terça-feira, 7 de janeiro de 2014

LOUISE BROOKS - Musa Cult do Cinema

Quando pensamos no cinema mudo, imediatamente, dois rostos surgem na cabeça: Louise Brooks e Charles Chaplin. Ambos viraram ícones, emblemas e modelos daquela época romântica. Mais do que isso, de tanto serem citados, Lulu e Carlitos (amantes ocasionais) viraram a musa e o duende, o casal de semideuses protetores da Sétima Arte, então ainda adolescente.

Especialmente Louise Brooks – Pandora, a deusa da transgressão e da ousadia, que, por causa de sua inteligência e autenticidade, foi – premeditada e preventivamente – expelida, afastada e colocada na lista negra dos grandes estúdios. Infelizmente, sua carreira ativa foi breve, apenas dez anos, de 1925 a 1935. Deixou poucos filmes, mas todos imprescindíveis.

Apesar da defenestração precoce da telona, e talvez como prova da infalível justiça poética, Louise Brooks se transformou na musa omnipresente que perambula pela memória do cinema. Virou uma entidade elegante, graciosa, difusa e arisca que vaga pelo mundo de luz e celuloide. Sempre poderosa e inimitável segue encantando as sucessivas gerações.


 Adolfo Bioy Casares pensava nesta irresistível figura do cinema quando escreveu o fantasma da A invenção de Morel, em 1940, construiu Faustina, a inalcançável mulher-imagem em 3D, inspirado na figura evanescente de Louise Brooks. Que, segundo ele, “desapareceu muito cedo dos filmes”. Alan Resnais, no belíssimo e perturbador O Ano Passado em Marienbad, baseado na novela de A.B.Casares, corrobora e retoma esta ideia. Revive a mulher fatal que existe apenas como projeção holográfica, com isso sobrecarrega de irrealidade fantástica sua obra-prima. Delphine Seyrig, a atriz, com seus cabelos curtos, é uma releitura elegante e cambiante da eterna ‘Louise-Pandora’.

Lulu se celebrizou como paradigma da melindrosa, explodiu em logotipos, imagens, releituras e plágios. Transformou-se em matriz e inspiração perpétua para atrizes e artistas de qualquer área. Seu rosto em close, passando da tristeza à alegria, da seriedade ao sorriso, é uma aula magna de interpretação.

 No último remake de Grande Gatsby é homenageada – em corpo e alma – por Isla Fisher como uma Pandora loira.

Louise Brooks atraiu legiões de imitadoras e fãs, ardorosos, apaixonados ou invejosos. Foi revisitada com carinho, inconsequência, irreverência, ousadia e paixão – até, com aprovação dela própria, nos quadrinhos de Valentina, desenhados por Guido Crepax.



 Contudo, o mais interessante da personagem-ícone Louse Brooks, talvez não seja a garota petulante que entrou para a História, mas a intrigante e inesgotável mulher por trás da atriz. Expurgada e interditada pelos estúdios, continuou sua vida agitada, imprevisível e desafiadora. Foi vendedora de lojas de departamentos, garota de programa para cavalheiros selecionados e escritora famosa; sobreviveu até 1985. 

Mary Louise Brooks, uma moça que veio do Kansas que não existe mais experimentou a inusitada e instigante sensação de ver sua criatura crescer e se tornar imensamente maior do que a criadora. Ganhar vida própria e empolgar e formatar a cultura do século XX. Se multiplicar infinitamente, desligada da pessoa real.

Henri Langrois, um curador de cinema francês, mediu com precisão a magnitude da estrela ‘Louise-Pandora’ e cunhou sua avaliação definitiva: "Não existe Garbo. Não existe Dietrich. Existe apenas Louise Brooks". As outras são cópias? De fato perdura uma pouco de Lulu em cada atriz que veio depois dela, inclusive nos movimentos, caras, bocas e irreverências de Marilyn Monroe.

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