A Era do Rádio – ‘Golden Age of Radio’ , 'Old-time Radio', ou ‘Radio Days’ (como no filme de Woody
Allen) – segundo os cronistas, aconteceu entre 1925 e 1950, e alcançou o auge nos
anos 30 e 40. No Brasil, começou e acabou um pouco mais tarde, porém teve desdobramentos,
consequências e significados, sociais, políticos e culturais, semelhantes.
No mundo da Audiofilia, no meio
dos 20 os números começaram a despencar, o comércio de ‘victrolas’ e discos
virou uma flamejante batalha de marketing, repleta de promoções e liquidações.
Estas ações agressivas retardaram o impacto das ondas do Rádio, mas a crise
estourou junto com a Grande Depressão. A mudança de comando e rumos foi assinalada por uma negociação emblemática: a aquisição, em outubro de 1929, da Victor Talking Machine Company
pela RCA-Radio Corporation of America.
Até o Wall Street Crash – através de diversos ‘selos’ e empresas associadas – a Victor era uma potência, líder mundial na produção de toca-discos e discos gravados. Mantinha sob contrato os mais famosos artistas
da época, principalmente da Música Clássica, o mais ‘audiófilo’, sofisticado e
lucrativo segmento do mercado (vide:
1913 – Quanto gastavaum audiófilo com o sistema? e 1925 - 'Overdubbing – Fim da fidelidade nas gravações).
Contudo, o Rádio, alavancado pelas pesquisas militares, crescia vigorosamente, como um tsunami, e empolgava a nação inteira com suas cadeias costa a costa. Proclamava-se como o meio de comunicações mais acessível, importante e estratégico, predominaria no novo século. Em 1919, logo depois da Primeira Guerra, a Marinha e Exército americanos se juntaram à GE-General Eletric, Westinghouse Eletric e outras grandes companhias e fundaram a RCA-Radio Corporation of America, para controlar e garantir a parte ‘gringa’ na anunciada corrida pelas frequências das ondas de rádio.
Contudo, o Rádio, alavancado pelas pesquisas militares, crescia vigorosamente, como um tsunami, e empolgava a nação inteira com suas cadeias costa a costa. Proclamava-se como o meio de comunicações mais acessível, importante e estratégico, predominaria no novo século. Em 1919, logo depois da Primeira Guerra, a Marinha e Exército americanos se juntaram à GE-General Eletric, Westinghouse Eletric e outras grandes companhias e fundaram a RCA-Radio Corporation of America, para controlar e garantir a parte ‘gringa’ na anunciada corrida pelas frequências das ondas de rádio.
David Sarnoff, articulador e
dirigente da RCA (e
futuro inventor da televisão) – antecipando Bill Gates e Steve Jobs, e ensinando ambos como vender
microcomputadores – apologizava que o Rádio era a music-box dos lares americanos, um centro de diversão, cultura e
informação para toda a família, ilimitadas e sem custo. Uma pregação
irresistível, a criação da RCA-Victor
foi uma lição de pragmatismo e antevisão comercial: a RCA
absorveu a Victor;
as estações de rádio suplantaram os discos; e as radiovitrolas, ‘radiolas+victrolas’, engoliram os toca-discos.
Coincidentemente a Edison Records
também encerrou suas atividades em 1929, as vendas eram irrisórias, talvez por
causa das manias do dono. Mais engenheiro do que empresário, não renovava seu
elenco de estrelas e teimava em não gravar Blues e Jazz. Apesar do golpe, a
indústria fonográfica não morreu, todavia a Audiofilia precisou mudar.
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Do lado dos equipamentos, depois do lançamento da radiovitrola – a fusão do rádio com a vitrola – e da incorporação dos auto-falantes e das válvulas
nos projetos, tecnicamente, os aparelhos se estabilizaram por quase duas
décadas. Havia uma profusão de ofertas, vários tipos e modelos de produtos para
todas as necessidades, gostos e bolsos: rádio+vitrola, só rádio ou só vitrola. Alguns
acessíveis e práticos, como a vitrola RCA-Victor Special Model M, objeto de desejo ‘trintage’, desenhada por John Vassos, de alumínio polido com detalhes
vermelhos, elétrica, amplificada e com bateria; outros espalhafatosos e caros como
a Borgia II, uma radiovitrola que permitia a seleção da reprodução: acústica ou
elétrica. Porque, obviamente, alguns proto audiófilos defendiam a supremacia da
amplificação acústica, feita com tubos de 12 metros enrolados, como uma trompa
de orquestra. Progressivamente a função ‘vitrola’ passou a ser, apenas, apreciada
e desejável; porque mandatório mesmo era o rádio – a music box de Sarnoff – presente em 60% dos lares do mundo.
