Teoria do Caos
“É uma das
leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo o que nos
cerca. A ideia central da
teoria do caos é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e
absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis - caóticos, portanto.”
Mundo Estranho / Abril
Vamos brincar
com uma ideia?
Todos audiófilo
abriga dentro de casa um complexo, maravilhoso e desconhecido Sistema Caótico: sua
própria sala de som.
Vamos tentar entender como nossos setups são afetados pela Teoria do Caos?
Vamos tentar entender como nossos setups são afetados pela Teoria do Caos?
Mesmo começando
com um exemplo bem simples – Fonte, Amplificador e Caixas Acústicas – já existem
nove variáveis para controlar. Isso pensando esquematicamente, porque qualquer
refinamento deste modelo básico aumenta exponencialmente o número de variáveis,
como coelhos quânticos copulando num universo em expansão.
Se, brincando,
montarmos uma equação com essas nove variáveis, do outro lado do sinal de igual
(=), precisaremos por o ‘Gosto Pessoal’, a preferência do dono. Ou seja, a mais
insólita das incógnitas e também a mais complicada, que nem o amigo mais
chegado entende direito.
Entretanto, é
melhor não falar disso agora, vamos assumir que GP – Gosto Pessoal, é uma
inconstante universal incontrolável.
A tabela ao lado ilustra melhor o conjunto de variáveis envolvidas.
Observem que
todas as variáveis são também, elas próprias, sistemas caóticos entrelaçados e interdependentes.
Vamos pensar
na Eletricidade: a usina, a rede de distribuição, a instalação domiciliar, tudo
influi, mesmo minimamente. Ou na Acústica: as dimensões da sala, as
superfícies, os materiais, os móveis, a temperatura, qualquer coisa altera o
som produzido. Ou nos Cabos, com infinitas possibilidades de fabricação.
Mas tudo isso
é periferia, trata-se de premissas para o funcionamento do trio principal: Fonte,
Amplificador e Caixas. Mesmo este trio é instável, pode explodir e se multiplicar
num vasto número de variáveis. A Fonte pode ser composta (transporte + DAC), a
Eletrônica pode virar um conjunto (Pré + Power – únicos ou monoblocos –
valvulados ou solid state) e as Caixas podem ser bicabladas, segmentadas, de
uma, duas ou mais vias, qualquer coisa. Em resumo, todo setup, do mais singelo ao mais sofisticado, é um vasto e complexo sistema
caótico, muito maior do que podemos controlar ou, sequer, enumerar.
A Teoria do
Caos surgiu 50 anos atrás para lidar com os sistemas complexos e dinâmicos que
operam com quantidades explosivas de variáveis. Muitos especialistas consideram
o Caos, a Relatividade e a Mecânica Quântica a trinca de avanços teóricos mais decisivos
da Ciência no século XX. A grande sacada da Teoria do Caos foi descobrir que
qualquer mudança, por menor que seja, em qualquer componente ou variável, pode
provocar consequências enormes e imprevisíveis no sistema inteiro.
Por sorte, também
provou que, apesar do excesso de incógnitas, podemos ter algum controle dos
resultados finais. A Teoria do Caos sustenta que toda a vasta complexidade do
universo é controlada por regras, leis e equações muito simples.
Todos
conhecem o Efeito Borboleta, sugerido pelo meteorologista Edward Lorenz: “o bater de asas de uma borboleta no Brasil
pode desencadear um tornado no Texas”; e ilustrado por aqueles lindos gráficos
em forma de borboleta, Isso é Caos.
A Teoria do Caos também produziu os fractais, aqueles belos e intrincados desenhos que provam que, independente da escala ou da dimensão, a o fator gerador é sempre uma equação simples, porque as mesmas leis que regem o infinitamente pequeno, regem também o imensamente grande.
A correlação
entre Audiofilia e Caos é velha. Segundo James Gleick (Caos
– A Criação de Uma Nova Ciência),
Mitchell Feigenbaum, um dos pais do Caos e descobridor da Feigenbaum Constant (que explica a periodicidade das segmentações
caóticas), era um audiófilo fanático. Por volta de 1975 “vivia num espaço desnudo, uma cama num cômodo, um computador num outro
e no terceiro, três torres eletrônicas pretas para tocar sua coleção de discos
alemães”. Ou seja, um audiófilo do subgrupo dos vinilistas-musicófilos.
