Encontrei Wilhelm Furtwängler no meio de uma praça em Baden Baden/Alemanha. Calvo, brônzeo, enfarruscado, atrás de várias camadas superpostas de memórias, glórias passadas e, sobretudo, escavado pelo esquecimento. Entristecido olhava para o Teatro de Ópera.
Não me surpreendeu, ele morreu perto da cidade. Me aproximei para
conversar.
“– Maestro sua fama foi imensa, regeu todas as orquestras mais importantes. Se firmou como uma das coordenadas da Arte da primeira metade do século 20. Uma época decisiva, que até hoje baliza nossa História. Como foi ser tão grande?”
Falava baixo, lentamente, um som rascante, parecia que as brônzeas ostras das incertezas friccionavam sua garganta. Me aproximei para ouvir melhor.
“– Sou um homem de metal, mudo e silencioso. Deixo que a História que é uma ‘donna’, ‘mobile qual piuma al vento / muta d'accento e di pensiero’, fale por mim.
Fechou-se em ausência, continuei meu passeio, mas ainda ouvindo a música
que ressoava.