Quanto às mídias, durante o domínio do Rádio, a indústria fonográfica
foi eclipsada, desvirtuada e redirecionada. Em números, conseguiu atingir seu
pico em 1921, com faturamento de US$ 106 milhões; declinou para US$ seis milhões
em 1933; e somente depois de 1945 retornou ao auge (1). Apesar de essencial para
o ramo do entretenimento, nos piores anos, apenas quatro demandas seguravam a
barra das gravadoras:
1) Preparação de programação pré gravada para distribuição para a emissoras de rádio, distantes e de difícil acesso.
2) Suporte sonoro para estúdios cinematográficos no inicio do cinema falado.
3) Vendas oportunísticas de canções de sucessos oriundas do Rádio ou do Cinema. As grandes cadeias de emissora de rádio estavam sempre coligadas a complexos com estúdios e gravadoras.
4) Como os artistas famosos estavam ligados aos complexos de entretenimento, sobrava para as pequenas gravadoras e ‘selos’ explorar a música popular e afro-americana, como Blues, Jazz, Country e outros. Foi através desta vertente que tivemos acesso aos mais tradicionais nomes que hoje conhecemos.
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Os audiófilos mais exigentes da Golden Age of Radio precisavam possuir um bom receptor de rádio, com
excelentes e bem instaladas antenas, e uma sala confortável e silenciosa.
Também tornou-se imprescindível manter um guia da programação radiofônica sempre
atualizado e uma agenda organizada, porque os melhores programas eram
transmitidos em dias e horários fixos, ao vivo e em tempo real. Uma vez que os
discos gravados durante as apresentações serviam apenas para referência e
controle, não tinham refinamento sonoro para garantir uma retransmissão de boa
qualidade (2). Assim, perder a hora de um programa era um desastre definitivo, para aquela récita não haveria reprise em outra ocasião, e raramente seria lançada
em disco. Os ouvintes interessados corriam para o aparelho de rádio, como quem vai
para um teatro, assistir a uma exibição única. Por causa do fuso horário, alguns programas
eram transmitidos ao vivo duas vezes, para costa leste e costa oeste.
Aparentemente, a variedade de escolhas era vasta, diversas estações
concorrentes ofereciam grades de programações variadas e múltiplas atrações. Música
Clássica, Óperas, Big Bands e shows dos melhores artistas, de qualquer gênero,
bastava girar o dial. Sempre o que havia de melhor, porque o Rádio era o
veiculo mais valorizado e popular, preferido pelos anunciantes. Pena que pouca
coisa foi preservada em discos. Além disso, os audiófilos mais sofisticados
podiam encomendar aparelhagem para captar emissoras de outra cidade ou de outro
país, o que aumentava o leque de possibilidades. Havia mais ainda, como
resistir aos dials iluminados dos rádios Zenith, bonitos como os VUs azulados dos McIntoshs?
Box - 85 CDs |
O caso da NBC Symphony Orchestra é exemplar. Um magnífico conjunto de
Música Clássica, constituído pelo ubíquo David Sarnoff, então chairman da NBC-National
Broadcasting Company,
e oferecido ao maestro Arturo Toscanini, que a regeu durante 17 anos. Desde a
estreia, no natal de 1937, até a dissolução em 54, por causa da morte do velho
maestro. A NBC-SO semanalmente apresentava um recital em rede nacional, conduzido, ou
pelo titular, ou por um maestro regente convidado, escolhido entre os melhores
do mundo. Foram quase mil apresentações, sobrou um vasto acervo de gravações,
guardadas nos discos de referência e controle técnico da emissora, de alto
valor documental, porém, infelizmente, de qualidade sofrível.
Se considerarmos o assombroso volume de programas musicas que
foram ao ar durante as décadas da Golden
Age of Radio, relativamente, temos parcos registros desse universo sonoro
perdido. Desafortunadamente, o reduzido material resgatado e publicado é de
baixa qualidade. Ainda bem que depois de 1945 as coisas começam a mudar.
Talvez, os que vivenciaram a explosão da faixa FM, podem fazer
uma ideia mais precisa do foi a Era do Rádio. Durante aqueles anos, a função tuner do receiver era uma dos requisitos
mais importantes do setup.
Notas:
(1) Disruptive Distribution technology in the Music business: A Historical Perspective -
http://dean.ero.com/paper-historical-disruption-in-the-music-business/
http://dean.ero.com/paper-historical-disruption-in-the-music-business/
(2) "In the beginning of the Golden Age, American radio network programs were almost exclusively broadcast live, as the national networks prohibited the airing of recorded programs until the late 1940s because of the inferior sound quality of phonograph discs, the only practical recording medium. As a result, prime-time shows would be performed twice, once for each coast. However, "reference recordings" were made of many programs as they were being broadcast, for review by the sponsor and for the network's own archival purposes."
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