terça-feira, 27 de julho de 2021

Árvore de Macunaíma


 MACUNAÍMA já está quase centenário, publicando em 26 de julho de 1928, tem 94 anos. É uma excepcional rapsódia modernista de Mário de Andrade que revisita, mistura e tempera diversas tradições folclóricas brasileiras. Talvez seja muito mais comentado do que lido. Pena.

O fio condutor é um ciclo de lendas dos índios Macuxis, da região do Monte Roraima (que só o Sebastião Salgado tem coragem de visitar) contando a saga do personagem título.

Uma entidade importante na história é a “arvore que dá todos os frutos”, a ‘Dzalaúra-Iegue’. Imensa, pródiga e generosa. Suas ramas mais altas quase tocam o céu.

No livro a árvore mágica é transmigrada para S.Paulo, cresce no vasto quintal da casa do gigante Piaimã – comedor de gente - metamorfoseado pelo autor num milionário paulista, Venceslau Pietro Pietra, que roubou a preciosa ‘muiraquitã’, do herói. Um amuleto mágico e poderoso, que permite Macunaima mudar de forma física.

Mario de Andrade dá o endereço do gigante malévolo: Venceslau Pietro Pietra morava num tejupar maravilhoso rodeado de mato no fim da rua Maranhão olhando pra noruega do Pacaembu.”

Dois termos estranhos rebrilham na frase e magicam o texto: ‘tejupar’ – choça ou palhoça, uma gostosa ironia para mansão; e ‘noriega’ – ‘terra úmida e sombria na encosta sul de montanha que recebe pouco sol’ (Houaiss), uma curiosa descrição do nosso bairro, chique e antigo.

Vários autores e cronistas apontam a árvore da foto acima (na esquina das ruas Maranhão e Rio de Janeiro) como a fonte de inspiração de Mario de Andrade.

Faz muito tempo procuro esta árvore nas fotos antigas. Minha dúvida é a seguinte: o livro Macunaíma é de 1928 - quase um século atrás. Será que naquele tempo a árvore já era tão grande, capaz de incendiar a imaginação do mestre modernista?


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