O Ciclope do poema ainda não é aquele que prendeu Ulisses e
seus soldados na caverna; que aceitou o vinho oferecido, se embebedou e
adormeceu; que teve seu único olho vazado durante o sono por um lança
incandescente; e acabou a vida vagando trôpego pela ilha.
Também não é o amante apaixonado e rejeitado por Galateia, a
ninfa pastora de golfinhos; que, por ciúmes, matou Ácis, o rival, esmagando-o
com uma pedra.
Na mitologia grega existe uma legião de ciclopes, de várias
origens, todos seres infelizes, toscos e telúricos. Polifemo, o inimigo de Ulisses, é
filho de Poseidon e da ninfa Toosa, portanto um semideus, sabedor dos
desígnios e planos do Olimpo. A tragédia é que conhece seu próprio destino por
antecipação, por isso sofre mais.
A primeira publicação dessa poesia foi antes da Internet, na
pré história da informação, em 1977; quando o mimeógrafo e o xerox eram as
tecnologias disponíveis para autores novos. Neste tempo publicava meus poemas numa revista xerocada chamada
AMARELOS BOLORES, na época achávamos lindo o nome.
O Cíclope de Olho Verde foi publicado numa edição mimeografada de 20 exemplares (infelizmente não me sobrou nenhum), também distribui centenas de copias ao longo dos anos. Quem lê diz que é uma 'joinha bem lapidada', cheia de facetas e brilhos inesperados. Gosto muito desse poema, das
reflexões do Ciclope acerca de seu desastre anunciado. Venho polindo o texto faz
uns 30 anos.
Texto Completo: O CICLOPE DE OLHO VERDE
Caro Douglas,
ResponderExcluirLi o poema de seu Ciclope. Fiquei impressionado com a maturidade do texto, sua profundidade humana e poética, em se tratando de um poema da juventude. Ainda que tenha sido lapidado, partiu como uma obra prima, uma "odisseia" à procura da Ítaca maravilhosa dos nossos sonhos, esse mar de águas verdes para onde acorre a visão de Polifemo. Esta vítima trágica resume o destino humano, entre a partida e o retorno, entre lobos em pele de sereias, que cantam uma canção de engano. Mas optamos pelo engano lúcido, o da poesia. E assim vamos nós, como Polifemo-Sísifo, que se vinga dos deuses vivendo, porque o seu "arbítrio... é prolongar a peleja", por terras de Ninguém.
Obrigado pela partilha dessas palavras aladas, sonhos de Homero, do mundo e suas.
22/12/2014 12:37
Alison Ramos
"Alison Ramos é um jovem e talentoso amigo, autor do excelente livro de contos 'MeMoiras', de Fortaleza, Doutorando em Filosofia na Universidade do Ceará. Via Facebock mandou esses ineteressantes comentários, que - me pareceu - expandem os horizontes de eventos do poema: 'O Ciclope de Olho Verde'. Por isso resolvi reproduzí-los aqui."
Douglas Bock
Que beleza! Amei essa obra prima. A peleja da vida, o mar de memórias e a deusa Parca que nos rodeia e nos rouba de cena na hora final da batalha, se é que existe hora final. Assim é a nossa vida, tal e qual. Nós todos somos esse Ciclope, que ao longo das lutas temos os olhos vazados, impedidos de vermos tantas coisas, e mesmo escutando as cantigas do mar já não choramos mais por nada, pois acabamos por compreender nosso destino e aceitar a vida como ela deve ser. Assim, como cada um entende do seu jeito, humanizei essa criatura. Coloquei-me no lugar desse ser mitológico, e como romântica que sou, vi-o pelos meus olhos, amei-o por sua grandeza. Parabéns, poeta, a vida acaba por vencer a dor, sempre, ainda que nossos olhos estejam vazados e secos. A nossa sina há de ser cumprida.
ResponderExcluirUm abraço e meu aplauso.
Lígia Beltrão
Lígia Beltrão, obrigado por reescrever meus versos. Porque um poema nunca esta pronto, antes da publicação o poeta o revê infinitas vezes, depois cada leitor o reescreve durante a leitura. As metáforas mudam de sentido e ganham novas conotações. É excitante ver nosso poema comentado por outro poeta.
ResponderExcluirTranscrito do Facebook
ResponderExcluirPaula Malfitanni É que a lágrima correria do olho que ele não tem.