Ilha de Ios / Grécia – 7/set/2019
Fui até a Ilha grega de IOS conversar
com o poeta Homero, que nasceu e está enterrado lá. Diante daquela imensidão de
céu e mar invoquei o bardo maior e enunciei a pergunta insubordinada que
carregava na cabeça.
"– Poeta, sei que passou muito
tempo navegando, incrustado entre o céu e o mar. Escreveu dois livros imensos e
imprescindíveis: Ilíada e Odisseia. Me surpreende que neles nenhuma vez
mencionou a cor azul. Porque?"
Homero demorou para sobrenadar as
distâncias e emergir de seu sono secular. Respondeu lentamente com dicção
húmida e rascante, erodida pelas neblinas das memórias.
"– O azul não existe."
"– Como não existe Poeta! Olhe o
céu, veja o mar..."
O Poeta gargalhou sinuoso como as
ondas, o vento estridulou irônico, as cigarras rechinaram desbragadas.
"– Olhe de novo, como um menino, o
céu é somente ar, que não tem cor, e o mar apenas água, incolor. O que tinge
tudo são as fantasias do homem moderno, sobrecarregadas e invadidas por
infinitas cadeias de conceitos. Saturadas de imagens e certezas
instáveis."
Sondei o horizonte azulino, enxerguei
um riso sardônico se dissolvendo.
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