Douglas Bock |
Estou convencido de que a memória não se desfaz nem se disforma, pelo contrário, corporifica-se, ganha contorno, permanece, e permanece com os humanos até o dia da morte, amém: intacta, integral, ainda que não constante; já não é mais uma linha acumuladora ascendente nem também desacumuladora descendente; passa a ser senoidal, parte vívida, parte adormecida; o que está adormecido é, não foi, nem é um vir a ser: é, simplesmente é! Até pode estar guardada na parte negativa da senoide, mas lá está, faz parte da integral memória de cada um; chama-se inconsciente!
O neurocientista Michael Gazzaniga descobriu que o hemisfério esquerdo do cérebro dos humanos, “uma de suas finalidades precípuas é encontrar uma razão de ser para o que é percebido. Se não houver uma razão, isto é, se não dispuser de dados que instruam seu raciocínio, procurará as razões de qualquer maneira, e para isso lançará mãos de dados anteriores, fazendo falsas conexões e reproduzindo lembranças distorcidas...” (Andrade, V.M., in “Um diálogo entre a Psicanálise e a Neurociência”). Então, por que o gênio Salvador Dali lançou mão de “falsas conexões” e “lembranças distorcidas” na sua obra pictórica em a qual usa e abusa de um exímio desenho?
Ora,
na minha opinião a “tragédia” de Dali, que lhe punha a sério a esse homem não
tão sério, era o esquecimento; talvez
a tomar o olvido como uma falta grave cujo pecado era preciso purgar; e Dali
tentou purificá-lo desfigurando-o; assim como o marido traído desfigura o rosto
de sua cara-metade com um golpe de navalha... O gênio narcíseo insubmisso é
contrariado por sua tanatomania também narcísea e genial; resultado: figurou
desfigurando. Genial concepção da sensatez do meio-termo: o relógio quase
liquefeito sustentado pela árvore sem vida; a consubstanciação da ilusão do
quase-quase.
Os
humanos somos sempre um quase-quase: o rico a querer ser cada vez mais rico
numa fereza sem-fim: do lucro comum ao lucro máximo, deste ao lucro máximo e
imediato; da exploração do homem pelo homem à exploração de todos os homem por
um único homem; Harry Truman a pousar de deus atribuindo-se o direito de matar
de uma vezada só milhares de pessoas; exploração contra de todas as nações por
uma única nação; Estados Unidos versus o resto do Mundo, e assim a tornar-se
palmatória; que pode invadir, matar, e também pode mortificar via pressão
econômica ou torturar na prisão de Guantánamo quem ousar se manifestar contra o
seu poder de fogo.
Os
imperialistas não são o preguiçoso cavalo gelatinoso de Dali, são de fato as
blasfêmias estadunidense com “dez
chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia” (Apocalipse
13:1); nomes plurais como búfalos, florestas, índios, negros, latinos,
mulçumanos e comunistas.
Tudo
isso na cabeça de um quase louco!
Os Outros Seis
Os Outros Seis
Picasso
GUERNICA - 1937
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Edward Munch
O Grito - 1910
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Rene Magritte
O Filho do Homem - 1964
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Edward Hopper
Os Falcões da Noite (Nighthawks) - 1942
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Frida Kahlo
A Coluna Partida - 1944
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Gustav Klint
O Beijo (Amantes) - 1908
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