Os
casamentos, como os cisnes, assediavam Leda desde garota. Com 37 anos colecionava
matrimônios, filhos e ex-maridos, três de cada. Alguns sábados seu prédio
parecia escola de meninos, os pais se aglomeravam no portão para pegar os
filhos, às vezes levavam os meio-irmãos para programas comuns, acabaram ficando
amigos. Conversavam sobre a ex-companheira com carinho, contudo, os diálogos eram
surreais, falavam de mulheres diferentes.
Leda
era cambiante, nunca se preocupava com casamentos, porém eles teimavam em sitiá-la. Sua vida era dividida em ciclos, cada seis anos mudava tudo e
se reinventava inteira. Já havia sobrevivido a três metamorfoses: como rockeira, como universitária e como empresária. Em cada saga passava por uma transformação profunda, trocava de
aparência, de amigos, de vocabulário e de objetivos. Quando terminava,
acrescentava um filho e um ex-marido ao conjunto de astros de sua constelação e
seguia em frente.
Os ciclos obedeciam leis e regras esotéricas. Principiavam com uma longa incubação,
Leda se recolhia e evitava compromissos e decisões. Divagava, procurando alguma
coisa impressentida suspensa no ar. Inopinadamente acelerava e entrava numa agitação
urgente e dirigida. De fora tudo parecia aleatório e impensado, todavia, ela sabia
exatamente para onde caminhava e o que queria. Então uma etapa diferente era
inaugurada.