sábado, 8 de junho de 2024

Minhas viagens para “A Ilha dos Mortos”

 

O quadro ‘A Ilha dos Mortos’, pintado por Arnold Böckling em 1880, é um atrator estranho da Cultura Ocidental. Foi visitado por quase todas as artes: Cinema, Teatro, Literatura, Música (Clássica, Rock), Pintura, Games... O próprio autor – em seis anos - retomou o tema outras quatro vezes.

Einstein, Freud, Chamberlain e a maioria dos lares alemães (infelizmente até Hitler) gostavam de ter nas salas e gabinetes uma versão d’A Ilha dos Mortos’ para refletir sobre a finitude da vida.

Gosto muito deste quadro, tive até uma compulsão ‘voyeur’, visitei todos os museus em que as cópias estão expostas. Mas ainda era pouco, PRECISAVA TER MINHA PRÓPIA CÓPIA. Consultei uma empresa europeia: mil euros.

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Um dia, em 2006, na infância da Internet, flanado pela rede, encontrei um anúncio provocador: ‘Copiamos qualquer quadro’. Enviei um e-mail, citando a versão de Berlim.

A resposta veio de uma Faculdade de Artes da China, assinada por Francis Wong. “Fazemos a cópia. De que tamanho?’ Respondi: “Igual a original: 150 x 80 cms”. Três dias depois, “Preço US$ 80. Metade na encomenda, metade na entrega. Trinta dias para o trabalho.” Arrisquei, mandei o primeiro pagamento.

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Uns 60 dias depois comecei a me preocupar com o silêncio. Aos 90, mandei e-mail. “Tudo bem com a minha cópia?”. No dia seguinte: “É férias aqui. Todo mundo está passeando. Mas como está com pressa vamos passar você na frente.” Comecei a me preparar para perder quarentinha.

De repente, semanas depois, um e-mail: “Estou mandando uma foto da cópia. Olhe bem, se gostar são mais 90. Os 40 restantes e 50 para a remessa”. Ampliei, examinei, imprimi, mostrei para amigos. Todos concordavam era uma boa reprodução.

Mandei os 90 e perguntei: “Como vão enviar?” Francis Wong respondeu: “Nós sabemos como fazer as coisas”. Esperei mais calmo. A qualidade da cópia, permitia alguma confiança.

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Vinte dias depois recebi um cano plástico branco de 13 por 90 cms (esses de instalações hidráulicas). Dentro, ainda cheirando a tinta, uma excelente e cintilante tela da famosa pintura ‘A Ilha dos Mortos’, versão Berlim. Francis Wong ainda me prometia um brinde: garantia que quanto mais as tintas secassem, melhor ficaria a pintura. Mas as surpresas ainda não tinham acabado.

A cópia tinha algumas peculiaridades e detalhes inusitados, que fazia dela uma versão originalíssima, absolutamente única do mundo. Engenhosamente escondidas na imagem, por todo o quadro, haviam sutis caricaturas de rostos chineses, que só com muita atenção podem ser descobertos.

Escrevi a Francis Wong agradecendo, especialmente pelo presente secreto.



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