ‘Danúbio Azul’, qualquer pessoa do mundo – exceto os austríacos que o consideram hino afetivo de sua nação - pensa em Kubrick, viagens espaciais e no ritmo da rigorosa mecânica celeste.
Curiosamente, a estreia mundial do ‘Danúbio Azul’ de Johann Strauss II ocorreu 101 anos antes do lançamento do filme ‘2001’, no carnaval, 15 de fevereiro de 1867. Não me espantaria se Stanley Kubrick, que era meio compulsivo, soubesse disso e, em algum momento, tenha imaginado homenagear o centenário da primeira versão da valsa de que se tornaria parceiro.