Acabei de ler ‘CORROSÃO’ do meu amigo Ricardo Labuto Gondim, de quem sou fã. É uma delícia e um murro na mente. Passei dois dias pensando numa metáfora para falar da estratégia narrativa do livro, encontrei: ‘veladura’.
Técnica de pintura a óleo, aprimorada por Leonardo da Vince, em que a imagem é construída através da aplicação de camadas sucessivas de tinta. Porém uma não se sobrepõe à outra, todas permanecem sempre visíveis e têm algo a dizer. O resultado é o ‘sfumato’. Nunca jamais podemos afirmar que conhecemos um quadro desses, porque à cada olhar, com o tempo, a tela se modifica. Por isso somos apaixonadas pelas mulheres de Ticiano e a Monalisa nos fascina. Permanecem perenemente novas e surpreendentes.
O tema evidente de ‘CORROSÃO’ é uma nave estelar viajando para os confins do sistema solar, que, nas proximidades de Júpiter, encontra uma singularidade, e dentro dela os destroços do Titanic. Sabia disto antes de ler, foi este anzol inusitado que me fisgou. Contudo, como Monalisa não é apenas o retrato de uma donna, o triller também não é só esta extravagância, vai muito mais além. E aí está o fascínio e o perigo do livro. Uma invulgar imagem fractal plotada por veladura, quase uma incongruência cognitiva.
Enumerando camadas (as de consegui perceber, pode haver outras). As fascinantes naves mineradores da saga Alien. Capitão Ahab e a caça de ‘Moby Dick’ transportada para o espaço inteplanetário. A tensão na ponte da nave remete às variadas séries do universo Star Trek. A compulsão para aceitar o desafio das trevas lembra Conrad e Apocalise Now. As citações de músicas clássicas (e o nome do Capitão) sugerem uma trilha sonora de placidez pulsante. Tudo isso dialogando com o tentacular mito do naufrágio do Titanic (uma nova Torre de Babel?) que, depois de tantas interpretações e retomadas, tende para a perpétua incerteza quântica – quanto mais estudado menos entendido.
Contudo, é importante frisar, o empilhamento de camadas não é gratuito, todas são imprescindíveis, melhoram, modificam, esclarecem e complicam o jogo proposto pelo Ricardo Gondim. Na verdade foi o viés indecidível e vário da história que me encantou. Um livro que nunca acaba, porque nunca se fecha, cada um pode escolher a solução que quiser (e mudar se preciso), só depende do holograma em que está vivendo.
Por exemplo, meu livro ainda esta aberto, duas coisa me inquietam: (a) será que Emma emana de Anna? consoantes replicadas são suspeitas; (b) porque Daniel Martinu quando lembra do Rio pensa em Jazz, não em Bossa Nova?
Por exemplo, meu livro ainda esta aberto, duas coisa me inquietam: (a) será que Emma emana de Anna? consoantes replicadas são suspeitas; (b) porque Daniel Martinu quando lembra do Rio pensa em Jazz, não em Bossa Nova?
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