Fui ao CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil ver a Retrospectiva da MARLENE – a diva alemã do cinema antigo. Planejava passar uma tarde curtindo a atriz indecifrável e desaparecida das TVs, mesmo nos canais a cabo regiamente pagos.
Entrei na fila e comecei a ler o programa da mostra. Na capa a foto da homenageada, obviamente em preto e branco – as cores dos estados da alma – com o inseparável cigarro, que, infinitas vezes, nas velhas películas envolvia seu rosto em volutas de deslumbramentos e mistérios.
Umas 20 pessoas esperavam na minha frente, então me entretive com o livreto do evento. Acho que, enquanto estava lendo, fui transportado por um desses
desvãos extratemporais onde o assombro habita, porque quando ergui os olhos das
páginas a fila inteira havia se metamorfoseado.
Contei cinco ‘Woody Allen’s, todos tímidos e desajeitados, tentando entender os desacertos do mundo. Entre eles, um herege
que ousou trocar os famosos óculos de aros pretos por uma finíssima armação de
metal dourado. Devia ser expulso do evento.
Os ‘Alfred Hitchcock’s eram três, com suas reconhecíveis
caras de enfado absoluto e barrigas proeminentes. Pareciam saber que algo
terrível se anunciava e estavam ali para conferir, quem sabe encenar e
dirigir a tragédia iminente.
Me espantou o número de ‘Martin Scorsese’s – sete, com seus
óculos escondendo as sobrancelhas de Groucho Marx. Na verdade acho que alguns
eram o ácido comediante ressuscitado.
Estavam lá o Ingmar Bergman de bermuda; o Pier Paolo
Pasolini de camisa do Corinthians; o Stanley Kubrick e o Roman Polanski chupando sorvetes, e, entre os dois, uma
Lolita lambendo um pirulito. Mais uma imensidão de emanações de célebres atores e diretores, muitos não consegui reconhecer.
Uma constelação de estrelas: meia dúzia de 'Marlene's; várias ‘Greta Garbo’s de olhos grandes e silenciosos; algumas 'Louise
Brook's melindrosas de provocantes cabelos curtos, além de muitas ‘Marilym
Monroe’s e ‘Rita Hayworth’s de vestidos colantes de todas as cores, todas já sem luvas.
Intrigado, e um
pouco preocupado, voltei para o livro tentando – através da leitura – escapar daquele
estado de consciência alterada. De repente me ocorreu uma questão urgente:
- E eu? Pelos
olhos dos outros, quem era?
Eu, retraído, observava
ResponderExcluirE sonhava que
Unsere beide Schatten
Sah'n wie einer aus
Daß wir so lieb uns hatten
Das sah man gleich daraus
Und alle Leute soll'n es seh'n
Wenn wir bei der Laterne steh'n
|: Wie einst Lili Marleen...
Fernando Marchini Dias, penso que, hoje, as pessoas não conseguem mais avaliar o poder de encantamento de Marlene Dietrich.
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ResponderExcluirObrigado pelo comentário e pela visita, Vinho na Net.
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