sexta-feira, 19 de abril de 2013

AUDIOFILIA, TEORIA DO CAOS E BORBOLETAS


Teoria do Caos
“É uma das leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo o que nos cerca. A ideia central da
 teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e
 absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis - caóticos, portanto.”
Mundo Estranho / Abril


Vamos brincar com uma ideia?

Todos audiófilo abriga dentro de casa um complexo, maravilhoso e desconhecido Sistema Caótico: sua própria sala de som.

Vamos tentar entender como nossos setups são afetados pela Teoria do Caos?

Mesmo começando com um exemplo bem simples – Fonte, Amplificador e Caixas Acústicas – já existem nove variáveis para controlar. Isso pensando esquematicamente, porque qualquer refinamento deste modelo básico aumenta exponencialmente o número de variáveis, como coelhos quânticos copulando num universo em expansão.

Se, brincando, montarmos uma equação com essas nove variáveis, do outro lado do sinal de igual (=), precisaremos por o ‘Gosto Pessoal’, a preferência do dono. Ou seja, a mais insólita das incógnitas e também a mais complicada, que nem o amigo mais chegado entende direito.

Entretanto, é melhor não falar disso agora, vamos assumir que GP – Gosto Pessoal, é uma inconstante universal incontrolável.


A tabela ao lado ilustra melhor o conjunto de variáveis envolvidas.


Observem que todas as variáveis são também, elas próprias, sistemas caóticos entrelaçados e interdependentes.

Vamos pensar na Eletricidade: a usina, a rede de distribuição, a instalação domiciliar, tudo influi, mesmo minimamente. Ou na Acústica: as dimensões da sala, as superfícies, os materiais, os móveis, a temperatura, qualquer coisa altera o som produzido. Ou nos Cabos, com infinitas possibilidades de fabricação.

Mas tudo isso é periferia, trata-se de premissas para o funcionamento do trio principal: Fonte, Amplificador e Caixas. Mesmo este trio é instável, pode explodir e se multiplicar num vasto número de variáveis. A Fonte pode ser composta (transporte + DAC), a Eletrônica pode virar um conjunto (Pré + Power – únicos ou monoblocos – valvulados ou solid state) e as Caixas podem ser bicabladas, segmentadas, de uma, duas ou mais vias, qualquer coisa. Em resumo, todo setup, do mais singelo ao mais sofisticado, é um vasto e complexo sistema caótico, muito maior do que podemos controlar ou, sequer, enumerar.


A Teoria do Caos surgiu 50 anos atrás para lidar com os sistemas complexos e dinâmicos que operam com quantidades explosivas de variáveis. Muitos especialistas consideram o Caos, a Relatividade e a Mecânica Quântica a trinca de avanços teóricos mais decisivos da Ciência no século XX. A grande sacada da Teoria do Caos foi descobrir que qualquer mudança, por menor que seja, em qualquer componente ou variável, pode provocar consequências enormes e imprevisíveis no sistema inteiro.

Por sorte, também provou que, apesar do excesso de incógnitas, podemos ter algum controle dos resultados finais. A Teoria do Caos sustenta que toda a vasta complexidade do universo é controlada por regras, leis e equações muito simples.

Todos conhecem o Efeito Borboleta, sugerido pelo meteorologista Edward Lorenz: “o bater de asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear um tornado no Texas”; e ilustrado por aqueles lindos gráficos em forma de borboleta, Isso é Caos.

A Teoria do Caos também produziu os fractais, aqueles belos e intrincados desenhos que provam que, independente da escala ou da dimensão, a o fator gerador é sempre uma equação simples, porque as mesmas leis que regem o infinitamente pequeno, regem também o imensamente grande.  


A correlação entre Audiofilia e Caos é velha. Segundo James Gleick (Caos – A Criação de Uma Nova Ciência), Mitchell Feigenbaum, um dos pais do Caos e descobridor da Feigenbaum Constant (que explica a periodicidade das segmentações caóticas), era um audiófilo fanático. Por volta de 1975 “vivia num espaço desnudo, uma cama num cômodo, um computador num outro e no terceiro, três torres eletrônicas pretas para tocar sua coleção de discos alemães”. Ou seja, um audiófilo do subgrupo dos vinilistas-musicófilos.

