sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O Último Concerto (A Late Quartet)


Tudo depois deste parágrafo é suspeito e exagerado, porque sou adicto de Quartetos de Cordas.

Assisti ao filme O Último Concerto (A Late Quartet),  que mostra as turbulências – artísticas e pessoais – de um conjunto de Música de Câmara, o ‘Quarteto de Cordas Fugue’, quando um de seus membros, o cellista, contrai Parkinson.

‘Quarteto de Cordas’ é um nome propenso a confusão, tanto pode se referir à forma musical, quanto ao conjunto que a executa. Em todo caso, o titulo original do filme é bonito e sutil, lembra os ‘Late Quartets’ de Beethoven, os quatro quartetos tardios, os últimos compostos pelo alemão, considerados o apogeu dessa modalidade musical.


Por exemplo, o romance Contraponto, de Aldous Huxley, um marco da Literatura Moderna, acaba com o personagem pirncipal se suicidando ao som da Canção Lidia, parte dos 'Late Quartets'.

Quartetos de Cordas é a segmento mais refinado da Música de Câmara. É raríssimo um grande compositor que não tenha se arriscado ao menos uma vez nesta forma exigente. Debussy, Ravel, Richard Strauss, Wagner, entre outros, deixaram Quartetos solitários, ás vezes incompletos.

O primeiro violino do 'Quarteto Fugue', o interprete perfeito, diz: "Quando os maiores compositores querem expressar os mais sinceros pensamentos, sentimentos, ir ao fundo de suas almas, e sempre dessa forma. Sempre, sempre o Quarteto. Se forem corajosos o bastante...". Antes de ser beijado pela 'Lolita' Alex. filha do segundo violino e da viola. Pois é, as tribulações dos gênios não são geniais, são ridículas e prosaicas como a de todo mundo. 

Um grupo de Quarteto de Cordas é formado por dois violinos, uma viola e um violoncelo. Idealmente todos virtuoses, porque cada  instrumento é crucial na composição. Os quatro atores do filme também são virtuoses – Catherine Keener, Christopher Walken, Philip Seymour Hoffman e Mark Ivanir. Todos sabiam que participavam de uma produção premeditadamente ‘cult’, portanto modularam suas interpretações com cuidado, maestria e discrição. Privilegiando o coletivo, não o brilho pessoal, exatamente como recomendado nos Quartetos de Cordas. Os quatro estão obsessivamente afinados.

A consolidação da forma Quarteto de Cordas é atribuída a Haydn, porém vinha sendo experimentada e aprimorada muito antes dele. No livro The String Quartet – A History, Paul Griffiths diz que a modalidade floresceu paralelamente aos pianos, quando a Música saiu das igrejas e castelos e invadiu as casas burguesas.

As Sinfonias e Concertos eram executadas por orquestras, assim os Quartetos de Cordas logo ganharam multidões de adeptos, podiam ser tocados em recitais domésticos. Os primeiros quartetos de Schubert foram compostos para diversão domingueira da família do autor.  Compositores normalmente usam a forma para experimentos e rascunhos de futuras Sinfonias (Shostakovich, Villa-Lobos).

Um conjunto de Quarteto de Cordas é um casamento quádruplo, um quatrilho. A convivência é complicada, um milagre quando dá certo. O filme narra a busca deste equilíbrio precário e sempre provisório pelos componentes, arrostados por interesses monetários, relações emocionais e excesso de convivência íntima.

No filme tudo acontece na cena de Música de Câmera de Nova York. Mas é só um exemplo, os mesmos dramas, junções e separações acontecem todo o tempo em Bandas de Rock, famosas e de garagem.

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