Duas Caminhadas de Mario de Andrade
Sempre ouvimos dizer que Mario de Andrade era um incansável caminhante. Lendo a caudalosa ‘Correspondência - Mario de Andrade & Manuel Bandeira’ (EDUSP – Org. Marcos Antonio de Moraes) por duas vezes o missivista paulistano fala de suas longas peregrinações, curiosamente em horários inesperados.
“Às 4 e 30 acordei sai, dei uma volta enorme, andei pelo
bairro empinado da Casa Verde, eram 8 quando cheguei em casa...”
– A segunda caminhada aconteceu em 13 de julho de 1929.
“No Anhangabaú não se via nada de nada. Só os anúncios e o
farol da Ligth circulando. Fui no cinema, vi umas besteiras, sai no meio e fui
andando. Quando vi estava no Brás. Então voltei procurando caminhos mais
misteriosos, cheguei a ter medo no meio do parque Pedro II, completamente sem
iluminação e com alguns ruídos nas moitas. Depois atravessei o bairro turco e
só quando esbarrei na estrada-de-ferro, vim me encostando nela até a rua Lopes
Chaves.”
Curioso com os relatos do nosso menestrel, apelei para o Google para tentar imaginar os possíveis percursos destas andanças. (vejam mapas na ilustração).
Cada uma das caminhadas – segundo o Google Maps - duraria
cerca de uma hora e meia. Um cálculo aproximado certamente, porque as duas
cidades, de 1930 e 2021, num lapso de quase 100 anos, tornaram-se completamente
diferentes.
Espantosa também era a coragem do nosso Poeta, considerando os horários, será que alguém se arriscaria da repetir sozinho o percurso hoje?
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