'MACUNAÍMA' já está quase centenário, publicando em 26 de julho de 1928, tem 96 anos. A excepcional e melhor rapsódia modernista de Mário de Andrade, que revisita, mistura e tempera diversas tradições folclóricas brasileiras. Talvez seja muito mais comentado do que lido. Pena.
O fio condutor é um ciclo de lendas dos
índios Macuxis, da região do Monte Roraima (que só o Sebastião Salgado tem
coragem de visitar), contando a saga do personagem título.
Uma entidade importante na história é a “arvore que dá todos os frutos”, a ‘Dzalaúra-Iegue’. Imensa, pródiga e generosa.
Suas ramas mais altas quase tocam o céu.
No livro a árvore mágica é transmigrada
para S.Paulo, cresce no vasto quintal da casa do gigante Piaimã – comedor de gente - metamorfoseado pelo autor
num milionário paulista. Venceslau Pietro Pietra, que roubou a preciosa ‘muiraquitã’,
do herói. Um amuleto mágico e poderoso que permite Macunaíma mudar de forma
física.
Mario de Andrade dá o endereço do gigante malévolo: “Venceslau Pietro Pietra morava num tejupar maravilhoso rodeado de mato no fim da rua Maranhão olhando pra noruega do Pacaembu.”
Dois termos estranhos
rebrilham na frase e magicam o texto: ‘tejupar’ – choça ou palhoça, uma
gostosa ironia para mansão; e ‘noriega’ – ‘terra úmida e sombria na encosta sul de montanha
que recebe pouco sol’ (Houaiss); Uma curiosa descrição do
nosso bairro, chique e antigo.
Vários autores e cronistas apontam a
árvore da foto acima (na esquina das ruas Maranhão e Rio de Janeiro) como a
fonte de inspiração de Mario de Andrade.
Faz muito tempo procuro esta árvore nas
fotos antigas. Minha dúvida é a seguinte: o livro Macunaíma é de 1928 - quase
um século atrás. Será que naquele tempo a árvore já era tão grande, capaz de
incendiar a imaginação do mestre modernista?
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