Quem se detém defronte os quadros mais famosos da História da Pintura Ocidental, como Guernica de Picasso e As Meninas de Velasquez, sente e entende a 'aura', aquele perpétuo crepitar da inteligência e êxtase de que fala Walter Benjamin.
As duas telas são largamente
conhecidas e infinitamente reproduzidas (em livros e na Internet). Também é
fácil encontrar todo tipo de fotos e ampliações de detalhes e peculiaridades
publicadas. Contudo, nada disso se compara com o sentimento de deslumbramento, encantamento e reverência de estar diante dos originais.
Guernica e As Meninas impressionam pela grandiosidade. Vêm-se
coisas,
camadas, texturas e detalhes nas telas – com as dimensões propostas pelos autores – impossíveis de serem observadas nas reproduções ou fotografias.
camadas, texturas e detalhes nas telas – com as dimensões propostas pelos autores – impossíveis de serem observadas nas reproduções ou fotografias.
Obviamente que existe grande prazer em admirar estas
pinturas através de livros e monitores. Mas é uma vivência diferente, feito música
ao vivo versus gravações.
Walter Benjamin, o filósofo mártir judeu alemão, no ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica analisa o fenômeno
da ‘aura’ que cerca as obras de arte. Argumenta que quando mais o original é
reproduzido, mais perde o ‘véu sagrado’
que o envolve. Os grandes museus do mundo sabem disso e vendem exatamente esta 'vivência
transcendental frente ao original'. Por isso estão cada vez mais superlotados.
Benjamin explica ainda que o Teatro consegue manter essa ‘sacralidade',
porque, à cada representação, os atores físicos presentes recriam a mágica da ‘aura’. No Cinema isso não acontece, porque a câmara e o projetor são aparatos mortos (máquinas) que não são capazes de captar e portar esse ‘véu
sagrado’.
Aí entra a publicidade e os produtores de espetáculo que sabem disso e
gastam fortunas tentando ‘mitificar’ os astros e estrelas. As grandes turnês das
bandas também negociam a ‘aura’ dos músicos. O que a espectador compra não é o som, mais a proximidade com o ídolo e, sobretudo, a ‘sacralidade’ da presença do ídolo, intensificada
pela propaganda.
Este é uma bela e inteligente maneira de mostrar os paralelos conceitos do que é reprodução ou reproduzir estímulos visuais de símbolos e signos da cultura nos vários nichos -- pictóricos, teatral, cuja gramática é a palavra em sua expressão dramática, cinema: em que é a imagem em movimento e seus planos e tomadas os elementos que trazem o envolvimento emocional do apreciador da sétima arte, e, por fim, a performance dos cantores populares a envolver os seus fãs na sua arte do canto e interpretação das canções a explorar sentimentos. Sim, todos envolvendo o sentimento que é a forma de interpretação da realidade artística pela emoção. Dessas, verifica-se a diferença gramatical de cada uma dessas artes se distinguem e, por consequência se explora o estímulo ao desejo de ver em sua plenitude. Apenas o cinema não se faz apelar pelos seus intérpretes por se tratar de imagens em movimentos que mecanicamente (por máquinas, se repetem, jamais pelos intérpretes). E em cada uma demonstrando o valor de sua reprodução para os fãs, em cuja carências não se dá ao ator cinematográfico nem ao cantor popular a não ser única e exclusivamente pelo marketing dirigido a eles. A pictórica se faz à arte em si e ao autor da obra. O teatro à dramaturgia e a interpretação da obra que também reforça o valor do trabalho. O cinema apenas a repetição mecânica. O cantor apenas ao carisma. Mas o pior a ser feito á à apelação de programas "voieur" em cuja expectativa está na sordidez do comportamento privado que se faz público, para o deleite do espírito libertino.
ResponderExcluirNão sei bem, Carlos Gonçalves, como isso acontece na Literatura, especificamente nos Romances, Contos e Crônicas. Será que a ‘aura’ é aquela abdução emocional que acontece durante a leitura?
ResponderExcluirNa Poesia, Platão, no diálogo ‘Ion’, sugere que a ‘aura’ se renova a cada vez que os versos são declamados. Mas sobra a questão, da Poesia Moderna. Que, depois de Mallarmé, é feita para ler lida em papel.
Bom, você é do ramo e tem toda os recursos e entendimento a respeito. Eu sou apenas um amante da Literatura em geral. É certo que a poesia quando declamada ou lida, em cada vez, pode revelar novos sentidos ao sentimento de cada leitura, dependendo do estado de quem o ler e/ou recita. Lida em interpretação você próprio me indus ao sentimento de poder ser diferente.
ResponderExcluirO certo, acho eu, é que a interpretação faz o ator emprestar as suas emoções ao evento e ao sentido que o autor quis para o tema, enredo, e as suas injunções. Entretanto, uma coisa é o que concebe o criador, outro, o que percebe o intérprete. São sujeitos diferentes sentindo de maneira diversa sobre o mesmo evento. Toda obra é fruto da concepção do criador. A percepção de quem ler ou interpreta possui uma certa intimidade com ele próprio e não com o autor. A sua fidelidade é própria de si mesmo. penso eu, não acha?!
Como dizem os maestros:
ResponderExcluirna partitura existem muitas músicas.