É proveitoso enxergar nossos setups domésticos como Sistemas Caóticos. Por exemplo, podemos entender porque uma variação mínima na química dos capacitores pode produzir mudanças imensas. Ou compreender que a substituição de um cabo pode alterar o timbre e a qualidade do som. Ou ainda constatar que  a ‘queima’ dos aparelhos modifica o som. Heráclito, dois mil anos atrás, alertou: “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. Nós também jamais ouvimos duas vezes o mesmo som, nossos setups estão mergulhados no fluxo do Tempo, mudam continuamente.


A forma da Teoria do Caos operar com infinitas variáveis é utilizar os ‘atratores estranhos’. Ou seja, fixar duas variáveis (ou dois grupos de variáveis) bem conhecidas e analisar como as outras se comportam. Porque todo fenômenos é como um novelo de interações intensas, tudo influencia tudo. Aquela revoada de borboletas que abre o texto representa exatamente isso: gráficos de ‘atratores estranhos’. Dois polos conhecidos, em torno dos quais todas as inumeráveis variáveis se organizam.

Quando mexemos nos nossos setups (e até nos problemas do dia a dia), intuitivamente, utilizamos o conceito de ‘atratores estranhos’. Em geral mudamos um ou dois componentes e preservamos os demais; depois, com base em itens conhecidos, analisamos as mudanças observadas. Porque, quando alteramos muitas variáveis a lógica se dissolve, caímos num vórtice de incertezas, com excesso de dados desconhecidos.


Um aspecto interessante da relação entre Caos e Audiofilia é observar com os mídias ‘analógicas’ e o ‘digitais’ enfrentam as mudanças provocadas pelo fluxo do Tempo (ver artigo 'A ESCADA E A RAMPA - O DIGITAL E ANALÓGICO – CD E VINIL', neste Blog - no marcador Audiofilia - para uma definição ‘audiófila’ desses dois conceitos).

Com as mídias analógicas (vinil, fita e outras) ocorrem dois desdobramentos curiosos. Primeiro – a nível microscópico e físico – jamais temos duas cópias idênticas, nunca temos dois LPs (por exemplo) absolutamente iguais. Segundo, os próprios registros (sulcos, trilhas magnéticas) se alteram com o tempo. Lembram-se de Heráclito? Nunca ouvimos a mesma música duas vezes.

Talvez as mídias analógicas (vinil, rolo...) sejam tão gostosas e cativantes de ouvir porque também experimentam a roedura do Tempo, como os humanos; e soem diferentes toda vez que ouvimos.

Em tese, os códigos digitais estão imunes à passagem do tempo, porque são constructos inteiramente racionais, sem relação com o mundo físico. Também, como as cópias são fáceis (em CDs, DVDs e pendrives e outras mídias), podem ser largamente replicadas e geograficamente espalhadas, sem alteração do conteúdo, as chances de preservação dos registros são muito maiores.

É importante ressaltar que Computação séria não existiria sem essa garantia de identidade absoluta, imaginem se aviões caíssem por alteração dos dados. Quem estudou Informática sabe, que, desde os massoréticos (antiqüíssimos escribas judeus encarregados da preservação das palavras de Deus), existem técnicas e artifícios que asseguram a perfeita guarda e recuperação das informações.


Antes de terminar é preciso voltar lá atrás, e recuperar o segundo termo da Equação Caótica Insolúvel da tabela; aquele que vem depois do sinal de igual (=), à variável GP – Gosto Pessoal – a inconstante universal incontrolável.

A má notícia é que ele, o Gosto Pessoal, também está sujeito a mudanças sorrateiras e à nossa revelia. Pior ainda, é regido por sistemas caóticos muito mais complexos do que os setups: o nosso cérebro e nossa ‘cabeça’. Com a agravante de, às vezes, serem mais desconhecidos, enganadores, confusos e velados.

A boa noticia é que o GP – Gosto Pessoal muda junto conosco, acompanha nossa evolução (ou involução) e se adapta aos nossos melhoramentos e aprendizagens. Nossa consciência garante que somos iguais ao nosso GP, completamente idênticos e indistinguíveis dele.

Assim, neste mundo de incertezas, as preferências individuais são as únicas certezas que podem guiar nossa avaliação dos resultados desejados. Elas, apenas elas, devem indicar o rumo dos nossos setups, mesmo que a teoria diga o contrário.


Douglas Bock ( ZpinoZ ou Z, nos Fóruns de Audiofilia )



2 comentários:

  1. Esta equação caótica insolúvel está errada. O resultado dela é a qualidade de áudio unânime aos ouvidos de quem sabe bem o que é isso. Cabos, sejam quais forem, não entram nesta equação. Não são eles que definem a qualidade de áudio.

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