quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

| A aula peripatética do Prof. José Cavalcante de Sousa |


Nos fins dos anos 70 estudava Filosofia ‘Pura’ na USP, sempre à noite. Durante o dia aprendia Engenharia de Computação, na prática, programando e testando.

Uma das aulas foi especial, extraordinária, inesquecível. Por isso a mantenho cuidadosamente na Dobra 01 da memória. O mestre era o Professor Doutor José Cavalcante de Sousa – o Platão que me foi dado conhecer.

É fácil lembrar-se dele, um refinado helenista. Entre muitas outras coisas, organizador e supervisor do primeiro volume da Coleção ‘Os Pensadores’ da Abril Cultural, sobre os Pré-Socráticos. Um marco na bibliografia filosófica brasileira.

Era uma noite fresca de inverno, talvez agosto, céu limpo. Quando entrou na sala o mestre informou que aquela lição seria especial – peripatética - faríamos uma caminhada.

Saímos do prédio da Filosofia em direção à Praça do Relógio da USP. Um batalhão de vinte e poucas pessoas, embasbacadas, surpresas, levitavam em torno do nosso mentor, donde evolava a perfumada fumaça do cachimbo, mantido aceso por porções de fumo que tirava do bolso do paletó.

Hoje sei que foi um privilegio aprender Platão com o velho Mestre, dezenas de vezes constatei que ele conhecia todos os diálogos de cor, porque eu sempre acompanhava com o livro aberto suas longas citações, sem nenhum erro, as vezes repetidas em grego clássico.

O passeio terminou numa tenda armada no meio do gramado, onde aconteceu o restante da aula.


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