domingo, 7 de julho de 2019

2018/ago/22 – SOZINHO NA 'ÚLTIMA CEIA



Os grandes museus da Europa vivem lotados, é difícil, impossível, apreciar bem e com tranquilidade quaisquer das grandes obras primas e ícones mundiais: 'Monalisa', 'A Ronda Noturna', 'As Meninas', 'Guernica'...

A ‘Última Ceia’ de Leonardo da Vinci é uma exceção. Rara e refinada.

O mais conturbado (e talvez o mais reproduzido) dos trabalhos de Leonardo não se encontra em nenhum museu, é um afresco imenso pintado na parede do Refeitório da Igreja de Santa Maria delle Grazie em Milão. Uma imensa ‘tela cinemascope’, tem 8,80 metros de largura por 4,60 de altura. Ocupa uma parede inteira de um vasto salão.

E a obra pode ser confortavelmente apreciada por causa do inteligente esquema montado pela igreja mantenedora. São formados grupos de (+-) 15 pessoas que podem permanecer sozinhos 15 minutos dentro do refeitório. Tempo suficiente para se deliciar com a fantástica criação do Mestre de Vinci.

São precauções para evitar as multidões (como as que lotam a Capela Sistina), a agitação poderia comprometer a fragilidade do aventuroso afresco, muito vulnerável às variações de temperatura, iluminação e qualidade do ar.

A visitação é feita em média luz e os ingressos são poucos e precisam ser reservados com muita antecedência. Contudo vale a pena o privilégio de ver aquela maravilha milagrosamente preservada, com cuidado, atenção e vagar.

 

Trata-se de um dos pontos de torção da representação de imagens na cultura ocidental. A montagem da cena, com todos os comensais do mesmo lado da mesa foi um toque brilhante do Mestre Leonardo, virou gramática do olhar, um modo de mostrar reuniões copiado pelo Teatro, Fotografia e Cinema.

A pintura tem uma história acidentada, começando pelas inadequadas escolhas de técnicas pictóricas adotadas pelo Mestre Leonardo. O salão passou por guerras, foi um estábulo, uma porta invadiu o espaço da pintura e os pés dos personagens foram decepados ao longo do tempo. Calamitosas restaurações foram permitidas, contudo, ainda, e apesar dos percalços, continua sublime.

Ficar defronte um quadro desse magnitude é um ponto de torção na compreensão das relações entre o tamanho da obra e a proposta do artista. Intuir que a amplitude é uma parte importante do efeito que o autor pretendeu produzir. Não adianta ver fotos, reproduções, filmagens, nada substitui a sensação de apreender o impacto da grandeza da pintura, conviver com o original e poder apreciar ao vivo o efeito que a vastidão da obra provoca.

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