Especialmente Louise Brooks - Pandora, a deusa da transgressão e da ousadia, que, por causa de sua inteligência e autenticidade, foi – premeditadamente – expelida, afastada e colocada na lista negra dos grandes estúdios. Infelizmente, sua carreira ativa foi breve, apenas dez anos, de 1925 a 1935. Deixou poucos filmes, mas todos imprescindíveis.
Apesar da defenestração precoce da telona, e talvez como prova da infalível justiça poética, Louise Brooks se transformou na musa omnipresente que perambula pela memória do cinema. Virou uma entidade elegante, graciosa, difusa e arisca que vaga pelo mundo de luz e celuloide. Sempre poderosa e inimitável segue encantando as sucessivas gerações.
Adolfo Bioy Casares pensava nesta irresistível fêmea do cinema quando escreveu o fantasma da A invenção de Morel, em 1940. Construiu Faustina, a inalcançável mulher-imagem em 3D, inspirado na figura evanescente de Louise Brooks. Que, segundo ele, “desapareceu muito cedo dos filmes”. Alan Resnais, no belíssimo e perturbador O Ano Passado em Marienbad, baseado na novela de Casares, corrobora e retoma esta ideia. Revive a mulher fatal que existe apenas como projeção holográfica, com isso sobrecarrega de irrealidade fantástica sua obra-prima. Delphine Seyrig, a atriz, com seus cabelos curtos, é uma releitura elegante e cambiante da eterna Louise-Pandora.
Lulu se celebrizou como paradigma da melindrosa,
explodiu em logotipos, imagens, releituras e plágios. Se transformou em matriz e inspiração
perpétua para atrizes e artistas de qualquer área. Seu rosto em close, passando da tristeza à alegria, da
seriedade ao sorriso, é uma aula magna de interpretação. No último remake de Grande Gatsby é homenageada – em corpo e alma – por Isla Fisher como uma Pandora loira. Louise Brooks atraiu legiões de imitadoras e fãs, ardorosos, apaixonados ou invejosos. Foi revisitada com carinho, inconsequência, irreverência, ousadia e paixão – até, com aprovação dela própria, nos quadrinhos de Valentina, desenhados por Guido Crepax.
Contudo, o mais interessante da personagem-ícone Louse Brooks, talvez não seja a garota petulante que entrou para a História, mas a intrigante e inesgotável mulher por trás da atriz. Expurgada e interditada pelos estúdios, continuou sua vida agitada, imprevisível e
desafiadora. Foi vendedora de lojas de departamentos, garota de programa para cavalheiros selecionados e
escritora famosa; sobreviveu até 1985.
Mary Louise Brooks, uma moça que veio do Kansas – que não existe mais – experimentou a inusitada e instigante sensação de ver sua criatura crescer e se tornar imensamente maior do que a criadora. Ganhar vida própria e empolgar e formatar a cultura do século XX. Se multiplicar infinitamente, desligada da pessoa real.
Mary Louise Brooks, uma moça que veio do Kansas – que não existe mais – experimentou a inusitada e instigante sensação de ver sua criatura crescer e se tornar imensamente maior do que a criadora. Ganhar vida própria e empolgar e formatar a cultura do século XX. Se multiplicar infinitamente, desligada da pessoa real.
http://youtu.be/uxq3J4D1IqM
ResponderExcluirObrigado pelo dica Clovis Ribeiro, e me perdoe pelo atraso da resposta.
ResponderExcluirValentina, muito instigante.
ResponderExcluirObrigado pela visita Ronaldo
ResponderExcluirUma personagens dos tempos de quebrar paradigmas