A ‘Última Ceia’ de Leonardo da Vinci é uma inesperada exceção.
Rara e refinada.
O mais conturbado (e talvez o mais reproduzido) dos
trabalhos de Leonardo não se encontra em nenhum museu, é um afresco imenso
pintado na parede do Refeitório da Igreja de Santa Maria delle Grazie em Milão.
Uma imensa ‘tela cinemascope’, tem 8,80 metros de largura por 4,60 de altura.
Ocupa a parede inteira de um vasto salão.
Contudo, a obra pode ser confortavelmente apreciada por
causa do inteligente esquema montado pela igreja mantenedora. São formados
grupos de (+-) 15 pessoas que podem permanecer 15 minutos sozinhos dentro do
refeitório. Tempo suficiente para se deliciar com a fantástica criação do
Mestre de Vinci.
São precauções para evitar multidões (como as que lotam a
Capela Sistina), a agitação poderia comprometer a fragilidade do aventuroso
afresco, muito vulnerável às variações de temperatura, iluminação e qualidade
do ar.
A visitação é feita em média luz, os ingressos são poucos e
precisam ser reservados com muita antecedência. Contudo vale a pena o
privilégio de ver aquela maravilha milagrosamente preservada, com cuidado,
atenção e vagar.
Trata-se de um dos pontos de torção da representação de
imagens na cultura ocidental. A montagem da cena, com todos os comensais do
mesmo lado da mesa foi um toque brilhante do Mestre Leonardo, virou gramática
do olhar, um modo de mostrar reuniões copiado pelo Teatro, Fotografia e Cinema.
A pintura tem uma história acidentada, começando pelas
inadequadas escolhas de técnicas pictóricas adotadas pelo Mestre Leonardo. O
salão passou por guerras, foi um estábulo, uma porta invadiu o espaço da
pintura e os pés dos personagens foram decepados ao longo do tempo. Calamitosas
restaurações foram permitidas, contudo, ainda, e apesar dos percalços, é um
Leonardo, continua sublime.
Ficar defronte um quadro dessa magnitude é um ponto de torção na compreensão das relações entre o tamanho da obra e a proposta do artista. Intuir que a amplitude é uma parte importante do efeito que o autor pretendeu produzir. Não adianta ver fotos, reproduções, filmagens, nada substitui a sensação de apreender o impacto da grandiosidade da pintura, conviver com o original e poder apreciar ao vivo o efeito que a enormidade da obra provoca. provoca.
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