quinta-feira, 20 de março de 2014

SANTA EMÍLIA, Um Edifício Vaidoso


Existem duas maneiras de conhecer S. Paulo, como motorista/passageiro ou como pedestre. Quem dirige, anda de ônibus ou pega carona presta atenção no Obelisco do Ibirapuera, no Monumento das Bandeiras, na Ponte Estaiada, no setor hitech da Berrini, enfim nas coisas grandiosas. Contudo perde as peculiaridades, os detalhes e as maravilhas escondidas na paisagem menor que passa rápida demais pela janela.

É preciso alterar a alma, mudar para o 'mode' pedestre para 
paulistar de verdade. Poder visitar todas as esquinas e cantos, descobrir os mistérios e as belezas miúdas, tímidas e sutis espalhadas pela cidade.

Um amigo francês dizia que parisienses e paulistas compartilham da mesma carência fundamental: nenhuma das duas cidades têm mar, nem montanhas, nem grandes acidentes geográficos. Por consequência as duas capitais aprenderam a curtir e a sobrevalorizar a paisagem urbana e humana. Dos dois lados do oceano adoramos tirar férias e visitar lugares exóticos e exuberantes, porém logo nos cansamos dos cenários espetaculares e queremos voltar para a convivência densa, a agitação, a diversidade e a efervescência de uma 'vila' feita para se viver nela, dentro das dimensões das pessoas. Apesar dos objeções e confusões.

Marin Alsop, a ex maestrina da Osesp  nova-iorquina e cosmopolita, disse que o encanto de S.Paulo está no inesperado, no imprevisível e na surpresa constante (veja: A BELEZA DOS DETALHES no Blog Paulistando). De repente, dobra-se uma esquina e recebemos de presente alguma coisa mágica, deslumbrante, que não existe em nenhum outro lugar do mundo. paulistanices.

S. Paulo é uma cidade de belezas miúdas, enfeitadas e transfiguradas. Desde que o espírito bandeirante aquietou e viramos fazendeiros, tropeiros e paulistanos resolvemos intervir na paisagem e enfeitar sua nossa capital. Começou pelo Obelisco do Piques – nosso primeiro enfeite oficial (veja: OBELISCO DO PIQUES - MEMORIA, HISTÓRIA - idem). Depois o poder público secou brejos, retificou córregos e rios, construiu viadutos, terraplanou encostas e distribuiu monumentos pelas ruas e praças. Os religiosos construíram catedrais, basílicas e igrejas, cada vez mais bonitas. Milionários ergueram palacetes e edifícios comerciais.

O povo gostava do que via, acompanhou e imitou a onda de embelezamento. Passeando pelos bairros encontramos as mais desbragadas ousadias imobiliárias. Cada cidadão deu o que pôde para provar seu amor por S. Paulo.

Na condição de pedestres nos deparamos com milhares de extravagâncias que evidenciam a orgulhosa faceirice paulista. Cada achado faz vibrar as velhas fibras do coração e travar na garganta a emoção. Por exemplo, na Rua Veiga Filho, 105 (vizinho ao Shopping Pátio Higienópolis), Edifício Santa Emíliavaidoso e humilde, exibe na calçada seu próprio retrato.

Pena que depois do Quarto Centenário perdemos o rumo e o senso. Algum demônio da História nos roubou o bom gosto pedestre, entregamos a cidade para os carros e derrapamos no exagero. Tudo começou a degringolar e congestionar.



2 comentários:

  1. Em Higienópolis há mais alguns edifícios "irmãos" em estilo do Santa Emília, e isso estende-se um pouco até Santa Cecília. É um dos bairros mais charmosos de São Paulo, e tranquilo para andar a pé, pois a segurança na maioria das portarias é muito grande. Bairro lindo e tradicional!

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  2. Wilson Colocero, este desenho de prédio foi muito usado em SP. Uma das minhas tarefas futuras será fotografar irmãos gêmeos dele e publicar.

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