quinta-feira, 18 de agosto de 2022

2022/ago/14 - Cobra Trocando de Pele

1.200 CDs - sete caixas grandes - o tempo passou e o mundo mudou. Doados para uma Loja de CDs e DVDs.

Dizem que as cobras e serpentes, em algumas estações da vida, ficam incomodadas, agoniadas, não cabem mais dentro da pele. Detestam o antigo desenho do rajado, já desbotado, não suportam mais a cor branca da barriga, ficam inquietas, querem mudar.

Era assim que me sentia diante daquelas 5 prateleiras, mais um anexo, entulhadas de CDs, TODOS DEVIDAMENTE COPIADOS PARA ARQUIVOS, fáceis de achar para ouvir, na ponta dos dedos.

Tchau e muito obrigado pelas muitas tardes, noites e manhãs que me alegraram e embalaram minhas divagações, mas é hora do adeus.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Mioko – a Mosaicista

 
Minha amiga Mioko [MIK] é uma artista discreta, quase secreta, porém permanentemente inquieta. Entre suas peculiaridades, a mais intrigante, é a arte que elegeu para se expressar: Mosaico. Segundo o grego antigo ‘trabalho das Musas’.

Uma ocupação que exige paciência e pertinácia. Revelar o mundo justapondo miúdos pedaços, refazer a realidade rejuntando cacos. Velhíssima e poderosa linguagem, tarefa que acompanhou a humanidade na sua longa caminhada, desde o início da História, vem da Mesopotâmia, berço da civilização ocidental.

Uma arte de grandes discursos mas de gramática simples, regra binária: formato e cor. Basta isso, mais o incomensurável desejo de recriar o mundo, contar uma história que mora dentro da alma. E na alma tudo cabe.

Mioko depois que se aposentou decidiu revisar e reinventar sua vida, tinha imensa disposição, desejo de sobra e um sonho extravagante. Sem prática nem experiência, seu motor era impulso e ímpeto. Obedecia a agulha de uma bússola transcendental: queria contar sua epopeia pessoal em mosaicos.

Um dos pedreiros de suas várias reformas tinha contatos numa fábrica de cerâmica e azulejos, intermediou com o dono a retirada de um pouco dos rejeitos e cacos. Mioko contratou um caminhão-caçamba e ergueu uma montanha de sobras no seu quintal.

O sonho impossível tinha acontecido, só que ainda estava meio misturado. Daí para frente só precisava de tempo, disposição e paciência. Mas isso tinha estocado a vida toda.

A artista distendeu as translucidas asas da fantasia e começou a longa jornada. Separou cores, cortou e recortou cada uma das ‘tesselas’, ajustou vários milhares de fragmentos quebrados e, com cor, amor, forma e carinho, registrou a transfigurada saga de sua família, magicada e iluminada pela imaginação.

Hoje, todos os muros de seu imenso quintal – pelo lado de dentro - estão cobertos de painéis ilustrados. Quem for convidado e souber ler as coloridas letras de Mioko vai poder viajar pelos extraordinários caminhos que sua família percorreu.