No fim de setembro/2017 visitei o atelier de Angelo Taccari,
importante escultor e ceramista italiano que adotou e foi adotado por São
Paulo. Um prédio antigo e discreto, entre as árvores, na beira da represa Itupararanga
em Ibiúna. Mantido por sua filha – Maria –exatamente como ele o deixou quando mudou
para outra dimensão em 2004.
Havia uma estranheza atemporal suspensa, dessas de filme de
ficção científica e fantasia. Uma singularidade intrigante magicava as obras interrompidas
em vários estágios de completude e espalhadas pelos cômodos do atelier. Apesar
da poeira – a passagem do tempo materializada – não seria espantoso ver o artista,
de repente, entrar pela porta e retomar seu trabalho e paixão.
Um demiurgo que convencia o barro a se transformar em ninfas,
faunos e seres oníricos, cuja alma residia na mistura de culturas e mitos
europeus e brasileiros. Duas dessas obras descontinuadas me provocaram.
Numa delas (Foto 1), uma ninfa, fada, moça emergia (submergia)
de um fundo plano. Imaginei Ofélia, a noiva suicida de Hamlet, sobrenadando na
lenta correnteza de um rio.
Na outra (Foto 2), uma bela escultura de uns 30 centímetros propunha um
desafio disfarçado de licença poética. Ao primeiro olhar mostrava um centauro
carregando uma ninfa, flagrado no momento que se virava para beija-la. Esquisitas
eram as proporções da figura e a cauda caprina, inesperadas e surpreendentes, sugeriam
mais facilmente um fauno grande e quadrúpede montado por uma dríade.
Entretanto, pela tradição, pela imagística clássica, os faunos são sempre bípedes,
então foi inusitado apreciar essa concepção ‘centauriforme’ de um sátiro de
quatro patas.
Gostaria de ver os dois trabalhos terminados. Fico
especulando aonde o mestre os levaria.
Transcrito do Facebook
ResponderExcluirMaria Taccari
19 min · Botucatu, São Paulo ·
Hoje pela manhã recebi esta matéria escrita por um amigo, sobre meu pai. Foi um lindo presente. Fiquei muito feliz!