Uma ocupação que exige paciência e pertinácia. Revelar o
mundo justapondo miúdos pedaços, refazer a realidade rejuntando cacos. Velhíssima
e poderosa linguagem, tarefa que acompanhou a humanidade na sua longa caminhada,
desde o início da História, vem da Mesopotâmia, berço da civilização ocidental.
Uma arte de grandes discursos mas de gramática simples, regra
binária: formato e cor. Basta isso, mais o incomensurável desejo de recriar o
mundo, contar uma história que mora dentro da alma. E na alma tudo cabe.
Mioko depois que se aposentou decidiu revisar e reinventar sua
vida, tinha imensa disposição, desejo de sobra e um sonho extravagante. Sem prática
nem experiência, seu motor era impulso e ímpeto. Obedecia a agulha de uma
bússola transcendental: queria contar sua epopeia pessoal em mosaicos.
Um dos pedreiros de suas várias reformas tinha contatos
numa fábrica de cerâmica e azulejos, intermediou com o dono a retirada de um
pouco dos rejeitos e cacos. Mioko contratou um caminhão-caçamba e ergueu uma montanha de sobras no seu quintal.
O sonho impossível tinha acontecido, só que ainda estava meio misturado.
Daí para frente só precisava de tempo, disposição e paciência. Mas isso tinha
estocado a vida toda.
A artista distendeu as translucidas asas da fantasia e
começou a longa jornada. Separou cores, cortou e recortou cada uma das
‘tesselas’, ajustou vários milhares de fragmentos quebrados e, com cor, amor, forma
e carinho, registrou a transfigurada saga de sua família, magicada e iluminada pela
imaginação.
Hoje, todos os muros de seu imenso quintal – pelo lado de dentro
- estão cobertos de painéis ilustrados. Quem for convidado e souber ler as
coloridas letras de Mioko vai poder viajar pelos extraordinários caminhos que sua
família percorreu.
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