Nos fins dos anos 70 estudava Filosofia ‘Pura’ na USP, sempre à noite. Durante o dia aprendia Engenharia de Computação, na prática, programando e testando.
Uma das aulas foi especial, extraordinária, inesquecível.
Por isso a mantenho cuidadosamente na Dobra 01 da memória. O mestre era o Professor Doutor José
Cavalcante de Sousa – o Platão que me foi dado conhecer.
É fácil lembrar-se dele, um refinado helenista. Entre
muitas outras coisas, organizador e supervisor do primeiro volume da Coleção
‘Os Pensadores’ da Abril Cultural, sobre os Pré-Socráticos. Um marco na bibliografia
filosófica brasileira.
Era uma noite fresca de inverno, talvez agosto, céu limpo.
Quando entrou na sala o mestre informou que aquela lição seria especial – peripatética
- faríamos uma caminhada.
Saímos do prédio da Filosofia em direção à Praça do
Relógio da USP. Um batalhão de vinte e poucas pessoas, embasbacadas, surpresas,
levitavam em torno do nosso mentor, donde evolava a perfumada fumaça do cachimbo,
mantido aceso por porções de fumo que tirava do bolso do paletó.
Hoje sei que foi um privilegio aprender Platão com o
velho Mestre, dezenas de vezes constatei que ele conhecia todos os diálogos de
cor, porque eu sempre acompanhava com o livro aberto suas longas citações, sem
nenhum erro, as vezes repetidas em grego clássico.
O passeio terminou numa tenda armada no meio do gramado, onde
aconteceu o restante da aula.
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