sexta-feira, 9 de maio de 2014

O LICEU SALVO DO FOGO


No dia 4 de Fevereiro de 2014 o Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios pegou fogo. Algumas das grandes obras da instituição, principalmente mobiliários, queimaram nas chamas, nunca mais poderão ser apreciadas. Uma perda definitiva.

Entretanto, é impossível apagar o Liceu da cultura paulistana, é quase omnipresente na nossa paisagem urbana, basta paulistar por aí para esbarrar com obras concebidas ou construídas nas suas oficinas: o lustre do saguão do Teatro Municipal; reproduções de célebres esculturas na Praça Buenos Aires; as esquadrias do MASP, o Monumento aos Bandeirantes (Ibirapuera), fundição de quase todas as estátuas monumentais de nossas praças e jardins, e, até, máquinas para bancos 24 horas e registros de água para a Sabesp.

Por exemplo, o altíssimo monumento equestre do Duque de Caxias na Praça Princesa Isabel, na Avenida Rio Branco, é duas vezes obra do Liceu de Artes e Ofícios, foi esculpida por Victor Brecheret, antigo aluno, e fundida nas oficinas da escola. O cavalo do único Duque brasileiro está trotando com um pé levantado, sinal que o guerreiro morreu devido a ferimentos de batalha. Contudo, no caso, deve ter valido mais a lenda e o aviso que todo escultor sabia:


             Estátua de militar montado
             cavalo com pé levantado.
             Faz herói o homenageado,
             facilita receber o combinado.

No século passado, quem não queria ser advogado, médico ou engenheiro, entrava no Liceu. Santos Dumont, Eliseu Visconti, Renina Katz e, vejam só, Adoniram Barbosa, estiveram lá.

Apesar da garantia da esposa do compositor, era difícil de acreditar naquele samba: “com a corda mi, do meu cavaquinho / fiz uma aliança para ela, prova de carinho.” Contudo, parece ser verdade, 0 'Charutinho' possuía competência técnica para produzir aquele mimo para a amada, afinal o Liceu fez dele um metalúrgico ajustador.

Portanto, seu dialeto que juntava palavras de todas as etnias, não resultava da falta de escolaridade, era mais uma homenagem ao povo. Ou pura sacanagem.

2 comentários:

  1. O Adoniran ocultava sua sabedoria sob o manto da boêmia, e foi, ao lado do Paulo Vanzolini (outro que não fazia questão de mostrar seus conhecimentos), um dos nossos grandes filósofos populares, revelando nos seus sambas tipicamente paulistanos, histórias da vida e da "malandragem" desta cidade, que estarão sempre presentes na nossa memória.

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  2. Condordo, Wilson Colocero, Adoniran é um dos inventores da 'paulistanidade'. Pena que está mais na mídia do que, efetivamente, na memoria cultural do povo. Ele mesmo reclamava disso: http://www.paulistando.com.br/2013/04/cade-o-adoniran.html

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