segunda-feira, 18 de novembro de 2019

6 Tons de Ripley


Patricia Highsmith está entre meus assassinos intelectuais prediletos. Num time em que 5 ou 9 matadores participam de uma corrida em rodizio, Pat ainda mantém o bastão, sobretudo por causa da minissérie que ‘promete’ revisitar toda a Ripliad - as cinco novelas com o personagem Tom Ripley.

Depois de uma carreira secreta da autora em HQ (e um improvável namoro com Stan Lee) rápido virou ícone do cinema. Em 1951 Alfred Hitchcock filmou seu plot ‘Pacto Sinistro' e ela ganhou fama. O primeiro Ripley foi publicado em 1955, em 1960 já migrou para a sala escura. Por seis vezes o criminoso irresistível e simpático foi transportado paras as telas.

1960 - O Sol por Testemunha / René Clément / Alain Delon
(Plein soleil / Purple Noon)

1977 - O Amigo Americano / Wim Wenders / Dennis Hopper
Der amerikanische Freund


1999 - O Talentoso Ripley / Anthony Minghella / Matt Damon
(The Talented Mr. Ripley)

2002 - O Retorno do Talentoso Ripley / Liliana Calvani / John Malkovich
(Ripley's Game)

2005 - Ripley no Limite / Roger Spottiswoode / Barry Pepper
(Ripley Under Ground)

2024 - Ripley / Steven Zaillian / Andrew Scott
(Ripley)


Não estou com a maioria, mas, desse sexteto agridoce, ainda prefiro o filme de 1999. O velho Malko tem uma caixa de mágicas, combina magnificamente a crueldade amoral e impessoal do herói com sua construída elegância dúbia e sua imensa inadequação social. A mão de Liliana Cavani foi firme e delicada. Além de muitas óperas a mestra tem na lista ‘O Porteiro da Noite’, uma biografia de São Francisco e uma minissérie sobre a vida quântica de Einstein.

A minissérie com Andrew Scott vem em segundo, carregada de muitos méritos.

O O ultimo na minha avaliação é Wim Wenders, apesar do Ripley de chapéu cowboy homenageando James Dean?

Rigorosamente as tramas de Pat Highsmith não são novelas policiais, porque antecipadamente sabemos que o assassino é Ripley. Também, em geral, os crimes acontecem por acaso, oportunidade, necessidade e de forma não planejada.

A curtição e fissura é intensificada e transportada para as peripécias de Tom tentando arranjar as coisas para escapar da cadeia e se dar bem. Sim porque ele sempre consegue sair por cima, e, despudoradamente, torcemos para isso.

Tom Ripley é fora dos padrões, não tem (e nem sente falta) da dimensão moral, sua consciência e adaptável (num dos filmes diz que seus remorsos duram três dias). Contudo não é perverso, mantem e respeita uma rigorosa ética pessoal, mesmo que de forma retorcida: 'a vítima - sempre - precisa ter merecido o castigo'.

Praticar um crime para equilibrar as partes é somente um incidente, um aborrecimento operacional, desses que resolvem definitivamente as coisas e equilibram o universo.

Suas transgressões são como as mentiras sociais que utilizamos no dia a dia. Inevitáveis para contornar longas explicações e fugir da intransigência e grosseria latentes das relações humanas. Ao longo dos filmes acabamos aceitando essa lógica enviesada e concordando com ele. 

A vida é mais porosa do que parece, porque depois de ler o tijolo de 800 páginas - ‘A Talentosa Highsmith’ de Joan Schenkar – continuo em dúvida quem é mais complexo: a mutante criatura ou a oscilante criadora.

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