quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Ouvindo a Berliner Philharmonie < a Sala >


Em setembro/2017 tive oportunidade de ouvir a Berliner Philharmonie.

A Sala, porque a Berliner Philharmoniker < orquestra > venho ouvindo com prazer e admiração faz muitas décadas, através de gravações.

No programa – conduzido pelo Maestro Marek Janowsky – constavam duas peças: novidade e garantia. A aposta era ‘Três Prelúdios da Ópera Palestrina’, de Hans Pfizner. Um excelente compositor lírico que, pelos azares da sorte, foi contemporâneo de Richard Strauss e por ele eclipsado. Apesar de vários especialistas listarem esta ópera entre as melhores do século XX. A Quarta Sinfonia de Bruckner era o sucesso garantido.

Foto 1
Estava bastante curioso, a Grande Sala, para 2440 pessoas, tem uma concepção arquitetônica inovadora. São três pentagramas de tamanhos progressivamente maiores que se sobrepõem de maneira irregular, possibilitando a criação de várias plateias e terraços-camarotes em torno do palco. A orquestra ocupa o meio excêntrico desse surpreendente arranjo. Tão inusitado e bonito que a Berliner Philharmoniker Foundation – que cuida da orquestra e da sala – adotou o desenho resultante como seu logotipo. (Foto 1)

Depois da inauguração deste espaço, em 25/10/1963, passaram a falar de vineyard-style / estilo vinhedo, uma vez que os assentos estão dispostos ao redor do palco irregularmente, simulando terraços de parreiras nas encostas das colinas. Um nome bem sacado e apropriado, considerando que nesta solução as uvas têm a melhor exposição ao sol e os espectadores a melhor visão do palco. Este esquema também facilita e otimiza a entrada e saída das pessoas, por isso foi imensamente copiado pelo mundo afora: Sydney, Denver, Leipzig, Los Angeles, Paris e outras. (Foto 2)
Foto 2
No geral a Sala tem o formato de coliseu deformado, com uma pequena arena deslocada no fundo, onde fica a orquestra. Em temos acústicos o evento sonoro tem elevada dispersão e pouca reflexão e retorno. Gosto muito desta proposta para música sinfônica (a vocação principal da casa) e menos para música lírica e de câmara. Estes efeitos, contudo, são corrigidos e mitigados por dezenas de placas suspensas – lembrando imensas velas enfunadas – distribuídas pelo vasto vão entre a plateia e o teto. O recursos é bonito e a solução é boa, tanto que a maioria dos artigos sobre o novo hall ressalta a excelência da acústica obtida. (Foto 3)
Foto 3
Uma das mais perfeitas acústicas que já ouvi – e várias vezes – foi no Carnegie Hall de Nova York, que, com imaginação e licença poética, lembra uma concha de caracol, com o palco no lado mais vasto e os assentos subindo em escada. O esquema resolve satisfatoriamente tanto a dispersão quanto a reflexão dos sons, Mais ainda, abriga com qualidade aceitatável apresentações sinfônicas, líricas e de câmera.

O senão da Carnegie Hall é a visibilidade a distância do palco que são críticas dependendo do lugar ocupado. Pensando nisso, na Berliner Philharmonie comprei ingressos para um camarote perto do paco, o que foi um luxo, porque o projeto da Sala alemã equaciona muito bem estes dois quesitos. O complexo também possui uma Sala para Música de Câmera com 1180 cadeiras, que infelizmente não conheci.

Sobre a Palestrina de Hans Pfizner, que chorava suas magoas para a saliente e saltitante viúva de Mahler, recomendo a versão da Bavarian State Opera de 1951, regida por Robert Heger – Opera D'Oro. (Foto 4)

Foto 4




Um comentário:

  1. Trancrito do Facebook.
    Holbein Menezes – O 'som' da sala. Douglas, o som da sala! porque até a orquestra não é AINDA a música, ISSO nos termos da compreensão do perfeccionista maestro Sergiu Celibidache; e parodiando-o no grito com que se dirigiu a um músico da Orquestra num ensaio da peça 'Till Eulenspigel', de Richard Strauss, com a Orquestra da rádio de Stuttgart: gritou em alemão antieufônico Celibidache: "A primeira trompa está a ler a nota e nota não é ainda música, Senhor!". Pois. A sala não é ainda a música... ainda mais se se considerar, meu Querido Amigo Douglas Bock, que ao seu ouvido, da posição que em que a foto mostra você, daí só 11% do som lhe chegava direto, 89% fora 'som refletido da sala"... nas medições do Engenheiro Amar Bose... em que pese tais manifestações indicarem muito mais inveja nossa de cada dia por não ter o privilégio de estar em seu lugar. Por isso, parabéns, Garoto! Você é dos poucos sortudos brasileiros que têm, e mereceu, tal prazer.

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