É proveitoso
enxergar nossos setups domésticos como
Sistemas Caóticos. Por exemplo, podemos entender porque uma variação mínima na
química dos capacitores pode produzir mudanças imensas. Ou compreender que a
substituição de um cabo pode alterar o timbre e a qualidade do som. Ou ainda
constatar que a ‘queima’ dos aparelhos modifica
o som. Heráclito, dois mil anos atrás, alertou: “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. Nós também jamais ouvimos
duas vezes o mesmo som, nossos setups
estão mergulhados no fluxo do Tempo, mudam continuamente.
A forma da
Teoria do Caos operar com infinitas variáveis é utilizar os ‘atratores estranhos’. Ou seja, fixar
duas variáveis (ou dois grupos de variáveis) bem conhecidas e analisar como as outras
se comportam. Porque todo fenômenos é como um novelo de interações intensas,
tudo influencia tudo. Aquela revoada de borboletas que abre o texto representa exatamente
isso: gráficos de ‘atratores estranhos’.
Dois polos conhecidos, em torno dos quais todas as inumeráveis variáveis se organizam.
Quando
mexemos nos nossos setups (e até nos problemas
do dia a dia), intuitivamente, utilizamos o conceito de ‘atratores estranhos’. Em geral mudamos um ou dois componentes e preservamos
os demais; depois, com base em itens conhecidos, analisamos as mudanças
observadas. Porque, quando alteramos muitas variáveis a lógica se dissolve,
caímos num vórtice de incertezas, com excesso de dados desconhecidos.
Um aspecto interessante
da relação entre Caos e Audiofilia é observar com os mídias ‘analógicas’ e o
‘digitais’ enfrentam as mudanças provocadas pelo fluxo do Tempo (ver artigo 'A
ESCADA E A RAMPA - O DIGITAL E ANALÓGICO – CD E VINIL', neste Blog - no marcador Audiofilia - para uma
definição ‘audiófila’ desses dois conceitos).
Com as mídias
analógicas (vinil, fita e outras) ocorrem dois desdobramentos curiosos. Primeiro
– a nível microscópico e físico – jamais temos duas cópias idênticas, nunca
temos dois LPs (por exemplo) absolutamente iguais. Segundo, os próprios
registros (sulcos, trilhas magnéticas) se alteram com o tempo. Lembram-se de Heráclito?
Nunca ouvimos a mesma música duas vezes.
Talvez as
mídias analógicas (vinil, rolo...) sejam tão gostosas e cativantes de ouvir porque também
experimentam a roedura do Tempo, como os humanos; e soem diferentes toda vez
que ouvimos.
Em tese, os
códigos digitais estão imunes à passagem do tempo, porque são constructos
inteiramente racionais, sem relação com o mundo físico. Também, como as cópias
são fáceis (em CDs, DVDs e pendrives e outras mídias), podem ser largamente
replicadas e geograficamente espalhadas, sem alteração do conteúdo, as
chances de preservação dos registros são muito maiores.
É importante ressaltar
que Computação séria não existiria sem essa garantia de identidade absoluta, imaginem se aviões
caíssem por alteração dos dados. Quem estudou Informática sabe, que, desde os
massoréticos (antiqüíssimos escribas judeus encarregados da preservação das palavras
de Deus), existem técnicas e artifícios que asseguram a perfeita guarda e recuperação
das informações.
Antes de terminar
é preciso voltar lá atrás, e recuperar o segundo termo da Equação Caótica Insolúvel
da tabela; aquele que vem depois do sinal de igual (=), à variável GP – Gosto
Pessoal – a inconstante universal incontrolável.
A má notícia
é que ele, o Gosto Pessoal, também está sujeito a mudanças sorrateiras e à
nossa revelia. Pior ainda, é regido por sistemas caóticos muito mais complexos
do que os setups: o nosso cérebro e
nossa ‘cabeça’. Com a agravante de, às vezes, serem mais desconhecidos, enganadores,
confusos e velados.
A boa noticia
é que o GP – Gosto Pessoal muda junto conosco, acompanha nossa evolução (ou
involução) e se adapta aos nossos melhoramentos e aprendizagens. Nossa
consciência garante que somos iguais ao nosso GP, completamente idênticos e
indistinguíveis dele.
Assim, neste
mundo de incertezas, as preferências individuais são as únicas certezas que
podem guiar nossa avaliação dos resultados desejados. Elas, apenas elas, devem
indicar o rumo dos nossos setups,
mesmo que a teoria diga o contrário.
Douglas Bock ( ZpinoZ ou Z, nos Fóruns de Audiofilia )
Esta equação caótica insolúvel está errada. O resultado dela é a qualidade de áudio unânime aos ouvidos de quem sabe bem o que é isso. Cabos, sejam quais forem, não entram nesta equação. Não são eles que definem a qualidade de áudio.
ResponderExcluirMuito obrigado pela atenção.
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