MINOTAURO INVERTIDO
Na antiguidade clássica o Minotauro tinha cabeça de touro e corpo de homem, morfologia que sugeria o predomínio da bestialidade. Borges insiste que na ‘Divina Comédia’ Dante trocou os sinais, imaginou um Minotauro invertido, com cabeça humana e corpo de touro, por isso possuidor de livre arbítrio.
BERTRAN DE BORN
Trovador
Provençal de Périgord (Limoges/França), cantava armas, batalhas, guerras e
amores com a mesma paixão.
Dante o
colocou no oitavo círculo do Inferno carregando a própria cabeça decapitada, que
falava por ele. Seu pecado foi promover cizânias entre pais e filhos.
Ezra Pound o perdoou,
apontou suas sutilezas, sugeriu que o poeta acreditava que armas e amores eram
as regras do 'jogo da vida'.
FRANCESCA E PAOLO
A Divina Comédia repete a medieval condenação dos livros.
A Divina Comédia repete a medieval condenação dos livros.
Francesca da Ramini, num casamento arranjando com Giovanni Malatesta, nunca amou o marido. Preferia o cunhado Paolo, que cuidava dela quando o irmão viajava.
Um dia os dois, lendo juntos o livro ‘Lancelot em Prosa’ – que narra a traição de Guinevere, no trecho em que os personagens se beijam, o casal leitor imitou o romance.
O irmão/marido flagrou e matou ambos. Dante colocou os amantes habitando o segundo círculo do Inferno, condenados a girar eternamente no louco vento das paixões, porém permitiu-lhes a felicidade sofrerem juntos.Um dia os dois, lendo juntos o livro ‘Lancelot em Prosa’ – que narra a traição de Guinevere, no trecho em que os personagens se beijam, o casal leitor imitou o romance.
Atraídos pelos poderosos, vivem no fim do Inferno, próximos do próprio Lúcifer. São pecadores impiedosos, oportunistas e broncos. Incapazes de entender sentimentos complexos.
Roubam sempre no plural, multidões ao mesmo tempo. Como são atoleimados raramente se arrependem. Dante mostra que, mesmo cumprindo pena, continuam a pecar pensando que são ‘espertos’.
Com a implantação das Repúblicas a corrupção virou vício institucional, superlativo – pior que os pecados clássicos – muito mais perigosa.
No Inferno de Dante os corruptos são vigiados por onze cisnes decaídos e repugnantes feito abutres.
Condenado pelo florentino ao oitavo círculo do Inferno, deveria vagar eternamente com a cabeça virada para trás, olhando as costas, como castigo por prever o futuro.
Foi o maior
adivinho da antiguidade, mas, porque interrompeu o coito de duas serpentes,
passou sete anos transformado em mulher.
Zeus e Hera
discutindo sobre quem aproveitava melhor o sexo – se homem ou mulher – chamaram Tirésiax
(que já fora ambos) para decidir. Respondeu que era a fêmea, nove vezes mais.
Hera irritada o cegou, Zeus apiedado deu-lhe o dom da profecia.
A pastora contemplativa, citada quatro vezes na Divina Comédia, era amiga de Beatriz, conviviam felizes na eternidade celeste. Foi mãe de José do Egito e Benjamim, transavó de Saul, primeiro rei de Israel. Por mais de 2000 anos permaneceu no Limbo (um lugar sem sofrimento mais corroído pela desesperança). Jesus, depois da ressurreição, a levou para o Paraíso. Curiosamente parece que Lia, sua irmã gêmea e rival (de olhos estranhos,
feito Capitu), foi direto para o Céu. Explique por que isso Dante?
Jorge Luis Borges diz que o ‘Sorriso de Beatriz’ é a mais tocante despedida da Literatura. Infinitamente bela, dolorosa e definitiva. O grande amor de Dante, a primeira (talvez única) vez que a viu, tinha cinco anos. Nunca se falaram. No poema, quando o vate está perdido no Inferno, alertada por Santa Luzia, Beatriz intercede para salva-lo. Pede para Virgílio conduzi-lo até as portas do Paraíso, de onde ela própria o guiará até fim da jornada. Beatriz jamais sorriu para Dante, porque se o fizesse – por causa do esplendor de seu riso – ele viraria cinzas. A última vez que Dante a vê está sorrindo contemplando Deus.
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