Em Lisboa fui visitar Adamastor, o titã irado e apaixonado, dizem que Fernando e Ricardo Reis gostam de contemplar o Tejo lá do alto.
A vista é viciante, viajamos nela. De repetente o poeta emanou do meu lado, verde-fosforescente, parecia volátil, apressado e eterno.
Falava lentamente, lapidando as palavras com a língua.
- Cresci no Cabo, me desassossegava mais o Adamastor de lá.
- De dentro do espanto comentei.
- Poeta, soube que Ricardo Reis costuma perambular por aqui.
- Ricardo é um radical livre. Na morte eu e meus heterônimos deveríamos nos juntar, mas ele reluta. Avoado e irrequieto gosta de escapulir para o Brasil. É mais fácil encontra-lo perto da biblioteca de seu amigo (dele) Mário de Andrade.
Silenciou e lentamente se dissolveu.
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