segunda-feira, 18 de outubro de 2021

7/set/2019 – Ilha de Ios / Grécia – Cadê o azul poeta?

Ilha de Ios / Grécia – 7/set/2019

Fui até a Ilha grega de IOS conversar com o poeta Homero, que nasceu e está enterrado lá. Diante daquela imensidão de céu e mar invoquei o bardo maior e enunciei a pergunta insubordinada que carregava na cabeça.

"– Poeta, sei que passou muito tempo navegando, incrustado entre o céu e o mar. Escreveu dois livros imensos e imprescindíveis: Ilíada e Odisseia. Me surpreende que neles nenhuma vez mencionou a cor azul. Porque?"

Homero demorou para sobrenadar as distâncias e emergir de seu sono secular. Respondeu lentamente com dicção húmida e rascante, erodida pelas neblinas das memórias.

"– O azul não existe."

"– Como não existe Poeta! Olhe o céu, veja o mar..."

O Poeta gargalhou sinuoso como as ondas, o vento estridulou irônico, as cigarras rechinaram desbragadas.

"– Olhe de novo, como um menino, o céu é somente ar, que não tem cor, e o mar apenas água, incolor. O que tinge tudo são as fantasias do homem moderno, sobrecarregadas e invadidas por infinitas cadeias de conceitos. Saturadas de imagens e certezas instáveis."

Sondei o horizonte azulino, enxerguei um riso sardônico se dissolvendo.


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